0.1 - Intolerância à lactose

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No momento em que ponho meus olhos na mochila amarela e na ecobag xadrez no meio da sala, meu cérebro só consegue formar o pensamento "wow, isso é real pra caramba e tão assustador quanto". Por mais nobre que a causa seja, eu não quero ficar sem minha mãe durante doze meses pra ela salvar vidas em algum lugar da África. Não me leve a mal, eu amo essa mulher mais do que a mim mesma e nunca fiquei longe dela por mais de uma semana nesses 22 anos que carrego nas costas. Eu me sinto a pior pessoa do mundo pensando em como fazê-la ficar em casa, minhas ideias vão desde jogar as chaves do carro pela janela, a quebrar minha perna, mas como eu poderia tentar estragar o sorrisão que ela tem no rosto?

Mamãe é totalmente apaixonada pela pediatria, tanto que ela queria que eu seguisse o mesmo caminho que ela, porém optei por salvar animais, que, convenhamos, são muito melhores que crianças. A culpa me preenche porque eu realmente não consigo parar de pensar só em mim, e não nas pessoas que realmente precisam dela. Mas, oras, Noah ainda tem 11 anos e ambos somos constantemente chamados de bebê, pela mesma.

— Makena! — escuto o pivô dos meus pensamentos me chamar enquanto eu ainda encarava o desenho de flor na mochila. — Vamos, bebê.

Viu?

Ela aparece segurando a mão de Noah, meu irmão mais novo. Com seus cabelos castanhos presos em uma pregadeira, sua pele bronzeada da nossa última ida à praia, os olhos castanhos claros e sua calça larga e floral e sua camiseta preta de mangas, ela forma a figura familiar e aconchegante que estou tão acostumada a encontrar em casa quando chego de um cansativo dia de faculdade, sempre pronta pra me fazer rir ou afagar meus cabelos.

Seu sorriso era enorme, diferente dos sorrisos falsos desenhados nos lábios de ambos os filhos que não queriam preocupa-la, mas que só querem continuar a encontrando sempre que chegam em casa e jantar em frente a televisão, antes de mais um de seus plantões no hospital.

Logo hoje não pegamos nem um engarrafamento ou sinal vermelho, eu xingava o universo cada vez que eu via o sinal abrir antes mesmo de desacelerar o carro. Então não demoramos a chegar ao aeroporto e nos despedirmos.

— Qualquer coisa, mas qualquer coisa mesmo, liguem pro pai de vocês. — ela nos abraça.

— Mãe, ele mora em Oklahoma, não é como se...

— Ele que dê o jeito dele, não fiz vocês sozinha. — interrompe o argumento de Noah e se afasta para nos olhar. — Vocês vão ficar bem?

— Hmm... Sim. — respondo por nós dois.

Sei que Sadie não se convenceu no momento em que ela nos abraçou novamente, mais apertado dessa vez. Eu só não choro porque não quero preocupá-la mais ainda.

— Noah, nada de se meter em brigas. — ele concorda, mas sei que é só coisa do momento.

Meu irmão é a criança mais brigona que eu conheço, pelos menos 3 vezes na semana ele volta pra casa com alguma parte do rosto sangrando ou algum hematoma.

— Makena está no comando, tem que respeitá-la, ok?— continua com meu irmão, esse que concorda desdenhosamente me olhando.

Faço sinal de paz com ambas às mãos e um bico, debochando do menor.

— Terrível. — revira os olhos pra mim e volta a olhar nossa mãe.

Paro de debochar do meu irmão no momento em que ela me olha.

— Makena, não faça isso.

— Tá, desculpa.

É claro que eu vou continuar.

— E nada de falar com aquele esquisitão da farmácia, ok?

— Mas o Pete é legal.

— E estranho. — complementa e tenho que concordar. — Makena, não deixe Noah faltar à escola. Noah, não deixe a Makena faltar às primeiras aulas da faculdade.

Sadie alterna seu olhar entre mim e Noah, os olhos brilhando em lágrimas quando seu voo é chamado.

