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- Vocês precisam parar de se estranhar! - Ati diz recostada na sua mesa.

Estamos no escritório para a reunião de família, Aretha e Vi ficaram do meu lado, aqui em casa ninguém tolera mentira e teriam feito a mesma coisa no calor do momento, eu acho.

- Eu não tenho culpa em nada do que tem acontecido - Thomas cruza os braços sobre o peito. - O Frederico está fora de controle faz tempo!

- Eu sei! - minha mãe diz cerrando os olhos para mim, fato é que estou doido varrido desde que beijei Olívia, desde aquele momento não consegui me encontrar. - O problema já foi resolvido, eu e o Fred conversamos! - ela informa.

O que chama de conversa foi ter me dado uma surra no tatame, tô com o lábio superior inchado, a cabeça latejando e coxa esquerda está roxa. Depois que o terceiro chute me derrubou sentou-se ao lado do meu corpo moribundo e prometeu que a próxima vez que eu não souber me controlar vai esmagar minhas bolas garantido que não terá um neto vindo de mim.

- Desculpas! - peço com os olhos em Thomas.

Ati observa o esposo que faz cara de envelope pardo, indecifrável como sempre, ele move o queixo quase imperceptivelmente e ela pisca, a mensagem foi entendida, seja lá qual for.

- Frederico você está em período probatório.

- Vocês farão o quê? - levanto da fofa poltrona de leitura – me exonerar como se eu trabalhasse aqui? Me jubilar ou colocar pra fora?

- Se você demonstrar respeito e agir como homem não vai descobrir! - Thomas explica deixando sua mesa e tomando a mão da esposa.

Deixamos juntos o escritório. Opto por ficar calado, minha coxa tá doendo pra caralho e imaginar semelhante dor no meu saco é um lembrete do que a Ati é capaz, e ela cumpre o que promete, ou seja, preciso morder a língua para não falar merda e torcer para que mais nenhuma garota doida e egoísta apareça na minha vida.

Virgens dão asar, só pode, ou vai ver é castigo dos céus por eu ter tocado em uma corintiana, nunca mais fodo uma virgem, ou corintiana, ou italiana... quer saber? Vamos fechar o pacote para garantir, nunca mais fodo uma virgem corintiana, descendente de italianos! Amanhã reconheço firma em cartório, só para garantir!

Xis e Luiz estão na cozinha, como se fossemos sei lá o quê dois se levantam da mesa e imediatamente encaram o piso. Só lembrei do manos quando voltei para casa, ou seja, há quatro horas atrás.

Fingi que entraram comigo quando cheguei, meus pais não notaram porque depois dos nossos gritos Xis e Luiz trancaram-se no meu quarto e nem descarga deram. Mas fizemos bem porque se meu pai descobre que tinha dois caras ouvindo o que ele fazia com a esposa na "noite romântica" meus brothers vão morrem na tenra idade.

- Xavier! - Thomas diz cumprimentando, o mano franze a cara como se tivesse sido ferido, tem horror ao nome, mas meu pai não chama ninguém pelo apelido.

- Porque você tá aqui, moleque? - minha mãe diz sentando-se no lado direito.

Meus amigos sentam-se no lado oposto e ajudo as meninas a colocar a mesa do café enquanto Thomas bebe quase um litro de água de uma vez. É por isso que o bicho tem a pele jovem, o cara é mais hidratado que peixe de água doce.

- Tive um desentediamento com meus pais e pensei que talvez você pudesse falar com eles.

- Do que se trata? - Thomas pergunta sentando ao lado da esposa.

- Decidi abandonar a faculdade e eles não respeitam o que eu quero fazer da vida.

Ati pisca e sacode a cabeça entendendo, sirvo seu leite com café e meio pão francês com manteiga, depois fico ao lado aguardando Vi picar umas poucas frutas.

- Não posso te ajudar! - a mamãe responde sem pensar muito e o Luiz levanta as sobrancelhas, como eu, nunca teve perrengue que a Ati se recusasse a ajudar, todos os meus amigos corriam pra minha casa, tipo, nós éramos o porto seguro dos mais loucos bagulhos. - Direito é tradição da sua família há dois séculos, dois séculos – ela enfatiza – advogar tá no seu sangue e você é filho único, não tem como te ajudar, eu escapei da morte muitas vezes pra ser morta pelos seus pais – diz de boca cheia – advogado é bicho vingativo e prefiro encarar tiro do que sua mãe numa audiência.

