0.5 - Amarelo ou rosa?

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— Tô indo, Make!— Noah grita.

— Leva a lasanha da Casie!— grito de volta pondo a cabeça para fora do meu quarto.

— Tá onde?!

— No saco de papel em cima da bancada!

— Peguei!— volta a gritar depois de alguns segundos silenciosos. — Até mais tarde!

— Até!

Só percebo estar atrasada quando decido ir tomar uma tigela de cereal — sem leite —, o que me faz sair correndo de casa. Durante o caminho, trancei meu cabelo para passar o tédio do metrô e para disfarçar que me esqueci de escová-lo. Hoje é sexta, e tudo o que eu quero fazer é deitar na minha cama e dormir pra acordar de madrugada totalmente desnorteada e faminta.

Assim que entro na minha sala, me sento no meu lugar do fundo, jogo minha mochila sobre a mesa e deito minha cabeça nela, ouvindo 5SOS nos meus fones pra abafar as vozes das pessoas irritantes que vejo todos os dias. Não me leve a mal, mas puta merda que galera forçada — o único que consigo manter uma conversa, é com Bruce —.

Eu sei que devo criar laços, mas é simplesmente impossível pra mim a ideia de falar com essas pessoas por livre e espontânea vontade. Assim, é verdade que meu leque de amigos é bem curto, mas tá ótimo desse jeito só com Pete, Noah — que é meu irmão e é meio que obrigação dele —, a bibliotecária legal do meu bairro, o entregador simpático de comida, meu porteiro e Casie. Agora que minha mãe foi embora e eu só vejo meu pai algumas vezes no ano, é ainda mais curto, mas e daí?

Ok, pode parecer meio triste, mas eu estou ótima com isso, sempre soube lidar muito bem com a solidão e nunca me preocupei o suficiente com isso. Claro que às vezes eu sinto uma carência enorme que só um namorado poderia suprir, mas eu não preciso de um homem... E também tenho muita preguiça de procurar um.

...

— Pessoal, pessoal?— Blue, a good vibes, nos chama na frente do quadro, batendo palmas pra chamar nossa atenção. — Makkey, você também faz parte do pessoal!— ela adverte ao me perceber ignorar o seu chamado e jogar a mochila sobre as costas, sempre bem humorada e com uma alegra invejável pra alguém que acordou às 07h00 AM.

Porra, caralho, buceta, inferno., xingo em pensamento, suspirando e me dirigindo até a mesa onde todos estavam reunidos.

— Você tá tão fofa hoje!— ela declara tocando em uma das minhas tranças, logo me pegando de surpresa com um abraço.

— Oh. — a abraço de volta, tentando não transparecer o meu desconforto.

Ok, ela é até legal, mas intimidade demais.

— Então, vamos decidir o dia do acampamento. Não quer ajudar?— a ruiva me solta e leva suas mãos para minhas tranças.

— Eu preciso resolver algumas coisas, agora — junto minhas mãos em frente ao meu corpo, passando os olhos por todos ali, tentando assegurar minha mentira. —, mas o que vocês escolherem, tá ótimo pra mim. — não importa a escolha do dia, eu não vou.

O professor de farmacologia, que estava sendo coberto pelo amontoado de pessoas, se levanta e vem para perto de mim. E, Deus, como eu não suporto esse homem. Ele sempre me toca sem minha permissão ou de surpresa, além de já ter o pegado me olhando maliciosamente de cima a baixo várias vezes, não só pra mim, mas pra qualquer rabo de saia, calça, short, bermuda ou burca que entre em seu campo de visão. Uma palavra o define totalmente, e é nojento.

— Tente ir, Makena. Será divertido. — pousa a mão no meu ombro e o aperta levemente.

— Pode ser. — me afasto para retirar sua mão e disfarço com um aceno, então saio o mais rápido possível.

𝒍𝒐𝒗𝒊𝒏𝒈 𝒊𝒔 𝒆𝒂𝒔𝒚 - 𝕄𝕒𝕔𝕙𝕚𝕟𝕖 𝔾𝕦𝕟 𝕂𝕖𝕝𝕝𝕪Onde histórias criam vida. Descubra agora