No capítulo de hoje um pouco do passado dos Furquim, o Fred já sabe de quase tudo, mas você, caríssimo leitor, ainda não. Confesso que foi meu capítulo preferido de escrever porque invejo o Brasil do Frederico, não sei se chegarei a tê-lo, mas seria maravilhoso contribuir para um futuro desses.
O centro de São Paulo vai ficando mais tranquilo e caminhamos juntos, atravessamos ruas e avenidas, finalmente subimos na calçada do Viaduto do Chá a caminho do Theatro Municipal. Paramos rapidamente para apreciar o prédio, minha mãe e José são doidos pelo lugar, sem falar no meu pai que se deixarmos passa horas te explicando sobre a arquitetura.
Tô ansioso, confesso, não faço ideia do que será meu presente, damos a volta e entramos por uma das portas laterais que costuma ser usada por artistas e funcionários, somos recebidos por dois seguranças que nos cumprimentam e fecham as portas em seguida, seguimos por corredores, uns estreitos, outros nem tanto e chegamos à nave.
Esse lugar é maravilhoso! Poucas luzes estão acesas entre os balcões e uma frágil iluminação no centro do palco, o Theatro Municipal de São Paulo era lindo, mas depois da reforma mais parece cenário de sonho, o cheiro de madeira e verniz ainda paira no ar, pode crer que foi uma fortuna, mas tão bem feita que valeu cada centavo.
Esperando por nós está um cara, ele e Ati se abraçam. É negro, bonitão, mais baixo do que ela e cheio de tatuagens, no braço a maior é o escudo do São Paulo. Ela retira a mochila das costa e coloca na cadeira, me apresenta o tiozão e pergunta se pode subir no palco.
- O Theatro é seu – ele responde. Não sei quem é o cara, mas tô ligado que conseguir uma parada dessas não é fácil.
- Como você e a mamãe se conhecem?
- Estudamos juntos, desde pequenos, éramos próximos até ela ir pra Brasília.
- Como nunca te vi lá em casa?
- Eu mudei – explica - voltei pra cá há pouco tempo – tem sorriso bonito, cabelos quase raspados. Ati some entre as cortinas.
- Como era ela na minha idade, mudou muito?
- A Furquim? Mudou e não mudou. - responde - Sua mãe e eu estudávamos em Santa Cecília, ela era a menina mais bonita do colégio, tinha uma boca suja que assustava todo mundo, mas era tão doce que dava vontade de pegar no colo - reviro os olhos e já interrompo.
- Vocês namoraram?
- Namorar não, mas fomos o primeiro beijo um do outro - ele ri – foi quase impossível porque seus avós – ele lembra - e bisavô não tiravam os olhos dela.
- Nada a ver – defendo - meus avós não eram controladores! - já ouvi histórias demais sobre os dois.
- Controladores não, ciumentos, o Augusto e seu Fredinho não deixavam nenhum cara sozinho com a Ati, seu bisavô fazia questão de buscá-la depois da escola, hoje eu entendo, faço a mesma coisa pelas minhas filhas – sorri de novo - nosso primeiro beijo teve de ser escondido, num passeio que o professor de História nos levou - Sorrimos.
- Bem a cara da minha mãe trapacear o patriarcado.
- Fomos amigos até ela ir embora de São Paulo.
- Ela foi embora quando meus avós morreram, você os conhecia? - o homem abaixa a cabeça triste.
- Todo mundo no colégio conhecia e curtia seus avós, o Augusto era o sonho das meninas.
- Por que mulher gosta de homem mais velho? - pergunto me sentindo à vontade, se o cara é amigo da Ati não tem filtro.
- Meu, não sei explicar – ele coça o braço - deve ser pelo mesmo motivo que nos interessamos por mulheres mais velhas – dá de ombros - tenho certeza que algum amigo seu já elogiou sua mãe.
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Fred
Romance- Fala pra mim que isso é menstruação! - pergunto arrancando o plástico sujo de sangue e ela fica em silêncio. Não, não era, minha vida feliz com passarinhos cantando o hino do São Paulo e cheia de livros foi invadida pelo caos, Olívia é o caos, est...