4.1 - Incenso de lavanda

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Ponho meu copo para cima, dançando agarrada atrás do aniversariante, meio esmagada pela grande quantidade de pessoas, mas ignorado o traço introvertido da minha personalidade, que só quer dar o fora daqui e acha tudo isso muito desconfortável. Preferia mil vezes estar em casa batendo parabéns para Bruce em vez de estar sendo amassada por toda essa gente, mas sempre que começo a me irritar com algo uso aquela velha frase para justificar eu ter aceitado vir para cá: "só se vive uma vez".

Por mais cansadas que minhas pernas estejam, me recuso a estragar a vibe que estamos. Blue parece tão feliz rebolando em Bruce, e Bruce parece tão feliz por estar aqui com a gente, que não quero estragar. E, mesmo que não pareça, eu também estou feliz; eu tenho bons amigos, agora. E, por mais que eu ame meu relacionamento e meu namorado, preciso me distrair um pouco de ambos, ou vou acabar enlouquecendo se continuar pensando sem parar em todo o mistério e distância repentina que Colson impõe.

Ficamos mais um tempo assim, até que Bruce simplesmente para e retira o telefone do bolso. Ele olha a tela, franze o cenho e se afasta sem aviso. Eu continuo com minha amiga, decidindo esperar que o garoto voltasse para não acabar me perdendo e perdendo a Blue, essa que agora rebola no meu colo enquanto gritamos a música, juntas. Algum tempo depois, Bruce volta como se tivesse visto um fantasma, se aproxima e grita no meu ouvido:

— Amiga, lembra da moça de mais cedo?

— A que queria ler sua mão?— grito de volta, logo voltando minha atenção para Blue, deixando alguns tapas falsos em sua bunda.

— Essa mesma!— eu o olho tipo "e daí?", então ele continua. — Ela me mandou mensagem. Disse que tem coisa pra me falar. Eu achei meio caro, mas vou.

Eu paro de dançar e me viro para o mesmo, meio confusa com todas essas informações repentinas.

— Sozinho?— pergunto e ele ri.

— Claro que não, vocês vem junto!— assim que termina de proferir sua frase, a música muda e alguns segundos depois eu consigo reconhecer a voz do meu namorado em um remix horrível, o que me faz torcer o nariz e Bruce rir da minha cara. — Essa cara é pelo o que exatamente?

— Ai, cala a sua boca. Vamos!— agarro a mão de Blue e a puxo, seguindo Bruce para fora do clube que nos encontramos.

Ela não para de perguntar o que houve, mas ignoro para não ter que parar e convencê-la a sair. Apenas quando nos encontramos na esquina do local, que me viro para a garota e digo:

— Bruce vai encontrar a moça de mais cedo.

Ela fica em silêncio por um momento, eu e Bruce a encaramos, esperando sua reação enquanto eu dou um passo para sair do caminho caso ela queira jogar seu sapato no mesmo.

— Vai pegar aquela moça?— pergunta visivelmente confusa. — Nada contra, mas ela não é meio velha pra você?

— Não, não vou pegar ela. — ele dá um passo para o lado, atrás de mim; eu, posteriormente, faço o mesmo. Eu o amo, mas não ao ponto de levar um salto na cara por ele.

— Então, pra quê? Não vejo outra razão. — ela faz menção de se virar, mas eu a seguro e digo de uma vez:

— Ele quer que ela leia a mão dele por — esqueço o valor que ele me disse segundos antes de eu puxa-la, então me volto para o mesmo. — Por quanto mesmo?

— 150 dólares. — solta em uma tosse falsa.

— Ah! Tá de sacanagem?!— ela indaga.

— Gente, é sobre meu futuro!— bate o pé.

Eles iniciam uma discussão, então eu me sento no meio fio, esperando acabar. Olho as pontas azuis do meu cabelo recém-pintado, pensando na próxima cor que vou pintar e se Noah está se divertindo, ou odiando tudo como eu odiei. Muito provável que ele esteja odiando o dobro e ouvindo Marilyn Manson no talo.

𝒍𝒐𝒗𝒊𝒏𝒈 𝒊𝒔 𝒆𝒂𝒔𝒚 - 𝕄𝕒𝕔𝕙𝕚𝕟𝕖 𝔾𝕦𝕟 𝕂𝕖𝕝𝕝𝕪Onde histórias criam vida. Descubra agora