31

10 3 37
                                    


O Luiz chegou e foi pra cama, Aretha para o flat, meus pais foram dormir e Vi assistiu TV até 23:55, eu continuo aqui, chorando como criança porque meu melhor amigo tá doente. A tia Luíza deve estar um caco, é foda, câncer é foda, o cara tá bem, curtindo os 18 anos e de repente boom, linfoma. Deveria existir uma regra pra isso no universo, só gente desgraçada fica doente, só gente ruim morre. São 2:00 em ponto, no celular acompanhei cada minuto dessas horas e cheguei a conclusão que a vida é inútil e simplesmente dolorosa.

Magüta me mandou uma mensagem, outra que tá zoando com minha cara, mas se tivesse topado namorar comigo eu não teria tido um aniversário tão perfeito nos braços da mina que não lembro o nome e da Cacá.

Tô com a cabeça zoada pensando em tudo que o Luiz pode passar, a Ati veio aqui, me mandou guardar a tristeza para as quatro paredes porque o cara não pode se sentir pior, tem razão, mas fiquei com a consciência pesada pelos últimos dias, ele tá passando por uma parada horrível e eu estava zoando porque tá magro e fraco. Sempre foi magro, mas eu meio que poderia ter sacado que a magreza de agora não era saudável.

- Que foi? - atendo o celular que vibra no meu peito.

- Você tá me atrapalhando a dormir, Banguela. - Aretha reclama do outro lado da linha.

- Como tô te atrapalhando se você tá do outro lado de Brasília?

- Porque sua angústia tá barulhenta e dá pra sentir daqui. - reclama com voz calma – Além do mais tem muita coisa acumulada...

- Não tem nada acumulado – interrompo.

- Pára de mentir e entrega o problema – ela repete – Eu sou sua guardiã, é meu dever te proteger. Você saiu de São Paulo magoado, pela segunda vez, vai contar o que aconteceu?

- Não!

- Fala.

- Vá tomar no cu! - mando.

- Talvez depois – ela diz e reviro os olhos - mas agora fala!

- Cala boca! - mando.

- Fala! - insiste.

- Minha mãe me contou sobre o Luiz.

- Lá em Santa Efigênia?

- Não.

- Então o quê rolou por lá?

- Dá pra falar do brother que tá morrendo ou cê vai pagar de enxerida madrugada adentro?

- Primeiro, o Luiz não tá morrendo – afirma carinhosa – não fale isso pra ele! - suspira - Segundo e mais importante, se a Dr. Furquim puder salvar um são-paulino fanático, tipo o Luiz, pode crer que ela vai fazer.

- Promete? - pergunto me encolhendo na cama.

- Prometo! - responde e sorrimos, mas meu riso logo vira gargalhada nervosa, desesperada. Quando dou por mim estou chorando de novo, Aretha não fala, me ouve, pacientemente. Minutos passam e não consigo parar de chorar, pra piorar tenho a desgraçada certeza de que um abraço da Pallaoro me faria sentir melhor.

- Me escuta – ela começa - o tratamento do Luiz é simples, meio doloroso como qualquer tratamento, mas tranquilo comparado com tipos de câncer agressivos. - ela assegura com voz doce - Ele vai começar sob os cuidados da doutora Furquim, conhece? - pergunta fazendo graça, mas não paro de chorar – eu conheço, a doutora é foda, ela é pesquisadora, não só médica de consultório, tá ligada em tratamentos tradicionais e experimentais mundo afora. - passo as costas das mãos nos meus olhos - É especialista em três áreas diferentes e vai pagar o melhor tratamento que existe, do bolso dela. O Luiz vai ter acesso a tudo de melhor que a medicina do Brasil puder oferecer. O tratamento vai ter quatro etapas, por enquanto – continua explicando devagar, mas paro de ouvir, tô sem condição de entender o que tá falando.

FredOnde histórias criam vida. Descubra agora