XLI.

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⊱⋅ ──────────── ⋅⊰Dory deveria abrir acrechê do titio Jason⊱⋅ ──────────── ⋅⊰

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Dory deveria abrir a
crechê do titio Jason
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Estava no berço, tentando mastigar meu próprio pé, quando vi a mesma divindade irritante a qual apareceu para mim no bueiro perto da loja de Medéia: Ares, ou papai, depende do ponto de vista. Usava as mesmas roupas de sempre, o colete a prova de balas, as armas que iam de espadas à tacos de beisebol pendurados no corpo grande, porém não tinha a motoca dessa vez, supus que por não caber no quarto.

Nessa hora, vendo minha eu infantil e o meu pai desnaturado, notei estar em algum tipo de sonho profético esquisito de semideus. Ótimo, nem em sonhos tenho descanso.

Ele não usava os óculos escuros, mostrando as orbes inteiramente pretas com chamas dançando nelas ── Brega. Assustador, mas ainda sim brega ──. A eu pirralhinha apenas tirou o pé da boca, sorrindo um sorriso sem dentes, soltando aqueles sons fofos que bebês geralmente soltam e esticando os bracinhos como se exigindo ir para o colo do desconhecido. Dá para perceber que nunca fui lá a criatura mais inteligente do mundo, certo?

Ainda fica mais estranho, acredite.

Como no momento que Ares realmente pega o bebê ── euzinha ── no colo. Não pude deixar de pensar que ele segurava uma criança como quem seguraria um rifle. A divindade dos Barracos olhou a criatura nos braços e resmungou algo sobre "salvar o mundo, destruir monstros, orgulhar Ares e outras baboseiras típicas". Depois, passou a mão grande nos poucos fios de cabelo mais dourados que alaranjados sob a luz do abajur.

Se alguém me contasse essa história, provavelmente não acreditaria. No entanto, eu sabia não ser só sonho. Era uma lembrança, daquelas bem, bem escondidas no fundo do subconsciente.

A porta clara do quarto se abriu, a mulher na casa dos sessenta tinha os cabelos ruivos salpicados com poucos fios brancos. Usava o fiel conjunto de grife, combinando perfeitamente com o colar de pedra azul-esverdeada e os brincos tão caros quanto apartamentos populares. Ela lançou um olhar debochado ao deus, como a rainha olhando os súditos no alto do trono.

Essa era vovó, com uns quinze anos a menos, na época que o cabelo dela ainda não estava totalmente branco ── aparentemente ela falava sério ao dizer que fui eu a responsável por causar a perca de cor nos fios.

── As pessoas civilizadas e educadas costumam usar a porta para entrar nas casas alheias, Lorde Ares. ── o título final foi dito com sarcasmo palpável. ── Embora não ache que possa usar nenhum dos dois adjetivos com você.

É, agora sei de onde vem a minha falta de noção de perigo

── Você envelheceu, garotinha, a idade deveria ter lhe posto mais respeito aos deuses. ── o rosnado não assustou ninguém, nem à velha, nem ao bebê rindo no colo dele.

𝐓𝐇𝐄 𝐄𝐈𝐆𝐇𝐓𝐇 𝐂𝐀𝐍𝐃𝐋𝐄 ▪ LEO VALDEZOnde histórias criam vida. Descubra agora