1 - Odeio Brasília- parte I

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- Pai?

- Oi.

- Como você sabia que a mãe era a mulher da sua vida? - pergunto e paramos no sinal. 

Sei que vai enrolar pra responder, os dois sempre pensam bem antes de falar, a diferença é que ela sempre sabe o que dizer, como se já tivesse parado para pensar em tudo, descoberto todas as respostas da vida. Devia ter perguntado a ela, mas desde que mudamos para essa cidade idiota é impossível ver a mãe, tá na clínica ou no hospital, quando finalmente tá em casa o pai não larga.

- Eu tive muitas dúvidas sobre sua mãe, eu e ela...

- Vocês iam e voltavam?

- Não. Ela não sabia o que passava na minha cabeça ou fazia ideia de quem eu era, nós somos desses casos de gente que se encontra, sem explicação, mas depois que conheci sua mãe o mundo ficou diferente, como se tudo fizesse sentido, eu descobri que minha vida não precisava ser – procura as palavras – como eu imaginava.

- Cê tinha um plano então, de como seria sua vida?

- Claro que sim! Cada mínimo detalhe programado.

- E quando cê encontrou ela, tudo mudou?

- Não quando eu encontrei, moleque, mas quando decidi fazer alguma coisa, quando decidi que ia ficar com ela.

- Então quando vocês se encontraram você ainda não sabia?

- My goodness, kid! (1) - acho graça, a mãe diz que pergunto mais que jornalista investigativo, passa a mão nos cabelos – não, mas de repente sua mãe começou a ser uma constante nos meus pensamentos, eu achava que não ia dar certo, colocava um monte de impedimentos porque ela era comunista e eu de direita... - olha para pista como se lembrasse do passado - mas teve um dia, O dia, na verdade, que entendi. Eu era dela, completamente – olha para mim e sorri - Sua mãe chegou na minha vida tirando as coisas do lugar e colocando os coturnos na mesa, com meia dúzia de palavrões arrancou minha existência da mesmice e...

- Entendi! - eu corto - Não precisa ficar romântico! Cê poderia ter parado de falar antes de dizer que era de direita, tá ligado? Basicamente ela te salvou da cretinice.

- I beg your pardon (2)?

- Sorry!

- Mas você tá certo, ela me salvou - concorda - Tá entregue Frederico!

- Não quero descer.

- Desce!

- Frederico Northcott!

- É Furquim e eu não quero descer nessa merda de desgraça de colégio cheio de playboy do caralho - olha esse lugar!

- Só por mais uns meses moleque. Eu já consegui as vagas, mas vocês vão vai ter de esperar até ano que vem para ir para o outro colégio, além do mais tá acabando, logo você sai do ensino médio. Tem dinheiro?

- Tenho – não quero descer.

- Camisinha? - cê tá perguntando se tenho camisinha? Meu dia acaba de ficar pior - claro, porra! Mas cê acha o quê, que essas mina aqui são interessante? bando de mina nojentinha e... - ri enquanto falo – qual a graça?

- Porque na sua idade eu morria se uma menina falasse comigo. Você tem as garotas aos seus pés, se dá ao luxo de escolher e ainda reclama.

- O que eu posso fazer? Sou bonitão com o sex appeal(3) da mãe!

- De onde você tirou isso?

- Meu avô. Disse que você não levava jeito com as garotas e que a mamãe é mulher demais pra você - a última parte foi o tio José quem disse, mas ver sua cara de puto é impagável.

FredOnde histórias criam vida. Descubra agora