Sequência cronológica dos fatos

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Boa leitura

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O antídoto de Anya veio a calhar e funcionou como mágica. Clarke  ainda sentia um  gosto estranho no fundo da garganta, mas estava completamente  sóbria  quando chegou ao edifício alto e brilhante, totalmente prateado, onde ficava o Canal 75.

O prédio tinha sido construído em meados dos anos vinte do século XXI, quando a prosperidade das empresas de mídia alcançara um patamar tão astronômico que  os  lucros  gerados eram maiores do que o PIB de um país pequeno. Um dos edifício mais grandiosos da Avenida das Comunicações, ele se erguia a partir de uma base elevada  larga  e  lisa,  abrigava vários milhares de funcionários, cinco estádios de última geração, incluindo o mais opulento equipamento da Costa Leste, e gerava um sinal forte o suficiente para enviar transmissões a todos  os recantos do planeta e todas as estações orbitais.

A ala leste, para onde Clarke  foi encaminhada, ficava de frente para a Terceira  Avenida, com  seus imensos complexos de salas de cinema e prédios de apartamentos especialmente projetados para a conveniência da indústria do entretenimento.

Devido ao pesado tráfego aéreo que notou na região, Clarke  compreendeu que a notícia já se espalhara. Controlar a área ia representar um problema. Enquanto rodeava o edifício de carro, ligou para o setor de emergência e solicitou que toda a região fosse isolada, tanto pó ar quanto por terra, e pediu também reforço para garantir a segurança nas ruas. Um homicídio bem no colo da mídia já ia ser bastante difícil de se lidar, e não era necessário que houvesse outros abutres sobrevoando o local.

Sentindo-se mais firme, Clarke  colocou o sentimento de culpa de lado e saiu do carro para se aproximar da cena do crime. Os policiais tinham estado ocupados, ela notou com alívio. Tinham isolado a área e já haviam lacrado a porta que dava para a rua. Os repórteres e suas equipes estavam todos lá, é claro. Não havia como mantê-los longe. Mas pelo menos ela tinha  espaço  para respirar.

Ela já prendera o distintivo no casaco e andou debaixo da chuva, até alcançar o local protegido pela cobertura impermeável que alguma alma caridosa havia colocado acima da cena do crime. Os pingos da chuva tilintavam melodiosamente sobre o plástico  transparente  e  rígido  da cobertura.

Ela reconheceu a capa de chuva e teve  de lutar desesperadamente para superar a pressão instintiva e rápida que sentiu no estômago. Perguntou se a cena do crime já havia sido varrida eletronicamente e gravada, e ao receber uma resposta afirmativa ela se agachou.

Suas mãos estavam firmes como uma rocha no instante em que ela esticou o braço na direção do capuz que cobria o rosto da vítima. Ignorando o sangue que formava uma poça gosmenta em volta de suas botas, Clarke  conseguiu disfarçar o susto e o sobressalto que sentiu ao puxar o capuz para trás e dar de cara com o rosto de uma estranha.

— Quem é esta mulher? —  quis saber.

— A vítima foi identificada como Louise Kirski, técnica do Departamento de Edição do Canal 75. —  A policial pegou uma agenda eletrônica no bolso de sua capa de chuva preta e brilhante.

— Ela foi encontrada aproximadamente às onze e quinze da noite, pelo repórter C. J. Morse. Ele vomitou todos os biscoitinhos que comeu bem ali ao lado —  continuou ela, demonstrando um leve  desdém pelo excesso de sensibilidade dos civis. —  Ele entrou por esta porta berrando feito um louco. A equipe de segurança do prédio foi verificar a história dele, e, como era previsível, deu o alarme. A emergência registrou a ligação às onze  e vinte e dois. Eu cheguei aqui no local às onze  e vinte e sete.

— Você conseguiu chegar bem depressa, policial?...

Peabody, tenente. Estava fazendo ronda na Primeira Avenida. Confirmei o  homicídio, lacrei a porta externa e solicitei policiamento extra e um investigador.

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