46 - Coturnos, cigarros e futuro - parte I

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Os próximos dois capítulos reservam um papo de afeto, desses que gostaríamos de ter em algum momento. Teremos desabafo e alguém vai abrir o coração e mostrar as inseguranças, mas não é preciso lenço, prometo.

Capítulo dedicado à CrushandBurned  que também ama as mulheres que educam meninos para serem homens.

Estamos no capô do carro, ao nosso redor tudo escuro e quieto, ao longe umas poucas luzes de mansões permanecem acesas. Ati ajusta o coque que prende os cabelos escuros, a cada movimento dos braços o perfume bom de canela me alcança, ela encolhe as pernas e alcança o cigarro escondido no bolso do coturno.

Deixo escapar meu sorriso, e o esqueiro brota na sua mão esquerda, por um instante posso admirar os olhos de água suja. Ela traga devagar, enche o peito e o decote da lingerie estufa, me passa o cigarro e vira para frente, repito seu gesto e antes de dar minha tragada estamos lado a lado.

- É estranho que minha relação com você seja diferente?

- Que diferente?

- Às vezes eu te vejo como mãe, outras como melhor amiga, e outras como mulher do Thomas, como se você tivesse vários lados.

- Não é estranho, toda mãe é assim, mas os filhos tão sempre perdidos no próprio mundo, às vezes é difícil ver a mãe como mulher, e acontece também com os pais.

- Eco!

- Eco o quê, moleque! O Alemão é a melhor da trepa da minha vida. - entrego o cigarro sorrindo. - Você implica muito com seu pai porque se ele tivesse dito que eu sou a melhor foda da vida dele você teria revirado os olhos ao invés de sorrir.

- É diferente, mãe – argumento, minha boca começa a ficar seca – quando ele fala é totalmente cringe, mas quando você fala é normal - ela traga e olha para o nada - Você já traiu o papai?

- Não – responde sem ter de pensar - mas como disse ele é a melhor trepa da minha vida.

- E como você pode saber se não experimentou tudo? - pergunto pensando mais em mim do que neles.

- É esse seu medo? - coloca atrás da orelha a mecha de cabelo que se soltou do coque

- Quem disse que é medo? - interrogo e ela olha para longe, depois torna a cabeça para mim. A maconha já bateu porque ela parece falar em câmera lenta, ou vai ver bateu em mim e já tô lerdo.

- Vi na minha bola de cristal! - diz, mas não acho graça.

- Porque sempre que eu tenho medo e dúvidas sobre o futuro você parece tranquila e certa de como tudo será?

- Porque sou sua mãe, quero coisas maravilhosas pra você! Digo com convicção porque sei que você será feliz.

- Não como vocês – digo devagar - vocês – explico - criaram um padrão impossível de alcançar, eu e minhas irmãs acompanhamos vocês, nós sabemos o que é O feliz para sempre. - enfatizo a última parte

- Cada um tem seu jeito de ser feliz, e felicidade não se compara Frederico! - coloca as mãos no coturno, depois estica as pernas sobre vidro dianteiro do carro e se apoia nos braços.

- Firmeza! Então como será? - eu desafio.

- O quê?

- Meu futuro feliz – pergunto e descanso o torço completamente no capô. Deitado olho o céu sem estrelas, mas ainda sim está bonito – conta aí!

- Você vai se apaixonar centenas de vezes – diz, depois torna a olhar para o horizonte – Vai se machucar e machucar outros no processo, mas vai escolher a mulher certa.

FredOnde histórias criam vida. Descubra agora