SETE

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Faltavam poucas horas para o turno de Karol começar na lanchonete, mas ela não sentia que poderia trabalhar estando do jeito que estava. Seus nervos pareciam estar se esticando ao nível máximo, como se com um mero descuido pudessem rompê-los e levá-la a um estado de loucura que não seria capaz de retroceder.

A menina quase deixou um berro escapar quando Agustín bateu à porta de sua casa minúscula.

─ Que cara é essa? Parece que viu um fantasma, Karol. ─ O rapaz disse assim que entrou.

Ele imediatamente trancou a porta atrás de si e depois se virou para observá-la caminhar até uma cadeira e se sentar com os ombros curvados.

─ É uma longa história... ─ Ela suspirou exausta. ─ Por favor, diga-me que tem uma boa noticia. Por acaso conseguiu saber algo do Lionel? Estou aflita esperando por essa informação.

Agustín deixou o ar escapar pelos lábios e logo despencou no sofá de couro marrom.

A decoração da casinha era péssima e velha. O piso estava encardido pelos anos de uso e por nunca ter sido trocado, as luzes eram fracas e mesmo com as janelas abertas, ainda assim a iluminação era precária; no segundo cômodo onde ficava a mesa de jantar e a cozinha, pouco se podia dizer, afinal apenas um fogão descascado, um armário caindo aos pedaços e uma pia com defeito ornavam o ambiente limitado.

Os dois pequenos quartos não eram tão diferentes assim e o banheiro quase pedia socorro.

Mas era o que ela podia pagar, além do mais, Karol não entendia nada sobre luxos.

─ Não me disseram nada. ─ Agustín respondeu finalmente. ─ Aliás, nem tive cara de perguntar, justamente para não levantar suspeitas, mas estava óbvio que não diriam. Fiquei fazendo hora por lá para ver se fazia alguma amizade com as recepcionistas, mas não deu em nada.

Karol esfregou a testa e percebeu que uma dor de cabeça se aproximava.

─ E agora?

─ Sei lá. Quer dizer, se o meu notebook estivesse aqui eu até poderia entrar no sistema do hospital, mas deixei tudo em casa. Quando vim para cá ontem, não pensei que me meteria nesse merda toda.

─ E como conseguiria entrar no tal sistema?

Ele encolheu os ombros com um discreto desdém.

─ Faço isso há anos, Karol. Sou bom nessa coisa de invadir sistemas e adulterar coisas. Esse é o meu trabalho. Mas não posso fazer nada sem as minhas coisas aqui, então, sinto muito...

Karol balançou a cabeça com pesar.

─ Isso é uma desgraça das grandes! Não acredito que fiz aquilo...

─ Se ajuda em algo, eu resolvi mandar um bilhete anônimo para os pais do garoto. Você tinha me dito onde ele morava, então deixei por lá.

O corpo dela inclinou-se para frente automaticamente.

─ Você o quê?

─ A família tinha que saber, Karol. Eles precisavam tomar providências. Mas fica tranquila, eu não falei de você e nem de mim, lógico. Apenas... Apenas mostrei o caminho que precisavam seguir, mas se vão acreditar ou não o problema é só deles. Fiz a minha parte.

A menina esfregou o rosto e se recostou no estofado rasgado da cadeira velha.

─ Você está certo. São os pais dele. Eles tinham o direito de saber.

─ Claro.

─ Mas e agora? O que vamos fazer? Agustín, isso está indo tão longe.

O rapaz fechou os olhos por alguns segundos, sentindo-se subitamente exaurido.

A Marca dos AnjosOnde histórias criam vida. Descubra agora