4.9 - Rosa

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— Ok, agora só as mais fodas do Billy Ray Cyrus. — Makena anuncia, depois dos meus aplausos para sua performance de "West Coast" na gaita que eu nem sabia ter nas minhas coisas.

— A Noah vai adorar você. — comento e volto a mexer a comida que a garota inventou de fazer depois de ver um vídeo no Twitter.

— Eu só sei Old Town Road, pra falar a verdade. — dá de ombros.

— Por favor, não. Essa música saiu há uns dias e eu já não aguento mais.

— Tá bom, vô. — pula do banco em que estava sentada e vem se encostar do lado do fogão, se esticando para olhar dentro da panela.

— Eu sou o vô? Quem sabe tocar gaita aqui é você. — defendo-me.

— Foi meu avô que me ensinou.

— De nada.

Ela ri e empurra fracamente a mão contra o meu ombro, eu tampo a panela e ficamos nos encarando por um segundo até a mais nova dizer:

— Sabia que lá na casa da minha avó não pode ver Harry Potter?

— Por que não?

— Porque ela fala que bruxaria é coisa do demônio. — conta, rindo entre as palavras. Antes que eu pudesse falar mais, a mesma continua: — Porque, segundo ela, a Bruxa de Blair matou meu avô.

— A Bruxa de Blair não é de Maryland?— nesse momento tenho tantas perguntas.

— É.

— Então?

— Ele morreu.

— Essa parte eu já entendi, quero saber onde a Bruxa de Blair entra nisso.

— Ela fala que ele sempre voltava esquisito da caminhada na floresta, mas meus pais tem a teoria de que não foi a bruxa de Blair e, sim, a cocaína que ele cheirava. — diz simples. — É triste, mas a parte do Harry Potter é engraçada... Pra mim, pelo menos.

Rio de seu comentário, mas sei que é errado.

— Pode rir, eu não tinha relação com ele; não vai me ofender. — diz ela, mas volto a olhar a panela para pensar em outra coisa. — Esse é meu avô paterno, o que eu amava e me ensinou a tocar gaita, foi o materno. Ele era foda.

A garota sorri minimamente olhando para as suas mãos, como se lembrasse de bons momentos, ou apenas desse homem que parecia fazê-la mais feliz em um dia do que serei capaz de fazer sua vida inteira. Sinceramente, família é uma coisa meio complicada porque são as primeiras pessoas que conhecemos, nosso primeiro ciclo social e companhias, então, quando são babacas ou vão embora, independente da forma que vão, ficamos tão ferrados da cabeça. Makena, por exemplo, parece ter tido uma boa infância e uma ótima família, mas tem lá seu abalo emocional; então, o que eu deveria esperar de mim?

...

Deito minhas costas sobre os travesseiros e apoio minha cabeça no estofado da cabeceira, relaxando e a espera da minha namorada que está se arrumando para a festa da minha amiga, Cassie, no banheiro, acendo um cigarro para matar tempo. A de cabelo descolorido nem lembrava mais, só que aí a Kane mandou mensagem perguntando por que ainda não havíamos chegado; eu ignorei, aí ela teve a audácia de mandar mensagem pra Makena perguntando "seu namorado é cego ou analfabeto?", agora eu quase arrumei uma briga com a minha namorada porque eu não a ajudei a escolher sua roupa. Não me leve a mal, mas já sabia que ela havia escolhido e minha opinião seria irrelevante.

Makena volta para o quarto e passa direto por mim, depois de alguns segundos no closet, volta com o colar que lhe dei no seu aniversário/natal, e que ela nunca usou porque simplesmente não tem lugar para usar, e me estende.

𝒍𝒐𝒗𝒊𝒏𝒈 𝒊𝒔 𝒆𝒂𝒔𝒚 - 𝕄𝕒𝕔𝕙𝕚𝕟𝕖 𝔾𝕦𝕟 𝕂𝕖𝕝𝕝𝕪Onde histórias criam vida. Descubra agora