Motivo

371 42 34
                                    


Clarke  não teve  escolha. Levou-o com ela  e  o colocou atrás das grades. Depois de  uma hora,  tudo o que conseguiu foi uma dor de cabeça terrível e a declaração calma e inabalável de Marco Angelini de que ele assassinara três mulheres.

Ele recusou a presença dos advogados e também se recusou, ou não conseguiu, explicar a história com detalhes.

A cada vez que Clarke  lhe perguntava por que motivo matara, ele a encarava direto nos olhos e afirmava que tinha sido por impulso. Ele estava chateado com a mulher, afirmara. Sentia-se pessoalmente envergonhado pela intimidade pública da ex-mulher com um sócio. Ele a matou porque não conseguira tê-la de volta. Então tomou gosto pela coisa.

Tudo era muito simples e, na opinião de Clarke , muito ensaiado. Dava para vê-lo repetindo e melhorando o texto mentalmente antes de falar.

— Isso é mentira! —  disse ela abruptamente, e se afastou da mesa de interrogatório. —  O senhor não matou ninguém.

— Já disse que matei. —  Sua voz era assustadoramente calma. —  A senhorita tem a gravação da minha confissão.

— Então conte-me mais uma vez. —  Inclinando-se para a frente, ela espalmou as mãos na mesa. —  Por que o senhor pediu à sua mulher que fosse encontrá-lo no Bar Cinco Luas?

— Queria que tudo acontecesse fora de nosso meio. Achei que ia escapar sem ser pego, entende? Disse a ela que havia problemas com Randy. Ela não sabia por completo  do  seu problema com o jogo. Eu sabia. Sendo assim, é claro que ela veio.

— E o senhor cortou a garganta dela.

— Sim. —  Sua pele empalideceu ligeiramente. —  Foi tudo muito rápido.

— O que o senhor fez, então?

— Fui para casa.

— Como?

— Fui dirigindo. —  Ele piscou. —  Tinha deixado o meu carro estacionado a poucos quarteirões dali.

— E quanto ao sangue? —  Ela fixou o olhar dentro dos olhos dele, analisando as suas pupilas.

— Deve  ter havido muito sangue. Ela deve  ter espirrado muito sangue em cima do senhor. — As pupilas dele se dilataram, mas sua voz se manteve  firme.

— Eu estava usando um casaco comprido, impermeável. Joguei-o fora ao sair dali. —  Ele sorriu ligeiramente. —  Imagino que algum transeunte o encontrou e o pegou para seu uso.

— O que foi que o senhor levou consigo da cena do crime?

— A faca, é claro.

— Não levou nada que pertencesse a ela? —  Esperou um instante. —  Nada que pudesse fazer com que parecesse um assalto, ou um roubo?

Ele hesitou. Clarke  quase podia ver sua mente trabalhando por trás do olhar.

— Eu estava abalado. Não esperava que aquilo fosse tão desagradável. Planejara levar a bolsa dela, suas joias, mas esqueci disso e simplesmente corri.

— O senhor fugiu sem levar nada, mas foi esperto o bastante para se livrar do casaco respingando de sangue.

— Isso mesmo.

— E então o senhor foi atrás de Yvonne Metcalf.

— No caso dela, foi um impulso. Eu ficava sonhando sobre como tinha sido, e queria fazer de novo. Ela foi fácil. —  Sua respiração desacelerou e suas mãos ficaram paradas sobre a mesa. —  Ela era ambiciosa e muito ingênua. Eu sabia que David escrev ra um roteiro com ela na cabeça. Ele estava determinado a levar esse projeto até o fim, e isso era uma coisa em  que discordávamos. Isso me deixava chateado, e ia custar muito caro para a companhia, que, no momento, está com algumas dificuldades. Decidi matá-la, e entrei em contato com ela. Evidentemente, ela concordou em me ver.

In DeathOnde histórias criam vida. Descubra agora