XLVI.

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A Lara Croft
patricinha
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O meu último dia no acampamento tinha sido para lá de agitado, acredite. Era incrível como todos os campistas estavam tão, tão nervosos, que eu tive de parar o que fazia duas ou três vezes para consolar alguma criança à ponto de surtar.

Na verdade, eu não usaria o termo consolar, acho que surtar junto seria mais adequado ao momento.

Todo mundo tinha um ar meio funebre, como se pensando "estamos nos metendo em uma guerra outra vez?". Bom, definitivamente eles estavam. Mas se olharem pelo lado positivo, ao menos não são eles a irem embarcar no Super Fantástico Balão Mágico ── Você vai mesmo colocar um apelido em Argos também, Verônica? Perguntava a voz que soava levemente como Leo na minha cabeça. Bem, eu meio que já coloquei.

A escadinha de cordas que levava para o convés do barco não era tão alta, tinha bons quarenta degraus e balançava como o inferno enquanto subiamos, porém definitivamente não foi algo difícil de fazer. A parte difícil mesmo fora as drogas das minhas pernas que resolveram bambear.

Devo ter participado de boas sessenta ou setenta competições de ginástica, talvez até mais, e gostava de dizer que era alguém relativamente calma. Sempre ficava ansiosa e com aquelas borboletas na barriga ── preferia compará-las à pequenas dançarinas da Beyoncé dançando single ladies no meu estômago ──,  mas na hora em que tudo realmente começava eu ficava bem.

Isso aconteceu outra vez, sabe? Pisar no convés do Argos e ajudar Annabeth a levantar a âncora foi como em todos os outros campeonatos. Eu ficava nervosa ── diria com o cu na mão ── e só conseguia me acalmar mesmo quando a música começava. Conseguiria fazer bons paralelos entre essas duas coisas. Acho que esse é o momento em que a música começa nessa missão.

E também o momento em que eu tenho devaneios estranhos e fora de hora. Embora isso seja corriqueiro, convenhamos.

Demoraria quase duas horas para chegarmos à dita Nova Roma, e isso me dava tempo suficiente para criar uma listinha dos prós e contras de viajar nesse barquinho.

Lista dos prós: a vista daqui de cima é realmente incrível, tipo, eu literalmente consigo tocar nas nuvens se esticar o braço ── continua nessa borda, Cretina, se cair daí e morrer feito carne moída no chão eu vou rir (essa era Judy, claro).

Lista dos contras: o fato do vento bagunçar meu cabelo o tempo inteiro era bastante irritante. Fora toda a coisa de morte eminente, claro.

Fiquei sentada perto de Festus ── o dragão-barra-figura de proa ── ouvindo ele estalando e chiando, os barulhinhos que o Garoto em Chamas conseguia decifrar deuses-sabem-como.

Tirei do bolso o espelhinho que sempre guardo, acertando com a ponta do dedo um borradinho pequeno no meu batom. Aproveitei para ajeitar a mecha de cabelo ondulado que caia do rabo de cavalo, empurrando ela para trás da minha orelha.

── Acha que colocar um batom vermelho seria exagerado demais para a ocasião, Drogon? Ou posso usar o gloss com brilho? ── ele soltou sonzinhos e mais estalos. ── Eu não entendi o que você quis dizer, mas vou usar o vermelho. Posso misturar os dois, quem sabe.

── Vai ficar ótimo, eu aposto ── esse foi Dory, surgindo do nada e se apoiando na amurada, olhando para a cidade que sobravoamos agora.

Ele tinha aquela expressão de poodle que caiu da bolsa da madame, as sobrancelhas loiras ── muito bem desenhadas naturalmente, aliás ── franzidas ── Desmemoriado provavelmente vai ter rugas nessa área se continuar fazendo isso, talvez eu devesse indicar um creminho anti-rugas para ele.

𝐓𝐇𝐄 𝐄𝐈𝐆𝐇𝐓𝐇 𝐂𝐀𝐍𝐃𝐋𝐄 ▪ LEO VALDEZOnde histórias criam vida. Descubra agora