3.2 - Pequeno mercenário

804 66 8
                                    

Guardo meu telefone e volto a ajudar Blue a fazer sanduíches, usando o atraso de Bruce como desculpa para não começarmos a fazer nosso trabalho. Já falamos mal de metade das pessoas do nosso curso, pulamos em sua cama elástica, demos banho em seu cachorro, pintei o cabelo de Blue, e nada de Bruce chegar — não que precisemos dele, só estamos com preguiça —.

Eu saí de casa as dez, falando para Noah que voltaria as uma, mas já são três da tarde e nem começamos nossas pesquisas.

— Acha que ele se perdeu?— a ex ruiva pergunta, prendendo seus fios castanhos em um coque.

— Não acho que ele seja tão burro. — lavo e seco minhas mãos, colocando meu anel, que estava guardado no bolso por segurança, de volta.

— Como eu nunca vi seu anel?— pergunta surpresa, pegando minha mão para olhá-lo melhor, admirada.

— Não gosto de sair com ele na rua. — e sempre o esqueço em cima da pia do banheiro quando acabo de tomar banho mesmo Kells já tendo dito que eu posso molhá-lo, mas ele não esperava ter uma namorada paranoica que imagina a cena do anel escorregando pelo seu dedo e descendo pelo ralo — de alguma forma, porque as grades do ralo são bem estreitas —.

— É lindo!— elogia. — Você tá noiva?— eu rio.

— Não, não, só namorando. — olho pra minha mão, sorrindo subitamente só de lembrar da minha girafa loira. — Na verdade, eu nem sei por que ele quer usar anel.

— Pra mostrar compromisso. — pisca e move os ombros em uma dancinha. Ela pega o prato de sanduíches e eu o refrigerante, e voltamos para a varanda.

— Nem deu no dedo dele, nem parece de compromisso. Além do mais, nem uma placa neon dizendo "eu tenho namorada", mantém aquelas garotas longe dele.

— Só não deixe elas saberem que te irrita, senão vai acabar com sua saúde mental. — dá uma grande mordida em seu sanduíche, logo enchendo sua boca de refrigerante para descer. Nem me surpreendo mais, ela tem um apetite tão grande quanto sua antiga calmaria.

— Ah. Não sou disso. — dou de ombros.

Ela ri. — Deve ter pelo menos uma que te tira do sério.

E na hora meu cérebro reproduz a imagem do sorriso perfeito e pele bronzeada de Chantel Jeffries. Ela é linda e pode ser paranoia minha, mas acho que eles dois viveram algo a mais do que um simples affair. Não sei por que meu cérebro me empurra para essa questão que até tira minha concentração, às vezes.

— Pela sua cara, sei que sim. — ela volta a se pronunciar. — O que ela fez?

— Nasceu.

Ela ri, mas para assim que Bruce pisa em sua calçada com um sorriso amarelo no rosto e a mochila nos ombros.

— Que consulta no dentista foi essa, meu filho?— sou a primeira a perguntar, indignada.

— Eu posso expli-

Ele tenta se aproximar, mas Blue retira seu chinelo e acerta em seu peito fazendo nós dois a olharmos, assustados.

— Não! Sai daqui! Eu acordei cedo pra nada!

— Eu posso fa-

E outra chinelada, agora no braço.

— Para com isso, desgraçada!

— Chega perto de mim pra você ver!— ameaça antes de se aproximar de mim e dizer: — Makena, me empresta seus tênis, eu não tenho mais o que jogar nele.

Demoro alguns segundos para analisar seu pedido, até que sinto falta do bem estar de ver ela jogando coisas nele, então desamarro um pé e lhe entrego, em seguida voltando pro meu sanduíche, rindo da cena.

𝒍𝒐𝒗𝒊𝒏𝒈 𝒊𝒔 𝒆𝒂𝒔𝒚 - 𝕄𝕒𝕔𝕙𝕚𝕟𝕖 𝔾𝕦𝕟 𝕂𝕖𝕝𝕝𝕪Onde histórias criam vida. Descubra agora