II.

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𝐨𝐧𝐝𝐞 𝐝𝐞𝐬𝐜𝐮𝐛𝐫𝐨 𝐪𝐮𝐞 𝐦𝐢𝐧𝐡𝐚
  𝐚𝐦𝐢𝐠𝐚 𝐭𝐞𝐦 𝐩𝐞𝐫𝐧𝐚𝐬 𝐝𝐞 𝐛𝐨𝐝𝐞  
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Suada, cansada, confusa e prestes a morrer.

Parece algo exagerado, eu sei, mesmo assim nunca encontraria palavras melhores para descrever minha atual situação.

Veja bem, estava eu e minha fiel escudeira andando calmamente pelo shopping, ambas de buchinho cheio de carboidratos comidos na praça de alimentação, quando vi uma vitrine magnífica cheia de roupas novas. Obviamente, o cartão de limite quase infinito coçou para ser usado. Judy reclamou muito, porém ninguém seria capaz de tirar Verônica Rose Beauregard daquela loja sem antes esvaziar os cabides e estourar o limite do cartão.

A atendente era uma fofa, atenciosa e com um senso de moda incrível. Underwood franzia o senho diversas vezes, mexia no nariz e reclamava de um suposto cheiro que fui incapaz de sentir. Coisa de maluca, só pode, ou talvez fosse um pretesto para irmos embora.

Tudo bem, existia algo estranho naquela mulher -  provavelmente o pedaço de feijão preso no dente que me impedia de encarar o rosto dela.

— Vamos sair daqui logo, você nem precisa desses sapatos caros e roupas extravagantes. — sussurrou baixinho. — A metade delas ainda tem a etiqueta e nunca foram usadas.

— Verão passado, Honey. Modas mudam tão rápido quanto as estações, aquilo lá é antiquado.

— É sério, Ronie, sinto que algo vai dar muito errado. — puxou delicadamente meu pulso.

Se tivesse ouvido os conselhos dela, provavelmente teria evitado vários problemas futuros.

— O que pode dar de errado em fazer simples compras?

Obviamente, você nunca deve dizer essa pergunta, geralmente o universo entende a frase como um “ Estou entediada, minha vida está muito boa, mande um problema pra foder minha existência e me fazer pensar em pular de um penhasco.”

Ai eu respondo, pessoa com quem converso na minha imaginação: se algo pode dar errado, tenha à certeza de que vai dar errado. Muito errado.

Passava minhas infinitas compras no caixa, Judith segurava algumas delas enquanto eu vasculhava minha bolsa procurando o lugar onde coloquei o cartão. Com o objeto em mãos e tendo pagado a pequena fortuna em mimos - talvez um pouco desnecessários, confesso - saímos do lugar, pretendendo ir ao estacionamento encontrar meu motorista para guardar as sacolas.

Lá pelo meio do caminho senti a garota ao meu lado puxar meu braço, ela olhava de um lado à outro de forma paranóica.

— Pelo amor de Cher! Pare de agir feito maluca Judy, daqui a pouco alguém vai perguntar de qual hospício eu te tirei. — tentei tirar o braço dela do meu, em vão.

Descíamos a escada - nunca mais voltaria naquele shopping chinfrim que não investia em manutenção dos elevadores - quando uma voz estranha falou:

— Escute sua amiga Judy, Ronie . — uma mulher falava, tom rouco e ameaçador detectado. — Deveriam ter saido o mais rápido que podiam, porém é tarde agora. Uma verdadeira lástima.

Era a vendedora da loja, nos mesmos trajes de antes, mas agora estampando um sorriso que mostrava todos os dentes - inclusive o pedaço de feijão. Ela carregava uma bolsa laranja com um buldogue dentro.

— A senhora deveria estar na loja, certo? O horário de almoço começa cedo aqui — perguntei soando inocente e casual. — Ouve algum problema com o cartão? Tenho outro guardado, posso pagar por todas as roupas da lojinha, acredite.

𝐓𝐇𝐄 𝐄𝐈𝐆𝐇𝐓𝐇 𝐂𝐀𝐍𝐃𝐋𝐄 ▪ LEO VALDEZOnde histórias criam vida. Descubra agora