Uma declaração

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A maratona de hoje boa kkkk

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Leonardo estava esparramado no chão, no meio da sala de Anya, no mesmo lugar em que caíra horas antes, em estado de total embriaguez, provocada por uma garrafa inteira de uísque sintético   e uma dose ainda maior de autopiedade.

Estava voltando a si pouco a pouco e receava ter perdido metade do rosto em algum  lugar  no meio da noite miserável que passara. Quando levou a mão para apalpar a face, com cautela, sentiu-se aliviado de ver que tudo estava no lugar, só um pouco dormente  devido à  queda  no  chão.

Ele não se lembrava de muita coisa. Essa era uma das razões pelas quais Leonardo raramente bebia, e jamais se permitia exageros. Tinha tendência a sofrer perdas de consciência e lapsos de memória sempre que entornava um pouco mais do que devia.

Ele se lembrava vagamente de ter entrado cambaleando no prédio onde Anya morava, de ter digitado a senha da porta, que ela lhe dera ao descobrir que eles não eram apenas amantes e estavam realmente apaixonados.

Só que Anya não estava lá. Ele tinha quase certeza disso. Sentiu uma vaga lembrança de  ter andado sem rumo pela cidade, bebendo direto do gargalo de uma garrafa que comprara... ou  talvez tivesse roubado. Que inferno! Com a vista ardendo, tentou se colocar sentado e forçou os olhos para que ficassem abertos. Tudo o que sabia com certeza é que  estava  com  a  maldita garrafa na mão e o uísque na barriga.

Devia ter apagado. O que o deixou desgostoso. Como é que ele podia esperar que Anya fosse aceitar as coisas se ele mesmo entrava todo torto pelo apartamento, completamente bêbado?

Ele tinha mais é que agradecer por ela não estar lá.
Agora, é claro, estava com uma bruta ressaca que o fazia ter vontade de se deitar curvado como uma bola e chorar, pedindo perdão. Não, ela poderia voltar, e ele não queria que ela o visse em  um estado tão deplorável. Conseguiu se levantar e saiu à procura de algum remédio para dor de cabeça, antes de programar o AutoChef para fazer um café bem forte.

Foi quando reparou no sangue.

Estava seco. A mancha descia pelo braço e ia até a sua mão. Havia um  corte longo e profundo no antebraço, que já estancara. Sangue, ele olhou novamente, sentindo um  embrulho  no estômago ao notar que a camisa também estava toda manchada. Será que ele andara brigando? Será que ele havia machucado alguém?

A náusea subiu-lhe pela garganta e sua mente tentava achar um rumo por entre imensos espaços vazios e lembranças borradas.

Ah, Deus! Será que ele matara alguém?

*****

Clarke  estava olhando com ar muito sério para o relatório preliminar da autópsia quando ouviu um barulho curto e agudo na maçaneta da porta de sua sala, que se abriu antes que  ela  pudesse  se virar de todo.

— Tenente Griffin? —  O homem tinha a aparência de um caubói curtido pelo sol, do sorriso provocador até as botas com saltos gastos. —  Caramba, é uma honra me encontrar com a lenda viva em pessoa! Já a conhecia de fotos, mas você é muito mais bonita pessoalmente.

— Estou lisonjeada. —  Com os olhos se fechando um pouco, Clarke  se recostou. Ele também era muito bonito, com cabelos louros encaracolados que emolduravam um rosto bronzeado e alerta e que se espalhava de modo atraente em volta de olhos verde-garrafa. Tinha um  nariz reto e longo   e uma leve  covinha ao lado da boca sorridente. E um corpo que parecia se dar muito bem com a vida ao ar livre. —  E quem é você, afinal?

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