24 - Darueira - parte I

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Oiee, lembrando que a história de Fred se inicia em 2047 e já estamos em 2048, mas volta e meia o garoto contará uma coisa e outra sobre a história do Brasil.

O acampamento Terra Livre é uma coisa boa de Brasília, é possível conhecer comunidades indígenas, entender dificuldades, acompanhar sucessos. Desde a reforma agrária de 2026, e graças a coragem do presidente Rui o evento deixou de ser somente de resistência e é na real uma festividade, vínhamos quase anualmente, mas agora que moramos aqui posso passar mais tempo e vir todos os dias.

Assisto duas palestras sobre a recuperação da língua dos Teoká Itaty, o trabalho de linguistas e antropólogos é digno de todo respeito, eles são de uma inteligência e sensibilidade de outro mundo.

 Rachei o bico ouvindo umas histórias que contam para assustar crianças e faço nota mental de nunca traumatizar meus filhos assim. Plural? Eu quero mais de um? Eu e a Ma trocamos mensagens o dia todo and she is a fucking teaser (1)! Pedi carona para o Thomas, avisou que estacionaria na catedral.

As tendas de acampantes e eventos espalham-se da rodoviária até o gramado principal, atravesso a pista em direção ao ministério do exército porque esse é o único lugar da cidade que tem cachorro-quente de verdade.

Brasiliense é esquisito, como alguém pode comer cachorro quente sem ovo de codorna? Sério mano, qual o sentido da sua existência! Peço somente um, passei o dia na fruta e milho assado, tô comendo mesmo é de gula.

O dia vai chegando ao fim e não posso deixar de apreciar o céu limpo, nenhum arranha céu impedindo que o azul seja perfeito, o céu da cidade é o único elogio que Aretha consegue fazer para a capital federal, assim como eu detesta o lugar, mas diferente de mim ela tem milhões de coisas rolando, faculdade, estudos, namorado, trocentos esportes e a gente, minha irmã sempre reserva um tempo pra nós e não tem dia que eu acorde sem uma mensagem sua me xingando, carinhosamente, e desejando bom dia.

Sem falar que ela tem sexto sentido, parece que adivinha quando tô na bad. Falando em bad o Luiz tem conversado pouco comigo, sumiu das redes sociais e não fosse o futebol a gente mal se falaria. O que será que tá rolando?

 O que será que tá rolando?

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Atravesso a faixa e caminho pela calçada que corta o gramado, o Niemeyer é foda, muito da hora é essa porra, chegando na faixa eu admiro a catedral enquanto aguardo o farol, a porra toda é brilhante, conceitualmente gauche e por isso não poderia ser mais Niemeyer, aliás desde que mudei pra esse cerrado calorento o cara me entrou oficialmente na lista de comunistas preferidos, a lista é grande, mas a mãe e minha bisavó Cecília ocupam o topo, claro. Os vitrais, os sinos nesse garfo, tridente, sei lá, é bonito e diferente, o caboclo era genial.

Avisto meus pais que conversam com um vendedor de pipocas, Thomas se afasta pra atender ao celular e um cara mais velho, óculos de grau e uma criança no colo se aproxima da minha mãe que está de costas, por puro instinto apresso o passo, mas o cara chega antes de mim.

FredOnde histórias criam vida. Descubra agora