28 - O presente - parte I

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No capítulo de hoje um pouco do passado dos Furquim, o Fred já sabe de quase tudo, mas você, caríssimo leitor, ainda não. Confesso que foi meu capítulo preferido de escrever porque invejo o Brasil do Frederico, não sei se chegarei a tê-lo, mas seria maravilhoso contribuir para um futuro desses.

O centro de São Paulo vai ficando mais tranquilo e caminhamos juntos, atravessamos ruas e avenidas, finalmente subimos na calçada do Viaduto do Chá a caminho do Theatro Municipal. Paramos rapidamente para apreciar o prédio, minha mãe e José são doidos pelo lugar, sem falar no meu pai que se deixarmos passa horas te explicando sobre a arquitetura.

Tô ansioso, confesso, não faço ideia do que será meu presente, damos a volta e entramos por uma das portas laterais que costuma ser usada por artistas e funcionários, somos recebidos por dois seguranças que nos cumprimentam e fecham as portas em seguida, seguimos por corredores, uns estreitos, outros nem tanto e chegamos à nave.

Esse lugar é maravilhoso! Poucas luzes estão acesas entre os balcões e uma frágil iluminação no centro do palco, o Theatro Municipal de São Paulo era lindo, mas depois da reforma mais parece cenário de sonho, o cheiro de madeira e verniz ainda paira no ar, pode crer que foi uma fortuna, mas tão bem feita que valeu cada centavo.

Esperando por nós está um cara, ele e Ati se abraçam. É negro, bonitão, mais baixo do que ela e cheio de tatuagens, no braço a maior é o escudo do São Paulo. Ela retira a mochila das costa e coloca na cadeira, me apresenta o tiozão e pergunta se pode subir no palco.

- O Theatro é seu – ele responde. Não sei quem é o cara, mas tô ligado que conseguir uma parada dessas não é fácil.

- Como você e a mamãe se conhecem?

- Estudamos juntos, desde pequenos, éramos próximos até ela ir pra Brasília.

- Como nunca te vi lá em casa?

- Eu mudei – explica - voltei pra cá há pouco tempo – tem sorriso bonito, cabelos quase raspados. Ati some entre as cortinas.

- Como era ela na minha idade, mudou muito?

- A Furquim? Mudou e não mudou. - responde - Sua mãe e eu estudávamos em Santa Cecília, ela era a menina mais bonita do colégio, tinha uma boca suja que assustava todo mundo, mas era tão doce que dava vontade de pegar no colo - reviro os olhos e já interrompo.

- Vocês namoraram?

- Namorar não, mas fomos o primeiro beijo um do outro - ele ri – foi quase impossível porque seus avós – ele lembra - e bisavô não tiravam os olhos dela.

- Nada a ver – defendo - meus avós não eram controladores! - já ouvi histórias demais sobre os dois.

- Controladores não, ciumentos, o Augusto e seu Fredinho não deixavam nenhum cara sozinho com a Ati, seu bisavô fazia questão de buscá-la depois da escola, hoje eu entendo, faço a mesma coisa pelas minhas filhas – sorri de novo - nosso primeiro beijo teve de ser escondido, num passeio que o professor de História nos levou - Sorrimos.

- Bem a cara da minha mãe trapacear o patriarcado.

- Fomos amigos até ela ir embora de São Paulo.

- Ela foi embora quando meus avós morreram, você os conhecia? - o homem abaixa a cabeça triste.

- Todo mundo no colégio conhecia e curtia seus avós, o Augusto era o sonho das meninas.

- Por que mulher gosta de homem mais velho? - pergunto me sentindo à vontade, se o cara é amigo da Ati não tem filtro.

- Meu, não sei explicar – ele coça o braço - deve ser pelo mesmo motivo que nos interessamos por mulheres mais velhas – dá de ombros - tenho certeza que algum amigo seu já elogiou sua mãe.

FredOnde histórias criam vida. Descubra agora