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O sol já começa a se pôr quando a narrativa do meu drama vai chegando ao fim, o cara, que se chama Lulu, ouve, interage e questiona. Termino contando os dois tapas que recebi horas atrás e ele não parece me julgar.

- Você ainda não encontrou uma garota que te mereça - diz apoiando o rosto no mão.

- Pode ser, mas enquanto espero essa mina chegar sou gay! - afirmo e ele revira os olhos.

- Eu adoraria dizer que você vai sair do armário, mas você é hétero, Frederico, até a última célula! - ele ri e morde as unhas.

- Não – puxo sua mão – colocar a mão na boca é má ideia – ele revira os olhos – sério! Tem um monte de doenças, machuca, estraga as unhas, piora a ansiedade e...

- Ok! - ele abre as mãos na frente do corpo indicando que parou – Então, vamos escolher seu tipo de crush – ele faz toda uma cena para fingir que está pensando, o bicho é da zoeira, acho que gosto dele – não pode ser corintiano, descendente de italiano, cabelo cacheado, que queira casar cedo...

- E que saiba fazer sexo oral! - eu completo e sorrimos.

- Eu entendo sua dor – ele coloca a mão sobre o próprio zíper – mas essa história é cômica!

- Porra nenhuma!

Ficamos em silêncio observando as pessoas descerem do ponto de ônibus, um pouco depois ele toca na minha coxa e eu olho.

- Posso te dar uma sugestão?

- Deve!

- Não crie expectativas sobre tudo, somente viva o momento! - eu suspiro e ele continua – suspeito que você não tenha notado, mas tem sempre uma voz te fazendo sonhar antes da hora porque você parece ter certeza de que uma princesa vai aparecer, então se essa certeza existe confia e espera, ela vai aparecer se você viver o agora e deixar de fantasiar.

Pensando nas suas palavras me inclino para a frente do banco, coloco os cotovelos nos joelhos e miro a calçada. Lulu cruza as pernas e bate as unhas vermelhas no ritmo do batuque que o pessoal da capoeira tá fazendo, em algum lugar aqui perto. Viver sem expectativa? Ser gay parece mais fácil.

- Posso te beijar? - pergunto e ele endireita o corpo, revira os olhos como se eu tivesse dito a coisa mais estúpida do mundo.

- Vai continuar com isso? - cruza os braços – é até ofensivo você achar que alguém "vira gay". Além do mais o que te faz pensar que eu tô livre?

- Não quis ofender! - digo.

Olhando para cima vejo um pássaro que é recebido com alvoroço pela família no ninho na árvore que nos proporciona sombra. Lulu tem razão, mas se fantasio é porque tenho certeza de que vou ter minha amada e uma família legal e assim como esse passarinho de canto bonito eu serei recebido com alvoroço.

- Você ainda quer me beijar? - ele pergunta chegando mais perto.

- Eu não tava te ofendendo? - pergunto rindo.

- Tá vendo aquele ridículo descendo do ônibus com o violão nas costas? - aceno positivamente – pois é, aquele troço é meu ex, acha que por ser bonito, pode fazer da gente o quiser. Promete amor eterno e trai na primeira oportunidade! Me beija!

- Oi?

- Você é mil vezes mais bonito do que ele, o troço vai morrer de inveja!

- Mano, eu... - o tal "troço" olha na nossa direção e quer saber? Foda-se!

FredOnde histórias criam vida. Descubra agora