60 - Medo ou instinto - parte I

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Apago a luminária e fecho os olhos, muita coisa pra processar, preciso de whisky. Ela gosta de mim, sempre gostou, Olívia me ama e acho que sinto o mesmo.

Ainda é madrugada, mas quando o primeiro avião decolar eu estarei a caminho dela. E dai que somos jovens, quando a gente sabe a gente sabe! Mas eu sei? Respira Frederico, você está ansioso, só isso. Ela gosta de você e você dela, o que tem mais para pensar?

Me ponho de pé e escovo os dentes, preciso de calma para pensar. O que a Ati faria? Nope, a mamãe é massa demais para se apaixonar por alguém complicado, ela não pode me ajudar. Reaça que pariu eu preciso de calma!

Arranco a boxer e entro na ducha, vou de água fria, lavo os cabelos e esfrego a bucha vegetal por tudo quanto é canto, até ficar vermelho. Porque estou nervoso? Eu só preciso embarcar e dizer para a garota que eu gosto que concordo com seus termos malucos, acho que ela é meu pra sempre... Mas e se for loucura? Como vou me casar aos 18 anos?

Saio do banho e me seco, punheta calmante não é opção porque meu amigo tá tão confuso quanto eu. Ela quer a mim e eu ela, o que mais tem pra pensar? Acho que tô zonzo, tenho a boca aberta, e meu coração tá fazendo um barulho estranho, mais parece um baixo.

Assusto-me com a vibração e descubro que o baixo não vem do meu coração, nem a vibração, meu celular está tocando Rage Against The Machine, a música foi escolhida por mim e significa que a Perfeita está do outro lado da linha.

- O que aconteceu? - Aretha pergunta.

- Isso de você sentir quando tô aflito é muito doido, você também sabe os números da loteria?

- O que foi?

- Eu ainda não sei, me dá umas horas para descobrir. - ela fica em silêncio, provavelmente cogitando se me força a falar ou deixa passar.

- Te amo, Banguela!

- Te amo, Perfeita!

Paro no meio do quarto, meu coração aos pulos, mas preciso pensar muito bem antes de fazer qualquer coisa, tudo pode dar errado. Meu peito pode estar aos solavancos, mas as mãos estão firmes e as pernas plantadas no chão. Alguma coisa me diz para deitar na cama e pensar, mas o que tem pra pensar? O coração quer o que o coração quer e o meu quer Olívia Pallaoro.

Essa sensação estranha de que alguma coisa está errada só pode ser medo, eu tenho 18 anos e estou prestes a dizer eu te amo para uma garota que quer casar e ter filhos, amanhã, tomorrow for fuck sake (1)! A porta é aberta e Ati entra, os olhos de cor indescritível estão vivos apesar do cabelo indicar que dormia.

- Mãe a senhora não pode andar assim com o Xis dormindo na sala! - reclamo porque a mulher está seminua em renda vermelha. Mano, na moral, minha mãe é um pesadelo freudiano!

- Quem tá no banho? - pergunta indicando o banheiro e percebo que larguei o chuveiro aberto.

- Ninguém, eu esqueci – abandono a toalha e visto uma cueca.

- Onde você vai?

- Como você sabe que vou pra algum lugar?

- O que tá errado? - ela franze o cenho. Eu não sei se acho massa ou temo nossa conexão. Uma não consegue dormir porque me sente agoniado e a outra acorda apavorada porque tava sentindo alguma coisa.

- Mãezinha não tem nada de errado – me aproximo e tomo suas mãos - mas preciso ir para SP – não dá para mentir para ela.

- Agora? 1 hora da manhã? - informa apontando o relógio com o escudo do São Paulo, Thomas acha brega, mas a mamãe tinha um igual quando era criança e o vô Augusto também, então lógico que eu amo o bagulho, brega ou não.

FredOnde histórias criam vida. Descubra agora