49

15 3 39
                                    


- Eu já falei que quero voltar para casa – Luiz reclama cruzando os braços no peito.

- Mano, você tá bem, minha mãe falou que tem de acompanhar, mas o câncer já era! - explico sorridente.

- Não é câncer, seu merda! É linfoma, e a médica é minha eu sei o que ela disse!

- Então porque você não quer sair?

- Mano do céu, olha pra mim! - reclama abrindo os braços – eu tô pele e osso, cansado e com aquele hálito ruim que não passa com nada, tenho cara de quem quer ir pra rolê?

- Vamos dar uma passada, depois voltamos pra casa – enrolo, não volto pra casa agora nem fodendo – você é como um irmão e acabou de vencer um câncer, nós vamos celebrar!

- Não era câncer!

Estamos saindo do setor de embaixadas rumo às mansões do Jardim Botânico, acho que é uma das paradas boas de BSB, em São Paulo encontramos gente do mundo todo, mas nas embaixadas de Brasília descobrimos as festas mais doidas que existem.

As pessoas estão em país estrangeiro, querem matar as saudades de casa e mostrar para os outros sua cultura e costumes, acho um jeito massa de experimentar a cultura do mundo sem alterar meu DDD, além do mais beijar mulheres de todos os países tá na minha lista de coisas a fazer antes de bater as botas. 

Da América do Sul me falta uma chilena, boliviana e equatoriana, tenho duas europeias de diferentes países e uma sul-africana, foram só beijos, mas ainda assim garanto que foram embora falando bem dos homens brasileiros. Meu ego é enorme, eu sei, mas sou gostoso, porra!

- Volta pra casa! - bufa outra vez no banco do passageiro – ou eu... - seu celular toca e puxa o aparelho do bolso – É o Xis – informa quando olha o visor.

- Xis, meu, o Luiz tá curado, mano! - grito contente quando ele atende.

- Cala a boca! - briga cobrindo telefone – ele não sabe que tô doente, eu disse que tava aqui fazendo um curso!

- Você estava doente, não tá mais! - corrijo – só eu entendi que você tá curado?

O mano volta ao telefone, me ignorando. Trocam algumas palavras enquanto dirijo rumo à festa na qual vou beber até cair, depois de beijar as minas mais bonitas da cidade. 

Preciso me distrair, esse negócio de dar força pra gente doente é sério, nunca tinha pensando no assunto, mas é uma barra do caralho, você tem de dar força, cuidar, amar e apoiar quando o outro está péssimo, tem de engolir tudo o que pensa e sente, isso é mais uma coisa que faz as mulheres superiores aos homens, elas têm a capacidade de cuidar sem reclamar, proteger e sofrer sem cobrar nada em troca. Digam o que quiserem, mas ter culhão não é sinônimo de coragem, ter xota, todavia... ter xota é ter bravura!

- Até daqui há pouco – fala desligando.

- Oi?

- O Xis tá no aeroporto.

Quando chegamos no aeroporto de Brasília nem precisamos estacionar, o maluco está aguardando no ponto de ônibus lá de dentro, entra no carro quando paramos e sinto seu cheiro imediatamente, amaciante. Não sei como ou porquê, o cara tem sempre cheiro de amaciante e parece ter acabado de sair da secadora de roupas. Xis é amigo de infância, nós crescemos no judô, é ficcionado em desenho animado e tem talento pra desenhar tudo que é anime que for possível imaginar.

É granfino de nascimento, pertence a uma das famílias quatrocentonas de São Paulo, do lado materno e paterno, a mãe é uma Paes Leme, e o pai um Bueno de Siqueira, colonizadores, bandeirantes e fundadores da cidade. Tem muito orgulho dos sobrenomes e alimenta a mesma obsessão que eu por SP, é dos poucos ricos que eu suporto, o cara tem tanto dinheiro que não faz ideia da realidade. Se o mano me vai na padoca e o dono cobra 400 reais por uma garrafa de cachaça o Xis paga sem notar que está errado.

FredOnde histórias criam vida. Descubra agora