3.7 - Moleque abusado

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Bufo irritada e tateio o travesseiro, em busca do meu telefone que notificou uma mensagem que me acordou assim que consegui pegar no sono. O relógio já marca 02:32, mas o que me chama a atenção mesmo é o fato de ser Colson me enviando um áudio de 2:50, intitulado "I Think I'm OKAY". De primeira eu não entendo muito bem do que se trata, mas logo ele explica com um "a música.". Minha curiosidade fala mais alto e me faz levantar da cama e ir me sentar no degrau do corredor para a sala, onde eu tomo a liberdade de dar play na música.

Sua voz soa após alguns acordes de violão, o ritmo não demora a mudar para algo mais pop punk, totalmente diferente de tudo o que já ouvi dele. O que me chama mesmo a atenção é a letra que se encaixa bastante na nossa atual situação. Não sinto vontade de chorar, apenas uma angústia tremenda e uma estranha sensação de relaxamento.

Deito minha cabeça nos meus joelhos, pensando em tudo, mas ao mesmo tempo em nada específico.

- Pera, é o Yungblud?- pergunto para mim mesma.

Quando achava que não tinha como a coisa ficar mais destrutiva para o meu frágil coração, a voz do rapaz inglês de 20 anos, que eu trato como se fosse um bebê, começa a soar.

Repito a música mais algumas vezes depois de fazer uma nota mental muito importante: ligar para o Colson amanhã. Ele já tem ouvido o silêncio do outro lado da linha há muito tempo.

Volto para o quarto quando termino meu momento de reflexão. Quase pego no sono, mas aí a música que eu ouvi há pouco começa a tocar, mas não do meu celular, do lado de fora. Automaticamente vou para a janela, curiosa. Quase não acredito quando vejo o loiro com uma quantidade considerável de pessoas em frente ao meu prédio, em cima de um carro, gesticulando para o motorista, provavelmente para aumentar o som.

- Ah! Olha ela ali!- com um pouco de esforço consigo escutar o que ele diz quando percebe minha presença. - Pode abaixar um pouco, Rook. - avisa, e o volume diminui, mas não muito. - Oi!- acena e sorri como se nada estivesse acontecendo.

- O que tá fazendo-

- Sabia que iria brigar comigo. - consigo ver seus olhos rolarem. - Mas eu quero falar com você!

- Por que só não me mandou uma mensagem?! Estamos no século 21, Colson!- grito de volta e aperto o dorso do meu nariz.

Esse homem vai acabar me deixando louca.

- Eu mandei, mas você me ignorou!

- Eu iria te ligar, só que em um horário normal!- grito.

- Como eu iria saber?! Não respondeu minha mensagem!- grita de volta.

- O que queria que eu respondesse?!

- Ah, sei lá! Que tal "música legal, Colson, vamos voltar"?!

- Eu nunca responderia desse jeito!

- Sei que nã-

- Eu vou chamar a polícia!- um grito soa, interrompendo a resposta de Colson, vindo do apartamento acima do meu. Reconheço ser a voz do Sr. Monroe, um velhinho meio doido e bem esquentadinho, que já desejou que eu tivesse câncer. - Eu tenho trabalho amanhã, seus moleques!

Então consigo escutar Robert, seu neto, dizer calmamente: - Vovô, o senhor já está aposentado. Volta pra cama, volta. Não vai chamar polícia nenhuma.

- Eu vou, eu vou!- escuto ele bater sua bengala no chão, enfurecido. - Seu moleque abusado, quem é você para dizer o que eu posso fazer?!

- Dá pra calar a boca?! Eu quero ouvir o que eles vão resolver!- uma terceira voz se faz presente.

Logo uma quarta, uma quinta, uma sexta e uma sétima, todos concordando com a terceira.

𝒍𝒐𝒗𝒊𝒏𝒈 𝒊𝒔 𝒆𝒂𝒔𝒚 - 𝕄𝕒𝕔𝕙𝕚𝕟𝕖 𝔾𝕦𝕟 𝕂𝕖𝕝𝕝𝕪Onde histórias criam vida. Descubra agora