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Estaciono o carro da frente do nosso prédio e uma menina vem correndo contra a porta como fugindo de alguém, tem o rosto vermelho e marcado por lágrimas.

- O que foi pequena? - Luiz é o primeiro a perguntar se abaixando para ficar na altura dela.

- Meu irmão quer me bater! - diz e no mesmo instante um garoto rosado vem atrás bufando.

Luiz se coloca de pé e o menino passa por mim, direto para a irmã, fecha o punho pra dar um soco e só não acerta porque puxo pela gola da camisa, ele esbraveja e me chuta, mas não solto seu colarinho e ele meio que fica dançando, é engraçado porque acha que pode me machucar.

Até perguntaria o motivo da briga, mas tô sem tempo e sem vontade. Solto o garoto que cai de cara no chão, olha para a irmã prometendo matá-la quando estiverem sozinhos e some dentro do prédio, vacilei, deveria ter pensando que qualquer coisa que eu fizesse sobraria pra ela.

- O que aconteceu? - Luiz pergunta sentando na calçada – porque ele queria te bater?

A menina linda e indefesa demora a responder, está aos soluços, as mãozinhas pequenas e frágeis esfregam os olhos.

- Ele me bateu no colégio e daí a tia disse que ele não podia jogar bola, quando a van deixou a gente ele puxou meu cabelo pra eu cair e me chutar, mas eu sai correndo porque ele faz isso o tempo todo – ela estende o braço que tem três marcas roxas e uma vermelha.

- Tem que contar para os seus pais! – Luiz explica antes que eu abra a boca.

Me sento do outro lado dela e a pequena conta que os pais não acreditam, mesmo quando a professora confirma. Minha vontade é ir atrás do moleque e dar tanto safanão que ele vai ficar tonto! Ela continua contando coisas aos soluços, o corpinho pequeno sacudindo e o nariz já cheio de meleca, pára para respirar e em seguida nos diz que o irmão ainda chama ela de feia e estranha pra todo mundo no colégio.

- Mas você é linda! - eu e meu brother dizemos ao mesmo tempo.

- Quantos anos você tem? - pergunto.

- 8 anos.

- E seu irmão? – Luiz pergunta.

- Ele tem 11, mas reprovou muitas vezes então estuda comigo.

- Eu não vou deixar ele te bater de novo, e você é uma princesa! – ele sorri exibindo as covinhas - se eu já sou um negão estampa, imagina se eu tivesse um olho verde e um azul como os seus! - sorrimos os três.

Ela assoa o nariz na gola da camisa e enquanto faço cara de nojo, Luiz pede permissão para limpar suas lágrimas. Sorrio para meu amigo que será um bom pai, nossos filhos serão melhores amigos e vou o ter o privilégio de passar vergonha nele a vida toda, o Luiz não pode morrer, simplesmente não pode.

- Eu conheço você – olha pra mim como se somente agora me visse – mas nunca te vi – informa ao meu amigo.

- É porque ele é muito feio – ele diz e reviro os olhos - vim ajudar essa girafa a ficar menos feiosa – Luiz explica fazendo a menina sorrir e dou um peteleco na aba do seu boné.

- Seus pais estão em casa? - pergunto.

- Não, eles só chegam à noite, perto da hora de dormir.

Estendo a mão para a menina e entrego as sacolas de compras para o Luiz. Eu mesmo dou um jeito no irmão dela.

- Frederico – o porteiro chama e dou meia volta indo até ele - os pais da menina não são fáceis de lidar.

- Mas ela tá apanhando do irmão! - Luiz exclama antes de mim.

FredOnde histórias criam vida. Descubra agora