7.2 - Aranhas

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— Você é a veterinária aqui, deveria saber lidar com isso. — Colson retruca, escondendo minha blusa atrás de si.

— Não, não. — tento pegar, mas ele empurra minha mão para longe e se vira proporcionalmente às minhas investidas, me impedindo até de ver a sombra da peça. — Isso é de outro setor. Eu não me meto com aquilo.

— Mais respeito com a dona aranha. — provoca, aconchegando minha blusa atrás de seu pescoço. — Makena, eu dirigi a manhã inteira.

— Que manhã inteira, o quê. Você dirigiu uma hora, e ainda acelerava no sinal amarelo, Colson. — dispenso seu drama, indo pegar meu casaco sobre a poltrona.

— Você tem um ponto. — revira os olhos. — Mas tá esquecendo que podemos só nos livrar dela.

— Ah, é? Você que vai colocar ela pra fora?

— Sim, antes que você tenha um ataque de nervos.

— Eu não vou ter um- Onde ela tá?!— indago ao perceber sua falta sobre as toranjas na fruteira.

Colson se aproxima lentamente do balcão e mexe cuidadosamente nas frutas usando minha blusa como luva, o que só me faz querer morrer mais ainda.

— Ela fugiu. — diz aliviado antes de vir tentar me beijar, porém desvio de seus lábios. — O que foi?

— Se ela fugiu, ela tá em qualquer lugar; não quer dizer que ela foi pra fora. — respondo lentamente, tentando ser o mais didática possível.

— Puta merda. Chata demais. — joga minha blusa no meu rosto e recebe um tapa por isso. — Eu vou pesquisar sobre como matar ela enquanto você vai tomar um banho pra relaxar.

— E se ela entrar no banheiro?— resmungo, sendo conduzida — empurrada — para as escadas.

— Você grita.

— Plausível. — subo dois degraus e me viro para beijar sua boca, me lembrando de algo muito importante. — E se for uma armadeira?

— Uma o quê?

— Uma aranha brasileira venenosa que pula nas pessoas.

— O que uma aranha do Brasil estaria fazendo em Ohio?— soa desacreditado, como se eu fosse louca. Talvez eu realmente esteja parecendo uma louca para ele que não leva nada a sério. Só estou sendo lúcida.

— Eu não faço ideia, mas você quer ser picado pra descobrir?

— A morte é uma ilusão, amor.

— Tá bom. Quando você estiver caído no chão se contorcendo de dor e tendo uma parada cardíaca, eu vou dizer que é só ilusão.

— Eu chamaria isso de outra coisa.

— Haha, piada com overdose. — respondo sem humor, quase revirando os olhos.

— Foi boa, vai. — empurra meu ombro de leve, com um sorriso travesso. — E por que você entendeu tão rápido?

— Você sempre solta piadas preocupantes disfarçadas, então eu sempre tô ligada. — começo a subir de costas para os degraus, assim mantendo meus olhos no loiro. — Sempre.

— Tá bom, senhorita terapeuta.

Subo as escadas de madeira até o corredor de paredes brancas e chão de taco, que ao final dá em uma grande janela circular, iluminando o corredor quase por inteiro. Vou abrindo cada porta a procura do quarto em que Colson deixou nossas coisas. Encontro um banheiro e mais dois quartos antes de encontrar o único ocupado por bolsas. O quarto é branco, sem muita decoração já que deve ser a primeira vez que é usado, a quina da inclinação do teto quase toca a cabeceira alta de barras de ferro, com uma claraboia logo acima da cama, e uma parede de vidro dá acesso à varanda, que dá vista às árvores logo à frente, parte do lago e — o que acabo de descobrir — à estufa, que ao invés de proteger plantas, guarda uma piscina. Pego uma muda de roupas na minha bolsa e vou para a porta paralela à da varanda, adentrando um banheiro consideravelmente grande com dois chuveiros sobre uma banheira de cobre, no mesmo box de vidro. Até que eu gostei daqui.

𝒍𝒐𝒗𝒊𝒏𝒈 𝒊𝒔 𝒆𝒂𝒔𝒚 - 𝕄𝕒𝕔𝕙𝕚𝕟𝕖 𝔾𝕦𝕟 𝕂𝕖𝕝𝕝𝕪Onde histórias criam vida. Descubra agora