6.7 - Rato

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22.11.2019

— Você vai adorar os meus pais.

— Eu já conheço a sua mãe, lembra?

Casie anda ao meu lado segurando minha mão, ambas com uma mochila no ombro com tudo necessário para um fim de semana em Oklahoma, que só aceitei porque minha folga bateu direitinho com os incessantes convites dos meus pais, e também estou com saudades não só deles, como do Noah. Também quero esfregar meu namoro na cara de alguns familiares — e não é imaturidade, só seria imaturo se eu fizesse isso sem nenhuma razão—. Eu lembro muito bem que eles diziam que eu morreria sozinha porque não me dava o respeito, e olha eu agora com um namorado maduro, muito gostoso, emocionalmente instável e completamente apaixonado.

Paro em frente à casa que passei toda minha infância e pré-adolescência e que voltou a ser da minha mãe, já que meu pai simplesmente colocou um trailer nos fundos e agora vive nele como se não fosse superestranho viver no quintal de sua ex esposa. As paredes de tijolos e pedras e as grandes janelas brancas continuam as mesmas, como se nada tivesse acontecido durante esses anos e eu sou a mesma Makena que cuida dos coelhos da minha avó depois de seu falecimento. É impossível não voltar no tempo a cada passo que dou em direção a porta com a mesma argola  dourada de sempre, que parece mais gasta pelos anos que não o vi. Tudo está igual, mas diferente — se é que é possível —.

— Aqui estão vocês!— Sadie exclama animada ao nos ver sobre o tapetinho de boas vindas.

— Oi, mãe. — abraço a mulher, sentindo o peso da saudade e culpa sair dos meus ombros. Culpa porque percebi o quão ingrata e sortuda sou por ter uma mãe tão incrível, algo em que meu namorado não teve lá muita sorte.

Depois das conhecidas observações de "como você cresceu" para a Casie, finalmente entramos. O interior continua o mesmo, com umas mudanças aqui e ali, como a falta dos retratos do casamento dos meus pais espalhados pela casa. Os móveis continuam os mesmos, o aspecto de limpo também, assim como o conhecido cheiro dos incensos que minha mãe costuma queimar na sala de estar. É tão nostálgico que chega a ser exagerado.

— Cadê o Noah?— pergunto para minha mãe ao entrar e não ver nenhum jogo sangrento na televisão.

— Tá limpando o trailer do seu pai. — ergo minhas sobrancelhas tão forte ao ouvir essa resposta. — Ele quer comprar um jogo novo e nós decidimos não dar o dinheiro todo.

— Por que isso agora?— indago, genuinamente curiosa. Por mais que eu sempre trabalhasse nos verões, eles nunca fizeram muita questão de dinheiro.

— Percebemos que nunca ensinamos de verdade o valor do dinheiro pra vocês dois.

— Como assim? Eu sempre soube a importância do dinheiro. — não é qualquer um que tem estômago pra trabalhar espirrando spray antifungos em patins suados e limpando o vomito de crianças. Meu conselho é: não trabalhe em uma pista de patinação.

— Makena, você compra tudo o que eu peço. — Casie contra argumenta.

— Com o dinheiro do seu pai. — enfatizo. Amo a Casie, mas isso não quer dizer que vou gastar meu salário inteiro com a filha de um milionário.

...

Bato na porta da casa da minha tia Elly, uma das únicas irmãs da minha mãe, com Casie e Noah logo atrás com minha progenitora. Pela falação que sai do lado de dentro, deduzo que meus outros dois tios já estão aqui com suas respectivas famílias, o que me deixa meio sem graça pelo meu completo sumiço. Simplesmente esqueci que eles existiam e esqueci completamente de manter contato. Em minha defesa, ser a filha prodígio me deixou bem ocupada.

𝒍𝒐𝒗𝒊𝒏𝒈 𝒊𝒔 𝒆𝒂𝒔𝒚 - 𝕄𝕒𝕔𝕙𝕚𝕟𝕖 𝔾𝕦𝕟 𝕂𝕖𝕝𝕝𝕪Onde histórias criam vida. Descubra agora