19 - Pêssego? - parte I

28 9 81
                                    


- Toma! - me entrega um copo de whisky, pela cor não é o do pai e já não lembro o que toma o vô – Bom e velho Jack – responde lendo meus pensamentos, como faz isso nunca vou saber.

Ficamos em silêncio enquanto toma vinho, a taça é fina, redondona, de bacana. Olhamos o Jardim Botânico à frente.

- Valeu por ter me salvado do pai da Aika – digo bebendo, fuck, I love whisky (1)!

- Teria conseguido que voltasse com a gente, mas tive medo que seu pai me arrancasse a cabeça do homi - a cena foi engraçada – gostei da mina. Foda perder a mãe aos 8, porra, impossível de imaginar - e os olhos bonitos mergulham em memórias, se pra você é difícil, imagina para mim! - obrigada Fred – diz e não entendo o porquê – por me manter como amiga mesmo crescido. Eu era muito próxima dos meus pais e do vô, o vô e a mãe eram meus melhores amigos, seria uma merda se eu não pudesse experimentar o mesmo com meus filhos - afaga meus cabelos e sorrio.

- É bom ser seu amigo.

- Eu era mais próxima da mãe porque quando o papai tava em casa os dois não desgrudavam – então ela sabe o que passo – era bom me sentir acolhida pelo mundo de amor dos dois. Às vezes eu ficava no colo do pai no sofá e a mãe sentava com a gente, eles conversavam de literatura, política, coisas domésticas, não importa o que fosse, tinha vibe, uma eletricidade poderosa que contaminava tudo em volta...

- Mãe?

- O quê?

- Acho que tô alucinando – ela franze o cenho e me encara – eu tenho a impressão de que vejo um vulto ao seu redor, outro dia achei que tava sonhando, mas vejo quando tô acordado. Vi hoje na piscina, vi no sonho com meus avós e... - ela se levanta e me estende a mão.

- Cê precisa comer – me recuso, mas diz as palavras mágicas – faço waffles de laranja.

Na cozinha de cinema me sento na ilha e avisto o relógio, são 18 e só tô com breja, o dia inteiro. Penso em Olívia, ela de joelhos, os cílios longos batendo enquanto os olhos castanhos me encaravam, me chupava de um jeito perfeito, linda a minha italiana de cachos, com exceção de que não é minha, tá nos braços de um porco. Gambás e porcos se merecem.

- Sabe qual o segredo pra não quebrar o apartamento dos outros? - a mãe sussurra no meu ouvido me fazendo voltar ao agora – não misturar bebida, porra! - e dá um tapa na minha cabeça, não tinha notado que tava bebendo o vinho no gargalo, vai ver é por isso que a avó tá me olhando com cara de merda. Quando eles vieram para a cozinha?

 Elinor faz questão de montar a mesa da sala de jantar e chama os empregados, quando terminarem a comida já esfriou! Os waffles estão quentinhos e como cinco, acho que é a primeira vez que comemos o quanto queremos, a mãe geralmente não deixa a gente se entupir de carboidratos, ouço o estampido de mais uma garrafa de vinho sendo aberta, nos serve.

O vô elogia os waffles e dá um beijo na bochecha na nora, mas por fração de segundo achei que iria beijar outra parte. Ou tô bêbado e vendo coisas, ou o Thomas precisa fazer alguma coisa.

- Vai falar o que tá te incomodando? - a Vi pergunta.

- Não tem nada incomodando – só sua melhor amiga que mexeu com minha cabeça, mas nada que xarope de mapple com waffles não resolva.

- Claro, porque virar duas taças de vinho é normal! - bebe um gole e me serve de outra taça - seja o que for eu tô aqui – diz e dá um beijo na minha bochecha, retribuo o carinho, mas pego a garrafa e vou para a sala.

Bebo o restante da taça e depois no gargalo da garrafa, caminho pelo espaço gigante, a casa é de um bom gosto do caralho, muita madeira e vidro, mais parece desses hotéis bacanas em ilhas paradisíacas.

FredOnde histórias criam vida. Descubra agora