35 - Útero: função homicídio - parte I

15 3 43
                                    

- Get in (1)! - meu pai diz quando ainda tenho a maçaneta nas mãos.

- What happened (2)?

- Your sister is (3)... - começa a dizer, mas Vi entra na sala completamente descabelada e com a mão no ventre.

- Eu vou morrer de cólica! - diz chorando e me abraça. O pai retira a mochila das minhas costas e pego Vi no colo.

- O que você tomou? - pergunto levando-a para o meu quarto.

- Tudo que encontrou no caminho – Thomas responde.

- Faz uma compressa morna, por favor – peço me virando para ele – cadê minha mãe? - pergunto bem alto porque ele já está na cozinha.

- No hospital de Base – informa em voz alta - vão fazer uma cirurgia de emergência num detento que foi esfaqueado na cabeça, a cirurgia é delicada e ela quis acompanhar.

Retiro a colcha e acomodo minha irmã sobre os lençóis. Com duas médicas, e uma futura, na família aprendi que cada profissional tem seu perfil, o da Ati é a procura por adrenalina, faz questão de continuar batendo plantões emergenciais, atende no presídio feminino sempre que possível e se não fosse pelo meu pai aposto que seria daquelas médicas de zona de guerra.

- Vou jogar uma água no corpo e já volto - aviso minha irmã que se revira de dor.

Tenho a maior pena das minas que sofrem de cólica, Aretha é a que mais sofreu, já as cólicas da Vi são raras, mas quando tem é dessas que parece que vai morrer, não invejo as mulheres, sabendo como as duas tem uma desgraçada resistência à dor levo fé que cólica deve doer tanto, ou mais, que um chute no saco.

Deixo o banheiro e papai vem entrando com meu pedido, arranco a toalha e ele fecha os olhos, encabulado dá as costas e sai, reviro os olhos, não tenho vergonha da minha nudez e ele estava no meu quarto, problema seu. Vi tem os olhos fechados, mas já viu a cena mais vezes do que posso contar.

Visto cueca, calção e deito de conchinha abraçando minha irmã, ela se deixa puxar e coloco a bolsa térmica sobre seu ventre, Vi chora e nosso pai retorna com um copo de whisky, então senta-se na cama afagando os cabelos da filha.

Thomas não sabe como agir quando sentimos dor, meio que se desespera, mas fica por perto, de guarda, como se dissesse que estamos seguros. Vai dizer alguma coisa quando Aretha entra chorando e senta-se no seu colo.

- O que aconteceu? - pergunta em pânico, a garota não chora nem se estiver morrendo.

Ela responde e fecho os olhos, estamos fodidos com duas mulheres morrendo de cólica. Ele coloca a garota na minha cama e as duas ficam de conchinha. O que nós vamos fazer? Que coincidência maligna é essa? Seja o que for a lua deve estar vermelha e se o pão cair será com a parte da manteiga para baixo!

- Não tem whisky o suficientemente no mundo! – digo - precisamos de outra coisa - nos levantamos e peço para que ele prepare mais compressas mornas enquanto vou ao escritório, minha mãe tem umas bebidas diferentes que ganha dos pacientes, alguma deve ajudar a lidar com...

Paro diante do cofre aberto, sem saber o porquê pego dois diários e escondo na gaveta da mamãe, não é correto, mas tô pilhado para ler mais pensamentos secretos do papai e sabe lá que chance eu terei de fazer isso de novo. Não é culpa minha, o cara é impossível de ler e eu meio jornalista investigativo, é como se ele fizesse de propósito.

Na estante de bebidas escolho a tequila e uma garrafa de vodka russa toda decorada de vermelho, deixo o escritório e encontro as meninas rolando de dor, mano, ser mulher tem seus lados merda, ponho as garrafas sobre a escrivaninha e me deito contra a parede.

FredOnde histórias criam vida. Descubra agora