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- Você não vai abandonar a faculdade! - Thomas afirma, categoricamente.

- Eu vou se eu quiser! - redarguo no mesmo tom – morfologia é estúpido e não sou obrigado a ficar fazendo árvore!

- Você escolheu o curso! Você tem de ter uma profissão, um emprego e virar adulto!

- EU sou adulto!

- Enquanto morar debaixo do meu teto e eu pagar suas contas você não é!

- Eu faço meu dinheiro há meses! - reclamo batendo a porta do carro, sei que ele fica furioso com isso.

- Não o suficiente!

- I DON'T CARE WHAT YOU THINk (1)!

- I am sure you didn't say that to me (2)! - Fuck me! Ele vem na minha direção e agora me ocorreu que não fiz um testamento nem nada. Ele vai me matar.

- O que tá acontecendo? - a voz da tia Laura nos corta, ela vem pela calçada com um buquê de flores brancas e amarelas, bem bonito, tira a chave da bolsa e nos chama para subir.

- Later (3)! - meu pai diz entredentes certificando-se de que serei somente eu a ouvir.

Estamos em silêncio no elevador, eu amo estar na companhia da tia Laura, ela tem um jeito diferente, quieta, mas cheia de vida, se ela não trabalhasse tanto eu estaria mais tempo na companhia dela. Já no apartamento nos convida a sentar, meu pai atende prontamente enquanto eu a acompanho até a cozinha e ajudo a colocar as flores no vaso, é aí que noto o cartão.

- Tia eu tenho certeza que sua xota é mágica, nenhuma outra mulher da sua idade recebe tantas flores de homens, quanto anos tem esse aqui? - pergunto puxando o cartão – 30, 40, 50?

- Como a Ati conseguiu fazer alguém que fala mais coisas constrangedoras do que o sr. Fredinho eu nunca vou saber!

- É uma pergunta normal! - vou me defendendo risonho.

- Vá pra sala! - manda estendendo o braço na direção da porta

Minutos depois ela junta-se a nós, está de banho tomado e usa desses vestidos domésticos que faz com que pareça um cortesã do século XIX, qual a obsessão que as mulheres da minha família têm com seda eu não sei. Laura nos encara por alguns minutos como se tomando coragem, Thomas e eu não sabemos porque fomos chamados, muito menos porque deveríamos esconder das meninas, desde quando Laura esconde alguma coisa da minha mãe?

- Como vai na faculdade? - ela quebra o silêncio.

- Vou bem, estou terminando o primeiro semestre.

- 19 anos, eu sou muito feliz de ter te visto crescer, sua avó teria adorado cada minuto com você.

- Obrigada tia, e sim 19 anos é muita coisa, já sou adulto! - digo a última parte olhando meu pai.

- Laura, você tem nos visitado pouco – Thomas comenta sem me dar linha.

- Tem razão, mas eu precisava dizer adeus ao mundo.

Depois do meu niver, em Março, Laura nos avisou que passaria um tempo com o resto da família em Portugal, depois visitaria seus lugares preferidos no mundo. Recebemos fotos dela na Espanha, França, Holanda, Cabo verde, Camboja e Somália.

- Adeus? - Thomas pergunta.

- Sim, adeus, o que me leva ao assunto pelo qual os chamei. - ela empertiga-se na poltrona indicando que dirá alguma coisa séria. - Eu vou morrer.

- What? - Exclamo. Thomas também não entende e olha para mim, mas eu já estou aos pés dela.

- A senhora tá doente?

FredOnde histórias criam vida. Descubra agora