Uma exclusiva

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— Primeiro, vou gravar a minha introdução. —  Costia olhou em volta da sala de Clarke   e  ergueu uma sobrancelha. —  Não parece um santuário.

— Como disse?

— Até agora você vinha guardando esta sala como se fosse solo sagrado. —  Com casualidade, Costia ajustava o ângulo do monitor de Clarke . —  Eu esperava mais do que  um closet apertado,  com uma mesa de trabalho e duas cadeiras tão gastas.

— Meu coração se sente em casa aqui —  respondeu Clarke  calmamente e se recostou em uma das cadeiras gastas.

Costia jamais se considerara claustrofóbica, mas achou que o bege das paredes as fazia parecerem terrivelmente próximas, e achou que devia reavaliar a sua fobia de lugares fechados.    A única janela da sala era minúscula, e embora, sem dúvida, fosse à prova de balas, não tinha película protetora e oferecia uma visão estreita  do movimentado tráfego acima de  uma estação de ônibus aéreos.

A pequena sala, avaliou Costia, parecia apinhada de gente.

— Eu achei que, depois que resolveu o caso DeBlass no inverno passado, você ganharia uma sala mais tchan, com uma janela de verdade, e talvez um tapete.

—  Você veio aqui para redecorar o ambiente ou para gravar uma matéria?

— E o seu equipamento, Clarke , é patético. —  Divertindo-se com  aquilo, Costia  estalou a  língua e balançou a cabeça ao olhar para  os aparelhos de  Clarke . — Lá  no estúdio, relíquias como estas são relegadas aos empregados do baixo escalão, ou, o que é mais provável, doadas em caridade para algum centro de reabilitação.

Clarke  disse a si mesma que não ia fazer cara feia e comentou:
— Então, na próxima rodada de doações lembre-se de mandar alguma coisa para o Fundo do Departamento de Polícia e Segurança Pública.

— Lá no Canal 75 —  sorriu Costia, encostando-se à mesa —  até mesmo a ralé possui um AutoChef pessoal na sala.

— Estou aprendendo a odiar você, Costia.

— E eu estou só colocando você em ponto de bala para a entrevista. Sabe o que eu queria, Griffin, já que você está a fim de ganhar espaço na mídia? Uma entrevista  pessoal e  exclusiva, uma matéria em profundidade, mostrando a mulher por trás do distintivo. A vida e os amores de Clarke  Griffin, tenente do Departamento de Polícia da Cidade de Nova York. O lado pessoal de uma servidora pública.

Clarke  não resistiu e acabou fazendo cara feia, afinal.

— Não abuse da sorte, Costia.

— Ora, mas abusar da sorte é o que eu sei fazer de melhor. —  Costia se atirou em uma das cadeiras e a arrastou para o lado. —  Como está o ângulo, Pete?

O operador da câmera segurou uma pequena tela sem fio na palma da mão e a levantou até a altura do rosto.

— Legal —  respondeu ele.

— Pete é um homem de poucas palavras —  comentou Costia. —  É assim que eu gosto deles. Quer ajeitar o cabelo?

Clarke  se segurou e por pouco não passou os dedos pelo cabelo em desalinho. Ela detestava estar diante de uma câmera. Odiava aquilo.

— Não —  respondeu.

— Você é quem sabe. —  Costia pegou um pequeno estojo de maquiagem em sua  bolsa imensa, aplicou algo sobre os olhos e inspecionou os dentes para ver se não havia manchas de batom. —  Tudo bem. —  Jogou o estojo de volta na bolsa, cruzou as pernas com elegância, provocando um pequeno farfalhar de seda deslizando sobre seda, e se virou de frente pua a  câmera. —  Pode gravar.

In DeathOnde histórias criam vida. Descubra agora