LIII.

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Ih, alá, outra deusa
aparecendo pra ferrar
nossa vida
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Arion era uma cavalo muito, muito rápido. Disso não tenho dúvidas. Na verdade, se colocassemos uma roupinha vermelha e amarela nele, seria fácil fazer um cosplay animal do Flash. Galopar nele dava a mesma sensação de morte eminente que andar de carro com vovó ── a velha deveria apostar um racha com o projeto de Spirit.


O bichinho conseguia correr mesmo sobre o lago, transformando a água em vapor enquanto passava. Alguns poucos respingos caiam em mim, com a força de pequenas pedrinhas e eu estava dividida entre a sensação incrível do passeio, o medo, e a irritação pelo cabelo insistir em sair da trança e chicotear no meu rosto o tempo inteiro.

Nossa Senhora das Patricinhas sem Shopping que me ajude a desembaraçar essa coisa depois.

A menina dos cachinhos dourados, Hazel, parecia rir enquanto montava. Feliz como porco na lama ── ou como vovó diz: como Verônica numa loja ──. Ela era fofa, mesmo com todas as partes estranhas da sua vida. Porquê, sim, Percy Fofoqueiro Jackson fez questão de contar sobre toda a odisséia que a garota passou nos anos quarenta (envolvia a Rainha da Sucata, morte, sangue, dor, sofrimento e algo como ressurreição).

É, confuso. Eu deixei de tentar encontrar lógica nas coisas quando vi as pernas peludas de Judy.

Mas, voltemos ao foco. Sim, sim, a missão.

Era simples, na verdade. Ou deveria ser, já que provavelmente alguma coisa vai acabar dando errado como sempre dá. Pagamos cal, achamos bronze celestial e picamos a mula ── ou cavalo, tanto faz ──. Todos saem bem e vivos.

Na teoria, claro. A prática são outros quinhentos.

Observei a estranha cena de Hazel dispensando seu cavalo, dizendo que ele tentaria buscar ouro para comer e explicando para Leo que não era muito difícil para ela encontrar metais. Supus ser algo relacionado ao pai divino dela, Plutão ── não o confundam com Platão! ──. Queria eu ter facilidades com pedras preciosas.

Resolvi me manter ao menos dois passos afastada deles, o motivo nem mesmo sei porquê. A maneira como a Cachinhos Dourados olhava meu namorado era estranha, lembrava um pouco o modo como eu o olhava. Mas com muito mais saudades, e até certa esperança. Tentei ignorar, me concentrando nos gritos e discussões entre Ares e Marte, que brigavam sobre o modo mais eficaz de matar alguém. Agradeci mentalmente pela distração bem-vinda.

Quem diria, B1 e B2 ajudando em algo.

Suspirei olhando ao redor. A ilhazinha, para nossa sorte, tinha cal para dar e vender ── nesse caso, apenas dar mesmo, deixei meus dracmas e o cartão de crédito dentro de Argos ──. O próprio chão onde pisamos era feito disso. Ponto para nós e nossa pequena demonstração de sorte. Basta esperar para a parte em que começamos a nos foder bonito.

Vi os dois agachados no chão, usando as mãos para cavar e encher os saquinhos onde levaríamos a dita areia. Dei de ombros, agradecendo os saltos mais grossos da bota por não afundar a cada passo, e me sentei diretamente no chão. Puxei uma das sacolas para mim, me ocupando em encher o negócio até a borda.

Tinha a leve impressão de que demoraria anos para tirar toda a sujeira das minhas unhas, mas esses são pequenos detalhes que resolvi ignorar.

Cantarolei baixinho o ritmo de alguma música ── talvez fosse uma mistura entre fancy e applause ──, o berro dos meus pais divinos servindo como segunda voz. Eles não eram lá muito afinados, devo dizer.

𝐓𝐇𝐄 𝐄𝐈𝐆𝐇𝐓𝐇 𝐂𝐀𝐍𝐃𝐋𝐄 ▪ LEO VALDEZOnde histórias criam vida. Descubra agora