Fred

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Estamos sentados no fundo, preferi ficar ao lado da minha mãe e Aretha, Vi e Thomas estão ao lado da Dona Elinor recebendo as condolências. Tanta coisa aconteceu nas últimas quarenta e oito horas que é bom ter alguns minutos pra pensar. Meus pais vieram de São Paulo direto pra uma festa de bacana.

Chamei Aika pra me fazer companhia, achei que fosse mentir para o pai, mas não, peguei a mina em casa, o pai é ciumento, mas confia na filha. Não me fez qualquer ameaça então quando ela partiu pra cima não pensei duas vezes, a transa foi... Satisfatória? 

Tem uma pele deliciosa e o corpo lindo, apesar de não ser gostosa do nível das minas que eu pego, o problema é que não clicou, ela em cima de mim, embaixo... fiquei feliz de saber que gostou, me confessou que foi seu primeiro orgasmo, quase descreditei.

Se uma mina de 19 anos com vida sexual ativa nunca teve orgasmo tava saindo com os caras errados, tá ligado? Fiz questão de oferecer outros, trocamos carícias e fizemos um ao outro gozar, acompanhar o orgasmo feminino é bonito, elas são únicas... a gente desaba, aliviado, enquanto elas sorriem, choram, falam, gemem, mexem o corpo, mulheres são perfeitas, até o prazer delas parece mais massa que o nosso, enfim, a mina não é a Olívia.

Tive de esperar minutos até recarregar. Os cabelos lisos e de franja não tinham a sensação boa dos cachos de fios grossos da italiana, a boca é fina, mas não vermelha como a dela. Decidimos ver um filme e esperar pelo quinto round, eram 4 da manhã quando recebi a ligação, meu avô Fernando faleceu, demorei pra assimilar. As seis da manhã meus pais chegaram e levei Aika para casa, é a primeira morte que experimento e não sei exatamente como me sinto.

O velório é na funerária, na hora de sairmos de casa percebi meu pai meio tenso, pediu para que minha mãe estivesse discreta, mandou que eu não desgrudasse dela, não entendi, mas obedeço, dona Ati está emocionada, detesta morte e mesmo não sendo fã do sogro não é de querer mal a ninguém. 

Vi tá linda, vou sugerir que use mais preto, tem um decote quadrado, um vestido preto justo e os cabelos ruivos em coque, minha irmã e sua beleza indefinida.

Aretha usa um discreto vestido longo e minha mãe está de alfaiataria, camisa de seda preta, casaco e chapéu bonito. Se veste assim desde sempre, camisas de seda ou algodão, lembro dela chegando do trabalho, meu pai indo recebê-la. 

Não costuma partilhar conosco o dia no consultório, só fala quando precisa, pergunta se queremos ouvir, nosso primeiro copo de vinho foi assim, ouvindo, ela nos serviu, misturado com água, nos sentimos adultos e ouvimos atentamente o que tinha passado no trampo, eu era criança, mas decidi ali que não seria médico, às vezes eles fazem tudo que é possível e mesmo assim...

Sou grato ao sonho/visão delirante que me permitiu dizer adeus ao vovô, no final das contas devemos muito a ele, segundo meus pais o velho foi fundamental para que a mãe não fosse presa depois do Levante de 20. 

Foi julgada e sentenciada a clinicar em instituições públicas, orfanatos, abrigos e presídios, atendimentos que fez com prazer, nunca perguntei sobre a influência do vô Fernando, mas não importa, Thomas curtiu a namorada que virou esposa e eu nasci, tenho duas irmãs maravilhosas e não mudaríamos uma vírgula do nosso passado.

Jamais vi tanta gente granfina num só lugar, ternos, gravatas, carros caros, sapatos bonitos, a maioria homens, poucas mulheres vieram oferecer os pêsames. Fecho a cara porque noto olhares para nós, especialmente pra minha mãe.

Aretha tá ansiosa, detesto ver assim minha mana poderosa e perfeita, Vi também não é próxima dos avós, mas meu pai fez questão de ficasse na frente com ele, apresenta a filha para algumas pessoas e meia dúzias de sorrisos são oferecidos aos dois, no ideia what is this shit (1)! O ambiente tá gelado e tô ficando mordido de ver tanta gente com cara de... sei não, tá ligado? não gosto da vibe desse rolê. No sepultamento temos menor número de pessoas e vamos pra casa.

Segui as instruções, vesti o terno que o pai mandou, calça, camisa, gravata e sapatos pretos, nenhuma surpresa, tô gato, hot as fuck! quis comentar, mas achei o momento inapropriado, ainda não oferecei meus sentimentos ao Thomas.

