OITO

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─ O que eu achei dele? Mas eu nem o conheço direito. ─ Mabel desconversou, remexendo em sua mochila branca que estava pousada no balcão espaçoso da pia que comportava três lavatórios, bem abaixo de uma parede espelhada que ficava de frente para os reservados.

O banheiro era tão grande quanto o resto da escola e seguia o mesmo esquema de tijolos aparentes da entrada e um teto envidraçado numa cor fumê que dava um ar até acolhedor ao ambiente de pé direito alto e piso claro.

Por um segundo Karol digeriu a reposta da menina e quis morder a própria língua por ser tão direta, afinal Mabel não fazia idéia da própria história.
Nem ela e nem Ruggero, no caso.

─ Ah, sabe como é. Eu quis dizer fisicamente, entende? Você deve tê-lo achado bonitinho.

Mabel praguejou mentalmente por ter corado mais do que antes e ter sorrido mesmo sem querer.

─ Ele é realmente um gato.

Karol deu um pulinho discreto de felicidade.

─ Sabia! Você está encantada, não é? Não precisa fingir. Eu já notei.

─ Eu não diria encantada. ─ A loira retrucou, pescando de dentro da bolsa um estojo pequeno com maquiagens. ─ Mas acredito que qualquer garota ficaria bem... hum... é...

─ Encantada?

─ Aí, como você é teimosa! ─ Ralhou, mas estava rindo. ─ É. Ok. Você venceu. Acho que fiquei um pouquinho encantada por ele. Mas o que eu posso fazer? Ruggero é lindo e foi extremamente gentil comigo.

Pelo menos com alguém ele age como gente descente. Karol murmurou pra dentro e na mesma hora pediu perdão ao Pai por ter sido maldosa.

Então... ─ Karol se recostou ao balcão e tentou retomar o assunto sorrateiramente. ─ O que achou dele? Você deve ter sentido algo. Digo, quando ele agiu de modo gentil com você, sabe.

Mabel abanou a cabeça, ainda rindo.

─ Como está o seu braço, afinal? Parou de sangrar mesmo? ─ Desconversou, checando o braço da nova amiga e percebendo que tudo estava bem. ─ Ah, que ótimo. Só ficou um bocado vermelho e talvez fique roxo. Coloca um pouco de gelo quando chegar em casa.

─ Falou igual uma médica! Sabe, não fui muito a hospitais. Na verdade, não gosto de lá. Mas já estive em reuniões de... ─ de anjos, quando eu tinha asas e essas coisas. Pensou, mas não disse. ─ De... Bom, eu quis dizer que os médicos falam do mesmo jeito que você falou.

Mabel achou graça.

─ Meu pai é médico. Nos mudamos para cá porque ele conseguiu um cargo como diretor do hospital da cidade. Acho que acabei aprendendo algumas coisas bem básicas com ele, no fim das contas. ─ Encolheu os ombros sem parecer dar muito importância àquilo.

Karol prontamente notou uma nuvem de desconforto no olhar da colega.

─ Eu falei alguma coisa de errado? Você ficou um pouco...

─ Não. Eu só... Só estou achando que deveríamos sair, porque já, já começam as aulas.

─ Hum... Será que hoje tem aula de biologia? A minha dupla não quer ser minha dupla. Talvez...

─ Talvez o que, Karol? ─ Mabel pousou a mão na cintura e estreitou os olhos. ─ Não me diga que quer empurrar seu amigo furioso pra mim. Por favor, se ele não quer ser sua dupla, muito menos irá querer ser a minha. Sou horrível em biologia, juro.

Karol abriu um sorriso largo.

─ Eu quase posso jurar que ele não iria se opor!

─ Ah é, por que diz isso?

A Marca dos AnjosOnde histórias criam vida. Descubra agora