Aretha me deu carona e desceu para a medicina. Tomei um banho de noivo, coloquei meu melhor jeans, engraxei os coturnos e peguei a camiseta azul e sem estampa mais cara que encontrei no guarda-roupas do Thomas, tô usando meu perfume preferido e comprei um buquê de flores, é pequeno, mas lindo. Estou aqui somente pela tia Laura, pois nunca disse para aquela mina que estávamos namorando ou que eu queria outra coisa além de sexo.
A garota faz psicologia então caminho para o lado sul do minhocão, tô tentando a sorte de vir sem avisar, mas ela não costumava cabular aula. Ignoro os olhares que recebo, sei que sou gato, mas tô tentando consertar um problema e dar atenção para outras garotas vai me tirar do foco, se bem que aquela ali tá me secando e eu não diria não para esse par de p...
- Frederico? - Merda! Que merda, meu! É tudo que penso quando me volto na direção do som.
- Magüta – cumprimento sem oferecer qualquer sorriso. Ainda não perdoei essa doida de dentes de serra.
- Se veio pedir desculpas perdeu a viagem – ela confere as rosas e informa como se fosse um fato dado e imagino que minhas sobrancelhas estejam para pular da minha testa.
- Desculpas? - ela tem os olhos nos meus bíceps que estão apertados pela camiseta - Você deveria andar com uma placa pendurada na boca escrito: não entre! - suas órbitas crescem e tô preparado para chamar a segurança porque se essa criatura se aproximar do meu pau eu grito.
- Eu te chamaria de filho da puta, mas respeito muito sua mãe! O que você quer?
Nossa troca de animosidades chama atenção e meus olhos encontram Marília entre os observadores. Ótimo que a fulana esteja aqui, porque tenho de gritar com essa garota que me fodeu somente para espezinhar Aretha.
- Não tô aqui por você, mas se fizer questão posso te dar o troféu de pior sexo oral do planeta!
De repente todos tem a boca aberta e expressões de surpresa, Magüta acerta meu rosto com um tapa, mas sequer sinto arder, crescer me engalfinhando com duas jacatiricas como Vi e Aretha me proporcionaram insana tolerância a dor. Ela me dá as costas vitoriosa e eu olho para os céus pedindo paciência.
- Frederico? - Merda! Que merda!
Quando a mina a qual vim pedir desculpas fala meu nome pergunto aos céus se é castigo ela aparecer justo quando estou discutindo com a assassina de pintos. Nos encaramos e acho que tô fodido porque sequer abri a boca, mas ela já tem as mãos na cintura fazendo a pose mais tradicional do mundo: "namorada furiosa".
- Podemos conversar? - pergunto levantando o buquê. Ela ignora e olha na direção de Magüta que já vai longe.
- Quem é ela?
Merda! Merda! Abortar! Abortar e correr! Meu consciente sacode as palavras escritas em neon sobre as placas gigantes. Eu não preciso explicar quem é a Mah porque não é problema dela, mas antes que eu ensaie alguma coisa a mina me dá um tapa na cara e arranca o buquê das minhas mãos.
- Nós não estávamos namorando! - digo quando ela me dá as costas – Eu não te devia nada nem era minha intenção te magoar! - ela continua andando, então eu grito – Eu nunca estive apaixonado por você! - As pessoas ao meu redor se multiplicaram e um dos caras tem o celular nas mãos, me filmando – Me dá isso! - tenta guardar, mas agarro a tempo e apago a filmagem, jogo o bagulho no chão e sem demora meus pés me levam para fora do minhocão.
Um grupo de garotas vem na direção oposta e quando me notam, ainda longe, levam as mãos aos cabelos, batem as pálpebras e duas oferecem daqueles sorrisos que dizem mais do que mil palavras.
- Tão me achando gostoso? - pergunto flexionando os bíceps – eu sou gato, mas vocês não merecem! - a que estava mais perto dá um passo atrás e todas fazem cara de WTF – Vocês são doidas! Tô de saco cheio de mulher, de agora em diante sou gay! - sei que tô gesticulando como maluco, mas tô entalado de tanto bagulho que venho sofrendo – Vocês querem casar aos 18! Acham que estamos namorando depois de uma foda, têm a pachorra de não responder às minhas mensagens, me fazem sofrer dizendo que só querem meu corpo e dias depois querem ser a mãe dos meus filhos! Vocês são doidas e de agora em diante eu sou gay!
As garotas se afastam como se estivessem diante de alguém que Simão Bacamarte está prestes a levar para a casa verde, quando uma mão gentil dá uma batidinha no meu ombro.
- Dia difícil? - o cara me pergunta com voz macia. Não é falsete, mas não é completamente natural. O cara me usa uma meia arrastão debaixo do short jeans, tem a barriga de fora e uma blusa justa feita de retalhos, não preciso perguntar, ou faz teatro ou moda.
- Você não imagina! - digo e cruzo os braços. Ele não é sutil, me dá um lento confere de cima embaixo e por último sorri, tem a pele negra de tom claro, olhos castanhos e cabelos curtos igualmente castanhos.
- Eu tenho a solução – informa e sem cerimônia toma minha mão.
- Não sou fã de chocolate! - explico quando ele pede alguns bombons da tia em frente a lanchonete.
- Desses você vai gostar – ele entende minha cara de desconfiança e desenrola um bombom colocando na frente dos meus lábios, abro a boca e aceito, mastigo enquanto ele desembala outro e come também – Não há nada que uma punhado de chocolate barato com recheio de leite condensado e coco não cure! - diz convicto – é tradição aqui no campus, há gerações!
Nos sentamos em um dos bancos da faculdade de teatro, eu sabia, e terminamos os chocolates. Ele tem gestos lentos, simpáticos, mas sem invadir meu espaço, tem sotaque goiano e puxa assunto sobre coisas diferentes, claramente tenta me fazer relaxar e agradeço. Depois de elogiar meu perfume e o que chamou de "look simples e clássico" parece contente que tenha me feito sorrir.
- Então gatinho, porque estamos colocando a mulherada na fogueira?
- Você ouviu tudo?
- Meu amor você faz ideia do quanto gritava? Eu não sabia se ficava excitado ou corria! - ele puxa a mão com a qual cubro meus olhos – Relaxa! Pelo menos uma vez por mês tem alguém surtado nos corredores, vida de universitário é custosa demais da conta! - vira-se um pouco mais para mim – vai, me conta o que aconteceu porque você é bonito demais e preciso saber quão gay você quer ficar ainda hoje.
Mal o cara termina de falar e tô gargalhando, tava precisando disso, sinto meus ombros relaxarem e nos encaramos. Ele também sorri e quando abro a boca para dizer que não quero desabafar me dou conta de conta de que não contei meu drama com a Olívia para ninguém, tem um ano e meio que estou virado na garota, mas nunca me abri, tudo o que fiz foi criar problemas, ofender as pessoas que amo e beber um barril de whisky.
- Tem certeza? - ele acena positivamente à pergunta e me viro no banco para ficar de frente a ele – um tempo atrás eu tava com uma ex vizinha fazendo um desenho na parede do nosso antigo apê em São Paulo quando...
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Fred
Romance- Fala pra mim que isso é menstruação! - pergunto arrancando o plástico sujo de sangue e ela fica em silêncio. Não, não era, minha vida feliz com passarinhos cantando o hino do São Paulo e cheia de livros foi invadida pelo caos, Olívia é o caos, est...