Abraço minha avó e me pergunto o que será dela naquela casa grande, talvez volte para Middlesbrought, na Inglaterra. Meu pai senta-se no sofá, Aretha e vi também, cada uma de um lado e puxam conversa, ele precisa é whisky, tá ligado? 

Minha mãe volta com copos para nós dois e agradeço, sua habilidade de ler pensamento é sem limites, me comprometo a ficar só com uma dose, ela abre o vinho e bebemos todos em silêncio.

No dia seguinte sou chamado pelo perfume de waffle, me visto às pressas porque com as duas dragas em casa é capaz de acabar antes de ser servido. Cozinha vazia.

- Bom dia mãe – me dá um beijo na testa e entramos juntos – como tá o pai?

- Na bad, ainda não chorou - fala sério! Nem todo mundo chora, meu pai é meio incógnita, mas tenho certeza que tá bem.

- Bom dia, moleque! – Thomas diz entrando e afaga meus cabelos, porra, hoje não ganho beijo? Não que eu me importe, ou precise, tenho 17 anos, não faz diferença, só tô notando.

Colocamos a mesa e as dragas aparecem, descabeladas, Aretha diz que vai passar café especial para o pai. Minha mãe prepara mais waffles, hoje não tem miséria, Vi vai nos servindo e a mais velha senta sacudindo a coqueteleira, despeja o líquido quente na caneca transparente e adiciona 2 doses generosas de whisky, Thomas não dá qualquer demonstração de tristeza. Eu não ganho Irish Coffee (2)? Nem me ofereceu, tá ligado?

- Obrigada princesa! - agradece à minha irmã.

- Dormiu bem? - Vi pergunta de boca cheia, não temos bons modos à mesa, ao contrário dele.

- Tanto faz... – responde e vira para a esposa – Senta no meu colo - diz e bate na própria coxa.

- Pai! - Aretha reclama cobrindo os ouvidos.

- Qual o problema? - ele bebe um gole – a Ati pode dizer o que quiser, mas eu não, eu tenho de ser o contido e educado - Vi tem a boca aberta e eu quero balde de pipoca para acompanhar o espetáculo – tá, entendendo? - diz imitando nosso sotaque – vocês vão terminar de comer e sair, nem pensa em aparecer aqui tão cedo porque não tô com vontade de atender expectativa de como eu tenho de ser! - bebe o último gole e pede mais. Bicho, sua boca queimou!

- Pai, quanto você bebeu? - pergunto.

- Não é problema seu, eu sou seu pai, não o contrário, você bebe e dá show, quebra a casa dos outros e me pergunta quanto bebi porque quero minha mulher? Você é mimado, não conhece limites!

- O que cê deu pra ele? - Vi pergunta para nossa mãe.

- Não te interessa! – Thomas responde - agora todo mundo come e vaza! - o sotaque paulista do pai é divertido, mas excelente.

Mudos terminamos de comer. Tá, dou o braço a torcer, meu pai não tá bem, não sei se precisa esmurrar o saco ou de lágrimas, mas ouvir o velho falar assim é estranho, Aretha faz mais Irish coffee, ele pede mais whisky e ela obedece, tem mais whisky que café ou creme de leite, mas tudo bem, ele pode tudo, se fosse eu... Eu não sou mimado!

Nos trocamos e vamos correr, de barriga cheia, which sucks (3)! Eu e Vi queremos descer a L2 Norte e Aretha quer subir justificando que é mais difícil, para provar que também consegue Vi a acompanha e sigo sozinho L2 Norte abaixo, quer dizer subindo porque os números são crescentes. Cidade doida do caralho! Na altura do HUB sinto cansaço, preciso voltar a treinar sério,não dá pra ficar devagar assim, tô correndo só há 30 minutos e já tô morrendo.

É domingo de manhã e o relógio do sinal informa que são 7:30, nossos hábitos matinais são exagerados, agora acordamos cedo até fim de semana? Me sinto mal por não ter oferecido os pêsames ao pai, mas não sei o que dizer, sei que não eram próximos e meu avô não era o melhor dos pais. 

Volto atenção para o mundo quando percebo que topei em alguém.

- Desculpas! - peço para a garota – tô com a cabeça longe. Te machuquei? - olho em volta - tá se mudando?

1470 palavras

Tradução

(1) Não faço ideia de porque essa merda.

(2) É uma bebida quente de café forte, creme de leite, açúcar e whisky.

(3) O que é uma droga.