3.3 - Piririririm

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Abro os armários da cozinha a procura de algo que pudesse cozinhar, nem que fosse um macarrão instantâneo. Só preciso encher meu estômago vazio com alguma coisa. Desisto depois de abrir todos os armários e encontrar apenas ar, oxigênio e vento, então volto pro quarto reclamando e chutando tudo pelo caminho e chamando Colson de inútil porque sou humana e estou irritada de fome.

Minha leviana raiva evapora assim que ponho os olhos no homem de bruços na cama, adormecido com uma expressão relaxada exalando calmaria, amolecendo meu coraçãozinho apaixonado. Volto a me deitar ao seu lado, também de bruços e deitando a cabeça em seu braço, pouso minha mão em suas costas pintadas, ouvindo seus baixos ronquinhos e deslizando a ponta do meu dedo pelas linhas de suas tatuagens, sentindo seus pelos eriçarem. Deslizo meus dedos lentamente para perto de sua bunda coberta apenas pelo lençol, me assustando ao ouvir sua voz rouca.

— Tira a mão daí.

Rio assustada, rolando pro outro lado da cama para lhe dar espaço para se espreguiçar.

— Por que não posso tocar na sua bunda?— pergunto, observando ele esfregar seu rosto, despertando de vez.

— Porque não me deixa fuder a sua. — dá de ombros, óbvio.

— Nem me pagando. — já me adianto, lembrando da nossa conversa de ontem.

— Saiba que eu sou muito gentil. — se senta na borda da cama, veste sua cueca, põe um cigarro na ponta dos lábios e se levanta.

— Não mesmo.

— Deveria abrir sua mente.

— Deveria me deixar usar um strap-on em você.

— Vou fingir que não ouvi isso.

...

— Não, não pega muita coisa. — o loiro me adverte, devolvendo a caixa de cereal pra prateleira do mercado.

— Por que não?— pego a caixa de volta.

— Porque eu não vou ficar muito tempo, e a ideia de desperdiçar comida não me atrai. — então devolve o cereal. Levanto minhas mãos em rendição, vencida pelo seu único argumento.

— Touché. — volto a conduzir o carrinho, pegando uma caixa menor. — Ainda bem que existe porções menores. Mas gostei da sua preocupação com desperdício de comida.

— Você é impossível. — ri e se afasta para pegar uma garrafa de iogurte, começando nossa lista do café da manhã.

Depois que Colson levantou e viu os armários vazios e escutou minhas reclamações, decidiu que iríamos sair pra comprar comida, então só colocou uma blusa branca, uma bermuda e chinelos, dizendo que não tinha tempo para me esperar quando me viu retocando a maquiagem, daí me jogou sobre seu ombro e me fez vir do jeito que eu estava: com o moletom que ele me deu, de meias e chinelos e um de seus casacos que eu consegui pegar antes de ele virar um homem das cavernas. Também acabei descobrindo que usar cueca é muito confortável e quase um short já que ninguém percebeu — ou pelo menos não demonstrou —, e olha que viemos andando pra cá, um pouco afastado de sua casa já que o mercado de seu bairro está fechado para reformas.

Olho distraidamente as caixas coloridas nas prateleiras, a espera de Colson, até que aquela voz conhecida, que eu não escuto há um bom tempo, me chama:

— Caramba. Makena?

Olho na direção de Kurt, congelando de medo na hora, parando de respirar por um segundo enquanto meu coração vacila uma batida, apavorada. Por quê? Bom, porque ele é o pai do Bob — ou da inspiração do exorcista, se você preferir —.

𝒍𝒐𝒗𝒊𝒏𝒈 𝒊𝒔 𝒆𝒂𝒔𝒚 - 𝕄𝕒𝕔𝕙𝕚𝕟𝕖 𝔾𝕦𝕟 𝕂𝕖𝕝𝕝𝕪Onde histórias criam vida. Descubra agora