XLVII.

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Parafuso e Chave de
Fenda, Ketchup e
Hambúrguer
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A estátua, pelo visto, não gostava muito de gregos. Gostava menos ainda de gregos à bordo de um trirreme grego extremamente bélico.

Em resumo, nós éramos a síntese de todos os pesadelos do dito Término.

Argos estava parado exatamente sobre Nova Roma, pairando sobre as cabeças mortais daqueles semideuses prontos para fazerem espetinhos nossos. Enquanto o deus-estátua-sem-braços falava sem parar sobre regras, armas e gregos traidores. Bom. Isso tinha perdido a graça cinco minutos atrás.

── O chicote fica aqui, filha de Ares. ── Ele disse para mim, o mármore do seu rosto se contorcendo em desagrado. ── Não vou aceitar gracinhas sua, ou vou eu mesmo estapeá-la.

Eu quis rir, mas me contive ao ver o claro olhar repreensor de Judy, Piper e Annabeth ── elas três eram forças da natureza e eu não era maluca o suficiente para irritá-las (mesmo uma sem noção como eu tem seus limites de burrice) ──.

── Tudo bem, senhor Início. Estou sentindo seu tapa fantasma agora mesmo no meu rosto. ── Um resmungo cansado veio de Judy, ela provavelmente queria me esfaquear. O Garoto em Chamas arqueou a sobrancelha para o apelido, depois acabou rindo baixo. ── Me sinto envergonhada com minha falta de modos, acho que vou chorar no banho com tamanho desrespeito cometido.

Ele ia rebater. Então Dory se aproximou para tentar resolver na base da diplomacia o problema que só alguém com um rostinho tão bonitinho e um cérebro incrível poderia resolver. Ao menos meus companheiros de viagem não são cretinos que não conseguem segurar a língua como eu, isso é bom, porque ainda não sei como ninguém arrancou minha cabeça por todas as merdas que eu falo.

Conversa vai, conversa vem, algumas ameaças aqui e outras ali.

A Bonitinha e eu ganhamos a tarefa de procurar a escada feita com cordas num quartinho de tamanho de um armário, era pequeno e apertado, além de ter todos os tipos de coisas que poderíamos precisar colocados nas prateleiras.

── Quais as chances de acabar nos dando mal nessa visita amigável? ── ela falou baixo, claramente com medo do deus-estátua-pirado nos ouvir.

── 87%, em um cenário muito, muito bom. ── eu estava sendo, de longe, muito otimista nessa contagem.

Ela concordou, sem parecer realmente surpresa com a nossa baixa expectativa de sucesso. Os romanos estariam tão desarmados quanto nós, mas eu passei tempo suficiente com os meus irmãozinhos neandertais para saber que armas nem sempre são necessárias para destruir alguém. Já vi Tracy, uma garotinha de doze anos, usando a mangueira de irrigação dos campos de morango para enforcar um outro filho de Ares duas vezes maior ── preciso três dos nossos irmãos para tirar a pestinha de cima dele, infelizmente ninguém morreu ──. Seria fácil simplesmente nos apedrejar, ou colocar numa cruz, ou qualquer uma dessas mortes tipicamente dolorosas.

── Isso é motivador, sem dúvidas. ── o tom de voz da Bonitinha indicava que ela pensava exatamente o contrário.

Assim, voltamos à área aberta, onde a estátua pirada nos esperava ── supunha que ele deveria estar cruzandos os braços imaginários e batendo os pés, também imaginários, no chão com impaciência caso pudesse. Ele provavelmente seria a contraparte romana do treinador Hedge ── ambos resmunguentos, ambos mal-humorados, ambos malucos de pedra.

Prender a escadinha na borda do nosso barquinho foi rápido. Nos entreolhamos numa pergunta muda de quem iria descer primeiro, e me lembrei das ocasiões onde professores procuravam voluntários para responder questões e todos só faltavam se esconder sob as mesas.

𝐓𝐇𝐄 𝐄𝐈𝐆𝐇𝐓𝐇 𝐂𝐀𝐍𝐃𝐋𝐄 ▪ LEO VALDEZOnde histórias criam vida. Descubra agora