A menina dos olhos do departamento

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Pedido atendido hihihi

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Clarke  preferia voltar para o apartamento que ainda mantinha, apesar de passar a maioria das noites na casa de Lexa . Em sua própria casa, ela poderia remoer as ideias e os pensamentos, poderia dormir e conseguiria reconstruir o último dia da vida  de  Cicely  Towers, por  completo. Em vez de fazer isto, porém, foi direto para a casa de Lexa.

Estava cansada o bastante para desistir da direção e deixar o piloto automático manobrar  o carro pelo tráfego do final de tarde. Comida era a primeira coisa de que precisava, resolveu. E se conseguisse dez minutos para ficar sozinha, a fim de clarear as ideias, melhor ainda.

A primavera resolvera dar o ar de sua graça lindamente. Era uma tentação para Clarke  abrir as janelas do carro, ignorar os sons do tráfego agitado, o zumbido dos maxi ônibus, as reclamações dos pedestres e o assobio constante do tráfego aéreo por cima de sua cabeça.

A fim de escapar do eco da voz dos guias que conduziam  os pequenos dirigíveis para turistas, ela fez um desvio e pegou a Décima Avenida. Seguir direto pelo  Centro  e  depois cortar  por dentro do parque teria sido bem mais rápido, mas ela teria de aguentar a monótona declamação dos guias, falando das atrações de Nova York, da história e da tradição da Broadway, da exuberância dos museus e da variedade de lojas, além do luminoso que convidaria os passageiros para uma visita à loja de presentes que pertencia à própria concessionária dos dirigíveis.

Como a rota do dirigível passava bem em frente ao seu apartamento, ela já ouvira toda aquela ladainha inúmeras vezes. Só não se importava de ser lembrada da conveniência das passarelas deslizantes que conectavam as lojas de moda das mais famosas grifes da Quinta Avenida com a Madison, ou a mais nova calçada aérea construída ao lado do Empire State.

Uma pequena retenção do tráfego, na altura da Rua Cinquenta e Dois, deu-lhe a oportunidade  de apreciar um cartaz, no qual um homem e uma mulher muito bonitos trocavam um beijo apaixonado, adocicado, conforme eles exclamavam cada vez que separavam os lábios em busca de ar, pelo aromatizador de hálito Riacho da Montanha.

Quando seus veículos esbarraram na lateral um do outro, dois motoristas de táxi começaram a trocar criativos insultos. Um maxiônibus transbordando de passageiros começou a buzinar sem parar, adicionando à cena um som agudo de arrebentar os tímpanos, o que fez com que os pedestres das rampas próximas e das calçadas balançassem a cabeça ou os punhos.

Uma aeronave do controle de tráfego mergulhou bem baixo,  trombeteando o  aviso-padrão para que os táxis seguissem em frente ou seriam multados. E o tráfego se arrastava para o norte, cidade acima, cheio de ruídos e nervos à flor da pele.

A paisagem da cidade mudou à medida que Clarke  saía do Centro em direção às regiões mais afastadas. Ali era o lugar que os ricos e privilegiados escolhiam para morar. As ruas eram mais largas, mais limpas e cheias de árvores em pequenos parques, que pareciam ilhas verdejantes.

Ali os veículos se aquietavam, produzindo apenas um sussurro, e os que caminhavam pelas ruas faziam isto envergando roupas bem cortadas e sapatos finos.

Clarke  passou por um pedestre que estava levando dois cães de caça de pelos dourados para passear, com o autocontrole e a firmeza típicos de um androide qualificado.

Ao chegar aos portões da residência de Lexa , seu carro ficou à espera de que a segurança automática a deixasse entrar. As árvores da propriedade estavam florindo. Grandes cachos de flores brancas e rosadas se alternavam com outras mais fortes, vermelhas e azuis, e tudo estava acarpetado por uma grande extensão de grama da cor de esmeralda.

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