Xis faz sua melhor cara de cachorro sem dono, já vi a cena algumas vezes e me preparo para lhe dar um tapa na nuca porque sua vista sempre vai parar no decote da minha santa mãe. Curiosamente seus olhos desviam para o meu pai e ele abaixa a cabeça, espera, o bicho passou reto do decote? Eita poxa, o caso é sério. Vi termina com as frutas e Aretha toma seu lugar ao meu lado, a cabeceira da mesa é minha desde sempre.

- Talvez você consiga conciliar com a faculdade – sugere carinhosamente. Xis sacode a cabeça e os cabelos castanhos se movem um pouco, ele coloca os cotovelos na mesa e enterra a cabeça nas mãos. - Você pode pegar poucas matérias, só duas por semestre, assim você consegue fazer o que quer e também satisfazer seus pais.

- Eu não quero assim! - diz esfregando o nariz, esse é um dos tiques dele, aliás Xis é o cara certo se você quer ganhar dinheiro fácil e joga póquer. O bicho esfrega o nariz quando está frustrado e bate o pé direito quando está contente.

- Não dá pra ter tudo na vida, Xis – Vi interfere. Ele fita a mana e os olhos param no decote, ok, o bicho tá bem, vou ter de matar o cuzão, mas tá bem – o que você quer fazer, afinal?

- Quero desenhar para estampar camiseta!

Ati engasga com o pingado, tosse, gargalha e larga o pão na mesa, meu pai sorri sossegado, olha para baixo sacudindo a cabeça. Aretha esconde o rosto nas mãos e Luiz aproveita para tirar uma casquinha deitando a cabeça no seu ombro.

- Meu, na real! - Ati fala por fim – agora eu também vou ficar irritada se você não fizer Direito.

- Mas tia! - ele interrompe esfregando o nariz com as costas da mão.

- Maluco faz algumas matérias, não custa garantir, abrir um negócio é mais do que talento. - Luiz diz – ninguém é melhor do que eu em consertar eletrônicos, mas eu tô estudando, não abrindo negócio!

- Mas o que você quer fazer é relacionado ao seu curso superior. - Xis diz pescando rodelas de banana e pêssego na tigela.

- Eu vou pensar em alguma coisa e troco uma ideia com a sua mãe.

- Promete? - esperançoso fita minha mãe.

- Não prometo porra nenhuma! – responde sugando os dedos sujos de manteiga – mas você pode ficar aqui por uma semana. Pensamos juntos no melhor jeito de conversar com ela.

Mastigamos as delícias da mesa por alguns minutos até que a ruiva decide acabar com minha paz.

- Fiquei sabendo que você vai fazer uma visita aos campus da UnB – Vi diz trazendo para mesa o assunto da noite passada.

- Cuida da sua vida! - reclamo jogando um pedaço de pão no cabelo dela.

- Asshat (1)!

- Buttmuch (2)!

- Do que ela está falando? - Thomas pergunta inclinando o pescoço para mim.

Subitamente os anéis nos meus dedos parecem muito interessantes e fico admirando, ele bate o dedo indicador sobre o meu. Papai faz a volta da letra em sua homenagem, a sensação é boa, me chame de coração mole, mas o toque dele é sempre uma manifestação de afeto porque é reservado como todo inglês e sinto falta quando nos afastamos.

- Tia Laura quer que eu procure a garota que achou que nós estávamos namorando quando eu transei com a Letícia. - Thomas abandona meu indicador e encolhe os ombros como se sentisse nojo. - Quer que eu peça desculpas.

- Você pegou a Letícia? - Xis tem um sorrisão no rosto – você me liga pra reclamar quando o São Paulo empata, mas não me conta uma parada importante como essa?

1365 palavras

Tradução:

(1) Idiota!

(2) Bundão!


FredOnde histórias criam vida. Descubra agora