24 - Darueira - parte II

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Ouço e quase derrubo o pote com o susto. Como pode uma mina silenciosa tipo a Vi, reaça que pariu! Fecho a geladeira e volto para a mesa.

- Fred se cê colocar mais uma colherada vai virar mostarda com carne. Espera, isso é café com leite? Meu, você tá me comendo mostarda, carne e café? - responderia, mas tô de boca cheia, a carne tá do jeito que eu gosto, seladinha e suculenta pra caramba.

- You wouldn't be more british even if you were born there (1).

- Fuck you! - it is all I menaged to say (2). Eu tava com fome, porra!

- Você quer um bolo de aniversário? - ela pergunta – eu posso fazer o de chocolate com coco que você gosta.

- Fuck, yes! - ela sorri, levanta-se e volta com um pano limpando minhas mãos sujas de sangue.

- Quem lambe os dedos é só a mamãe, quando cê faz é esquisito – what?

Ofereço um pedaço torcendo pra que ela recuse, agradece, mas diz que tá na semana vegana, invenção da Aretha. Temos uma semana vegana e outra vegetariana no mês, ela não tá errada, é bom para o corpo e para o planeta, a minha é semana que vem, e hoje posso comer a morte, que meus pais com grana podem pagar. Passo mais café e a mana me começa um interrogatório sobre a Magüta.

- Não foram oito encontros, foram quatro, eu vou lá todo dia pra ganhar pontos, levo uma rosa, bebo no balcão e fico olhando ela trabalhar pelo vidro da cozinha.

- Vai apresentar ela pra gente? - o Luiz me fez a mesma pergunta hoje cedo.

- Não sei, Vi, é muita pressão. - ela faz cara feia – Não por causa de vocês, mas vai que a gente não dá certo? Trazer a mina aqui em casa... - agradece o café, dá um beijo nos meus cabelos e sai. A mina me veio aqui só porque sentiu o cheiro do café e queria filar.

Na sala Eros continua admirando sua mistura de psiquê com Afrodite. Me agacho ao lado e lhe entrego a caneca que trouxe, agradece, tem o sorriso bonito, lábios cheios e rosados, como os meus, às vezes é meio apavorante ser igual a ele, é bom e confuso ao mesmo tempo.

- Meu, vocês vão ficar me vigiando? - Filha da mãe! Eu me assusto e derramo café quente na bermuda, mas ela continua imóvel e de olhos fechados, há quanto tempo tá acordada? meu pai se levanta sorrindo e vai para o escritório assoprando a bebida antes de tomar um gole.

Me aprontei às pressas porque Magüta me chamou para pegar um cinema, depois do filme, que não faço ideia do que era, vamos para um barzinho na W3 Sul, a cozinheira é amiga dela e recebemos drinks e petiscos por conta da casa.

A gata me conta da faculdade e ouço atento, a Mah é linda, gosto do estilo dela, os dreadlocks e cabelo raspado em cima da orelha contrastam com o jeito discreto e simples de se vestir, quem vê nunca diria que a garota toca acordeão e tem linda voz. Ela reclama do professor de Morfologia do Português que tá sendo estúpido e pergunto o nome do cara prometendo aparecer na UnB e me arrebentar a cara dele, gargalha achando graça, a proposta era de verdade, mas tudo bem.

Lábios carnudos, queixo fino, sorriso branquinho, a pele negra é tão macia que parece ser hidratada 24 horas por dia, Magüta deve ser tão bonita quanto Olívia, falta o fogo da italiana que parece ser um vulcão prestes a explodir, uma bomba complicada enquanto a Mah é essa gatona quieta, sexy pra caramba, talvez porque seja mais velha do que eu Olívia.

Estamos saindo há pouco mais de um mês e nada de sexo, estranhamente não tô desesperado, gosto de ouvir a voz dela, sorrir das coisas que fala, tem senso de humor sardônico, mas tudo bem, é engraçada do jeito dela, é inteligente e tudo que fala é interessante.

FredOnde histórias criam vida. Descubra agora