Fred

4 - Letícia 🌶️🌶️

Meus pais foram passar uns dias fora, Vi e Aretha estão no flat fazendo um ritual de beleza que envolve horas e horas de hidratação e, aparentemente, ridicularizar mulheres com sacolas na cabeça é crime, vai entender!

Ando pela casa ouvindo Sabotage sem saber o que fazer, poderia chamar minha mina e transar em todos os cômodos da casa, mas se vier aqui pode achar que tô procurando coisa séria e a verdade é que é somente uma distração gostosa, até me livrar do ódio de Brasília, ela é uma fofa, mas só quero sexo. 

Tem razão do pai ter se apaixonado pela primeira paulistana que conheceu, as mulheres aqui tem outro ritmo, perguntam demais, querem saber de tudo, parece inquérito policial.

Entro no escritório, temos permissão para usar a mesa dos dois, mas prefiro a da doutora, a cadeira branca é macia e a mesa de madeira antiga, no apartamento de Santa Efigênia só tínhamos espaço para uma, a de vidro do pai.

As gavetas estão destrancadas e remexo, a mamãe não é uma pessoa de segredos, mas aqui respeitamos a privacidade, é meio que uma regra subentendida desde que nascemos. Um conjunto de cartas envoltas por um laço vermelho me chama atenção, na frente tem um bilhete que diz: abrir depois da minha morte. 

OI? Que porra é essa? Sem desfazer o laço puxo a envelope de papel bonito que tem meu nome, sei que não deveria, mas só vou ler a minha, depois guardo, ninguém vai saber. 

"Banguela AKA Frederico Furquim Northcott, se você está lendo essa carta é porque não estou mais por aqui, well, shit happens (1), então não faço ideia em que idade essas linhas vão te encontrar. Amo seu jeito silencioso e observador, sua habilidade de me entender sem dizer palavra e respeitar meu espaço. Amo o homem que você se torna e fico contente em saber que cresce para combater o machismo e a hipocrisia do seu lado do campo, tenho muito orgulho de saber que minhas batalhas são suas também. É bom te saber curioso, leitor voraz e corajoso, você só tem um defeito, e culpo o DNA do seu pai. Você pensa demais. Porra como pensa! Dos Sales Furquim você herdou a libido furiosa e o instinto infalível que insiste em subjugar pensando, repensando, pensando em repensar a merda que você já tinha pensando. O medo de errar não pode te impedir de ser ousado, dar a cara a tapa, desligar o cérebro e seguir seu instinto, a vida é uma só, não dá pra perder tempo com medo do próximo passo porque, às vezes, o único jeito de chegar é pular. Olhos abertos pra se agarrar onde for possível, mas saltar. Espero que você aprenda a ouvir seu instinto. Pára de fazer da vida um laboratório de observação, respira fundo e deixa..."

Continua, mas desisto da leitura, devolvo a carta ao envelope e esse ao maço, preciso de uma breja, não quero imaginar o mundo sem meus pais e não sei se concordo, eu penso demais? Instinto... pra você é fácil falar, sempre sábia.

Tava no meio do filme quando o porteiro interfonou, uma Letícia queria subir, em minutos recebo a amiga da minha mãe que chegou sem avisar. Foi pedindo desculpas quando me abraçou, mas precisava conversar com urgência então embarcou sem avisar.

Expliquei que meus pais queriam um tempo sozinhos e foram para um hotel fazenda, mal terminei de falar a tiazona desatou a chorar.

Já a vi chorando mais vezes do que posso contar, mas agora não tem outra pessoa para socorrer. Oh fuck, she is annoying (2)! Pelo menos é bonita.

É a amiga da mamãe da qual menos gostamos, é chata, falante e mais do que isso, tende a transformar tudo em drama, dessas ricas que acham que o mundo deveria girar em torno delas, tá sabendo? sei que não foi dispensada até hoje porque não tem outras amigas, minha mãe tem pena.

Ofereço o sofá sem soltá-la porque me aperta, as lágrimas escorrem pelo meu peito sem camisa. Fuck, this is disgusting (3)! Ouço que vai se divorciar, que o marido infiel não sei o quê. Parei de prestar atenção porque a sensação foi ficando excitante, não posso repetir o que a mulher diz nem que minha vida dependa disso.