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- Ahhhhh! - grito tentando nadar, mas não tô na água, que desgraça é essa? passo a mão nos olhos, Aretha derruba o balde e dá um passo para o lado  e Vi entorna em mim outro balde – porra! - grito me esforçando pra levantar.

Olho em volta sem entender, mas o flat e a cara das duas são explicação suficiente. Inútil pedir desculpas agora, sento na cadeira e meu pé bate no monitor partido no chão. Eu quebrei o monitor, porraaaaa! Quanto tempo dormi? Olhando ao redor calculo que devo, pelo menos, uns 4 mil reais para a Aretha, merda.

Na parede a TV está pendendo segurada por somente um parafuso, do outro lado um buraco, fuck! Saiu até o reboco, reaça que pariu! Levo a mão a cabeça e sinto arder entre os cabelos, meus dedos voltam sujos de sangue e vou ao banheiro. O imbecil no espelho tem a cara suja de marrom, a cabeça cortada e está encharcado.

- Café? - A cor na minha cara é de café instantâneo. Lavo rosto e o corte da cabeça e urino. Engulo minha vergonha junto com os comprimidos para dor de cabeça que encontro na gaveta – desculpas! – é tudo que consigo dizer quando abro a porta. Elas não respondem, uma me dá o rodo e a outra tem a pá nas mãos.

Depois de retirar a TV da parede e conferir o tamanho do buraco que ficou, começamos a limpar o chão, yep, manchei o tapete! Depois que os cacos foram recolhidos e peneirados precisamos separar a porcelana do vidro porque a primeira não é reciclável, não deveriam me ajudar, fiz a merda sozinho, fico sem graça, minhas irmãs são maravilhosas, mais do que mereço.

Findo o caralho do trabalho sem fim decido tomar banho, são seis da manhã, não preciso de ponto na cabeça e para minha felicidade Aretha tem roupas minhas por aqui.

- Caso a gente tenha de fugir da mãe de novo - explica sem me olhar, peço um táxi e dou última olhada pelo flat antes de pegar os sacos de lixo, as duas estão deitadas de costas para mim e o nível de amizade me dá certeza de que estão furiosas.

Pelo menos meus coturnos foram salvos do banho, tô de jeans azul rasgado e camiseta branca, miro o espelho do elevador, meu pai se veste assim de vez em quando e se fica bem nele fica bem em mim, não costumo comprar roupas, mas quando é preciso escolho alguma coisa que já vi o velho usando. Pelo aplicativo do banco percebo que Aretha pagou nossa noite com o dinheiro dela, ainda devo mais isso.

Home sweet fucking home! entro em casa e ouço meu pai na cozinha, vou para o quarto deles que tem a porta aberta, minha mãe está deitada de bruços, completamente nua e dormindo pesado, no criado um copo vazio e a garrafa de whisky, cubro a mamãe antes de me servir de uma dose e me sentar ao seu lado. 

Recosto na cabeceira, a bebida é bem vinda, sinto o cheiro de café quente entrando junto com o pai, senta-se na poltrona. Imagino a cena do diário, o sol batendo, ambos suados, deve ser bom amar e ser amado.

- Preciso de dinheiro – ele me ouve e deposita a xícara no pires que descansa com leveza no braço largo da poltrona.

- Quanto?

- Não sei – bebo outro gole do whisky decidido a não beber outra coisa na vida – bebi demais e quebrei o flat.

Não responde, olha com desaprovação o copo nas minhas mãos e saboreio o último gole. Está sem camisa, alto e bonito, tinge os cabelos, mas pelos poucos fios grisalhos que vão despontando acho que agora vai deixar, a esposa não pinta, tem raros fios brancos espalhados e acho que não se importa. 

Suspeito que esteja furioso, mas não dá pra saber, o homem é uma esfinge; tomo coragem, é melhor falar o que tá me incomodando porque, aparentemente, beber e dar chilique sai caro.

- Cê acha que vou ter minha Ati? - pisca algumas vezes assimilando, bebe do café, deve procurar resposta.

- Não sei – Suspiro alto com sua resposta. Por que tô tão emocional? se já não tivesse estourado minha cota de drama teria outro piti, mano. Termina o café e deixa o pires no piso.

FredOnde histórias criam vida. Descubra agora