4.2 - Torta de nozes

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— Parece marca de urtiga. — Blue dá sua opinião, analisando as marcas vermelhas nos braços de Bruce, que não param de coçar.

— E como faz pra parar?!— ele pergunta, enchendo outra vez a mão para jogar água quente em sua pele, na banheira da casa da Blue.

— Sei lá. — dá de ombros, e outro gole na sua garrafa de vinho antes de passar para mim, que me encontro sentada sobre a tampa da privada, apenas observando.

— Você sabe o que é mas não sabe como fazer parar?!

— É. — ela responde como se quisesse dizer no lugar "ainda bem que não é problema meu". — Da próxima vez, vê se não deixa desconhecidos baterem em você com plantas que você nem conhece.

Ele apenas lhe mostra o dedo do meio e volta a se molhar. Eu e a garota o deixamos por um momento, e nos jogamos no sofá, então pergunto:

— Sabe como fazer parar, né?— ela não me engana.

— Sei, e não é com água quente. — ri diabólicamente e alcança a garrafa de vodka sobre a mesinha de centro. Eu até tento, mas acabo rindo mesmo sabendo ser maldade. — Eu até diria que é com água fria e bicarbonato de sódio, mas ele me fez perder minha noite pra encontrar uma charlatã que promete fazer uma coisa que eu sei fazer.

— Alguma hora vai ter que contar. — pego meu telefone e viro mais um pouco de vinho.

— Mais vinte minutos. — ela deita a cabeça no meu ombro e dá atenção para a televisão.

— Tá, tá. — rio anasalado.

Volto a reler minhas conversas com Colson, ignorando minha razão que dizia que vou me magoar. Mas o que é uma lágrima para quem já está no mar de tristezas?

— É sério, conversa com ele. — a garota aconselha. — Amanhã começa o spring break; você vai pra Ohio e ele vai ficar te tratando assim?

— É complicado. — repito o que venho dizendo para mim mesma há alguns dias, desse jeito eu não penso muito sobre o assunto. — Só... Sei lá, achei que depois que ele dissesse que me ama, as coisas iriam ser diferentes. Mas percebi que não era uma questão de aceitação, e, sim, dele.

Desligo meu telefone e bebo mais um pouco, engolindo a vontadezinha de chorar. Não é o momento.

— Tá legal. — ela volta a se pronunciar. — Conversem enquanto eu resolvo a alergia daquele idiota.

Ela se levanta e vai pra cozinha, voltando com uma bolsa de gelo e um pote cheio de pó branco, que deduzo ser o bicarbonato de sódio para Bruce — ou cocaína, que aliviaria sua coceira de qualquer jeito —, em seguida, então vai para o banheiro soltando um "óooooo", como aquelas músicas divinas. Eu rio levemente e fico um tempo encarando meu telefone, tomando coragem para ligá-lo as 03:52 AM.

Resolvo deixar de adiar, e devolver a mesma inconveniência que ele cometeu para voltarmos. Mesmo preferindo mensagens à ligações, só me ouvindo que ele vai entender e nós vamos conseguir nos expressar corretamente, sem aquele vazio das mensagens que nos deixa interpretar as coisas do jeito que quisermos. Além do mais, ele nem vai acordar desse jeito.

Toca algumas vezes, até que escuto a voz sonolenta perguntar num tom confuso:

— O que foi, Makena?

E ao ouvir essa pergunta, esqueço tudo o que tinha em mente. Tudo o que estava separado por intensidade e necessidade de falar, simplesmente começa a correr desgovernadamente pela minha cabeça e eu tenho que juntar tudo o mais rápido possível para não parecer uma idiota que o acordou simplesmente para dizer "você está me afastando"; ele já sabe disso, mas não sabe como eu me sinto. Junto todas as minhas ideias da melhor forma possível, fazendo ir de um texto bem articulado para uma quimera ridícula cheia de pontas soltas.

𝒍𝒐𝒗𝒊𝒏𝒈 𝒊𝒔 𝒆𝒂𝒔𝒚 - 𝕄𝕒𝕔𝕙𝕚𝕟𝕖 𝔾𝕦𝕟 𝕂𝕖𝕝𝕝𝕪Onde histórias criam vida. Descubra agora