— Vai ser divertido, vão poder ficar acordados até tarde. — ela tenta.

— Seria mais divertido se a senhora não fosse. — contra argumento. De qualquer forma, ela não vai desistir mais.

Eu devia ter tentado fazê-la desistir assim que ela começou a cultivar essa ideia, mas eu simplesmente não consigo ser desagradável com minha progenitora.

— Vocês estão tão grandes. — ignora meu comentário e nos abraça mais uma vez. — Eu vou sentir saudades.

Quando ela se vai de vez, todas as emoções que eu seguro, quase abrem as torneiras dos meus olhos, mas fungo antes que isso pudesse acontecer e o som acaba chamando a atenção do garoto ao meu lado.

— Qualé, Makena, não vai chorar, né?

— Não. — minto, não querendo ser julgada por uma criança de 11 anos. — Vamos tomar sorvete? — proponho a única coisa que me faria feliz agora.

— Tenho intolerância à lactose, sua idiota.

— Eu não. — dou de ombro e pouso minha mão na cabeça do mesmo, o conduzindo para fora daqui.

— Que tal retocar o rosa do seu cabelo em vez disso?

— Você é insensível, hein? — o empurro para longe.

...

— Vou sair com Casie!— escuto Noah gritar da porta.

Esgueiro-me para fora da cozinha e vejo o garoto com seu skate.

— Quem é Casie?

Essa é nova pra mim porque Noah não tem amigas meninas — até onde eu conheço sua lista de amigos, não —.

— Eu ando com ela todos os dias na pracinha, Makena. — revira os olhos e se recosta no batente da porta. — Você não vê porque tá sempre dormindo.

— O que eu posso fazer se estou cansada?— retruco, mas ele não discute por me ver quase todas as noites estudando até tarde. — Tá, vai. — ele soca o ar, comemorando, mas antes de deixá-lo ir, volto a perguntar. — Qual o número da mãe dela?

— Sei lá. Só conheço o pai dela. — responde impaciente, ansioso para ir e irritado com minhas interrupções. — A mamãe anotou o número dele na agenda. — aponta para o livrinho sobre a mesa, ao lado do telefone fixo.

— E eu vou adivinhar o nome dele?— interrompo novamente seus passos. Okay, é divertido ver o pirralho avermelhando de raiva.

— Colson! O nome dele é Colson! Colson Baker!— ele me responde e eu quase rio. — Posso ir agora?!

Dou de ombros.

— Não saia da pracinha!

— Vai procurar um namorado, garota!

Ele fecha a porta e é possível ouvir seus passos apressados até certo ponto, depois é total silencio.

Agora que eu estou sozinha, é hora de jogar Just Dance 4 sem medo de ser julgada.

🌟

Oi clã, esse capitulo foi bem introdutório, mas eu espero que vocês tenham gostado, mesmo assim. Eu vou tentar sempre atualizar o mais rápido possível, não é uma promessa, mas, é o que provavelmente vai acontecer agora que eu finalmente me encontrei e comecei a gostar de verdade do que eu escrevo. E eu amo esse homem, os capítulos que já estão escritos e todas as ideias que eu tenho pra essa fic.

Muito obrigada a quem continuar lendo, seja bem-vindx a Loving Is Easy (sim, Rex Orange County, meu gosto musical é muito variado). Me deêm sugestões, digam o que acharam e me avisem se encontrarem algum erro, porque eu sempre deixo escapar, talkei?

Eh isto, não apoiem o presidente, não bebam mais de 2 litros de água por dia, senão dá hiponatremia, amem os animais e #teamrapdevil

𝒍𝒐𝒗𝒊𝒏𝒈 𝒊𝒔 𝒆𝒂𝒔𝒚 - 𝕄𝕒𝕔𝕙𝕚𝕟𝕖 𝔾𝕦𝕟 𝕂𝕖𝕝𝕝𝕪Onde histórias criam vida. Descubra agora