43 - Ironias, fotos e whisky

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No capítulo de hoje temos fotos, uhuuuu!

Acordo, a nonna já não está na cama e me arrasto para o banheiro do corredor, ouço José cantando lá dentro e coloco o braço na parede, é bom ele não demorar porque quero mijar. Tia Duda vem caminhando devagar, esfregando os olhos, pára diante de mim e olha de cima embaixo, por último mira meu rosto e sorri se aproximando.

- Você não é mais um menino – diz e toma meu rosto, não sorrio, não sou menino há muito tempo.

Suas mãos abandonam meu rosto e deslizam pelos ombros, Duda é a mais jovem dos nossos pais, quatro anos mais nova do que minha mãe o que faz dá a ela... 43 anos? É bonita e simpática, mas nesse momento deveria tirar a mão de mim porque é mãe da Olívia e não sei se gosto dela, aliás não gosto das duas.

José deixa o banheiro, os olhos verdes param em mim, mas sei que não me vê, enxerga Thomas, dá para saber pelo vinco na testa, o carinho que tem por mim se dissolve e vira outra coisa, não propriamente raiva, mas não é bom. A Ati escolheu meu pai, supera que dói menos! eu deveria dizer. Por fim passa a vista de cima embaixo.

- Acho que já passou da idade de andar de cueca na minha casa – diz e enrola a toalha amarela no pescoço. Duda sorri e beija o ombro molhado do marido, entro no banheiro e tranco a porta.

 Mais uma coisa que deve amargar, o quanto Thomas é mais gostoso do que ele, não tem como comparar, meu pai se cuida para a mulher, enquanto José bebe breja, trabalha e faz sexo, mais nada. Meu pai é superior a você em tudo, corintiano de merda! Aliás quero ir embora!

Preciso voltar pra casa, SP ou não, meu lugar é onde minha família está. Saio do banheiro e vou para a cozinha, tia Duda passa o café, José entra e logo nonna vem atrás, esta última me conta sobre a amiga que visitou no hospital e como andam as coisas no ateliê.

Olívia também vem para a cozinha, mas ignoro e ouço com atenção minha avó postiça reclamar dos cortes de tecido errado que as estudantes de moda, que emprega como estagiárias, têm feito. Começamos a comer e os observo, amo a todos, mas pela primeira vez não me sinto em casa.

- Eco! - Olívia diz quando o pai aperta o bumbum da esposa – eu vou vomitar meu café!

José não se importa e quando tia Duda estica o braço entregando o pão para a filha o marido vem por trás e lhe aperta os peitos. Olívia faz sons de nojo, sorrindo a nonna repreende o filho e bebo meu café sem emitir um som.

Prefiro meus pais, Thomas tem classe, não toca a esposa na frente dos outros, ele contempla, faz aqueles olhinhos de desenho animado em forma de coração, enlaça Ati num abraço quente, mas educado, dançam, sorriem e papai se perde nos olhos de mel da esposa, como eu disse: CLASSE! Faço nota mental de nunca mais reclamar dos dois.

No quarto da Olívia não encontro registro da noite gostosa/desastrosa que tivemos e descubro que minha mochila está agora sobre a cama da nonna, depois do banho visto jeans e a camiseta do meu tricolor paulista, minha ex vizinha está pronta, aparentemente Vi a fez prometer que me acompanharia porque não sei comprar "porra nenhuma", então vamos silenciosos à Liberdade.

As últimas horas passadas em SP foram ruins, acomodo-me na poltrona do avião e uma mulher senta ao meu lado, loura, bonita, parece jovem apesar da maquiagem pesada.

Para meu desespero seu telefone toca e ela começa a conversar, ouço gritinhos sem fim e estou decido a arrancar o celular das suas mãos e descartar na privada do avião.

- Com licença – eu digo cutucando seu braço – você está atrapalhando.

- Nós ainda não decolamos, eu posso usar o celular – justifica.

FredOnde histórias criam vida. Descubra agora