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- Vai! fica do lado dela! cê sempre fica do lado dela! - o quê? Eu sabia que ia sobrar pra mim, tá falando da boca pra fora porque nós somos parceiros em tudo, principalmente nas tretas. Olho para minha mãe na esperança de uma ajuda e ela não desaponta.

- Claro que vai ficar do seu lado! - grita. 

Agradeço em pensamento a escapatória e tomo Vi levando-a para meu quarto. Iríamos para o mezanino, mas agora temos o luxo de ter um quarto cada um. Aretha vem junto e ouço a mamãe aos prantos, merda, a mãe quase nunca chora.

- O que aconteceu? - pergunto olhando Vi com a mão no rosto, nossa mãe tem a mão pesada.

- Ela deu um chilique porque eu decidi ser policial e ... - nem espero terminar. 

Claro que teria um treco, a mulher apanhou de cana, quase morreu, e a filha quer ser gambé. Abro a boca para desferir todos os insultos que consigo, mas Aretha sacode a cabeça como se tivesse mais.

- Foi por isso que ela te bateu? - insisto. 

A mãe raramente bate, ainda mais a gente grande assim. Vi não responde, Aretha senta-se na beirada da cama como a dama que é. Ouço cadeiras sendo derrubadas pela cozinha e Vi permanece em silêncio.

- Fala, desgraça! - Aretha chuta a cadeira na qual Vi tá sentada, o solavanco provocado pela senhora perfeição me dá certeza: Vi fez merda muito além de querer ser cana.

- Ela tava gritando comigo, meu, falou uma pá de coisas nada a ver – Vi começa a explicar e Aretha ajusta o decote, gesto de quando tá sem paciência.

- Ela disse que a Ati não é sua mãe de verdade - Aretha informa e quero pular no pescoço da ruiva, mas Aretha, como que lendo meus pensamentos, entra na frente - Eu não acredito que você acha que a mamãe é menos sua mãe porque somos adotadas - diz se virando para a nossa irmã caçula. Aretha é doida na mamãe, talvez mais do que eu, levo fé que deve estar arrasada também.

Saio do quarto vazado e bato na porta da minha mãe que tá chorando, o pai me manda sair, mas é o caralho que vou. Chuto a porta sabendo que se não abrir vou arrombar a desgraça nos próximos segundos. 

Finalmente o pai me abre a porra da porta e me lanço nos braços da mamãe que está de jeans e sutiã chorando em cima da cama. Abraço-a e descanso o rosto nos seios que não amamentaram a mim ou às minhas irmãs, até nisso somos iguais, nunca fez diferença entre qualquer um de nós e para ser sincero é preciso ser lembrado de que as meninas não nasceram dela.

Ela soluça e meu pai fecha a porta e se deita conosco, o choro é insistente e quando finalmente pára é porque pegou no sono. Vou ao banheiro da suíte e quando volto Thomas está vestindo o pijama na esposa, ajudo e vamos para a cozinha.

- Pai eu... – ele indica para que Vi cale a boca. 

Aretha entra com a garrafa de whisky e meu pai agradece com um aceno, claro, a senhora perfeição adivinha o que eles querem. Garota chata. Pelo menos tá do lado certo hoje, o meu!

- O que você tem que dizer é pra sua mãe, se ela te desculpar a gente conversa, até lá não! - em vão Vi segue atrás. A porta do quarto se fecha e ficamos em silêncio na cozinha. Meu celular vibra, é uma mensagem dele.

- Arruma suas coisas, você vai dormir com a Aretha.

- Ele tá me colocando pra fora?

- Não porra, tá te dando tempo pra esfriar a cabeça longe de mim, cê vai estar mais segura, pode crer.

Vou para o quarto porque preciso de banho e masturbação calmante, deveria ter ficado na casa da minha mina, dormido lá, teria me evitado lidar com a mina ingrata e ver minha mãe nesse estado. Assim que caio na cama o celular toca, imagino ser o Luiz, faz dias que não trocamos uma ideia, mas é Aretha.

FredOnde histórias criam vida. Descubra agora