TRINTA E DOIS

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Ruggero girou a chavinha na fechadura do subsolo e a tranca deu um estalo, abrindo.

Ele sabia que sentiria falta de fazer uns bicos ali. O gerente havia sido gente boa quando ele mais precisou e aceitou de bom grado quando um colega o levou ali, oferecendo uma grata indicação.

Ruggero percebeu que apesar de tudo de ruim que a bebida tirou dele e do pai, ao menos lhe deu senso de responsabilidade. De outra maneira ele jamais teria tido a vontade de trabalhar e buscar melhorar.

Ao lado dele, Karol adentrava a boate, buscando encontrar naquele enorme salão a mesma euforia da outra vez em que esteve ali, contudo, não havia. Por estar vazio, a não ser pelos dois, aquele lugar era apenas um cômodo grande com muitas mesas e cadeiras, um teto alto com vigas expostas e um bar no canto, com uma prateleira que ocupava a parede inteira, abarrotada de bebidas variadas.

Quase sorriu ao se lembrar de como tudo mudou em poucas semanas.

Mas seu sorriso não chegou a aparecer porque a preocupação ainda apertava seu peito.

Ruggero prontamente percebeu o semblante mais fechado dela.

Ele deixou a chave sobre o balcão e segurou as mãos da garota, chamando a atenção de seus olhos esverdeados.

─ O que houve?

─ Estou pensando no meu irmão.

─ No estressadinho ou no Enzo?

Karol riu pelo nariz, achando graça do impasse de Ruggero com Agustín por causa da tenra discussão que tiveram no quarto de Pietro enquanto ela se debatia em frio e neuroses.

─ Preocupo-me com Agustín, mas neste momento os meus pensamentos estão voltados para o... Enzo.

Ruggero arqueou uma sobrancelha de leve.

─ Esse não é o nome dele, ?

─ Aqui na terra, sim. É esse. Mas se quer saber se foi assim que ele foi batizado, então não. Passa bem longe na verdade.

─ E como é? É parecido com o seu?

─ Não! ─ Abanou a cabeça, soltando-se das mãos dele para se sentar no banco alto do bar. Ruggero fez o mesmo. ─ Mas o nome dele tem um significado muito bonito também. Significa: O Senhor é meu segredo. E apesar de ser um anjo da morte, ele também foi batizado assim, pois é o guardião dos segredos supremos, ou seja, de nosso Pai. Foi ele quem... Escreveu o livro que ajudou Adão e Eva a reencontrarem o caminho correto após comerem a maçã proibida. Raziel os ajudou a achar a paz.

─ Então isso de maçã, pecado original... Isso tudo é verdade mesmo?

─ Bom, talvez as pessoas tenham colocado mais peso na história do que ela de fato tem, e provavelmente inventaram diversas colocações que não existiam, mas em resumo, sim. Mas os nossos irmãos, Adão e Eva, foram ajudados a encontrar a redenção e o perdão. E Raziel foi o primeiro a lhes estender a mão, sabia? Acho que desde o início dos tempos o meu irmão é um romântico incurável. Talvez seja ele quem tenha inventado o romantismo!

Ruggero riu, apesar de estupefato com tudo aquilo.

─ Então aquele menininho se chama Raziel e basicamente deu o pontapé na criação de toda a população do mundo?

─ Oh não! Ele não tem nada a ver com a fornicação.

E só de pensar nisso, Karol quis gargalhar.

─ Não. Calma. Estou falando no sentido de ele ter ajudado Adão e Eva. Ele foi tipo... Um cupido que manteve o casal unido?

─ Pode-se dizer que o meu irmão nunca abre mão do que ele acha certo. Ele é bastante firme e acredita até o fim no melhor lado das pessoas. Acredito que foi por isso que o meu Pai o colocou como anjo da morte. No fim de tudo, acho que as pessoas merecem ser buscadas por um anjo de coração tão puro. E eu sempre o vi cuidar de quem partia com uma devoção linda. Ele realmente ama de verdade.

A Marca dos AnjosOnde histórias criam vida. Descubra agora