─ Você não disse nada o caminho inteiro. ─ Mabel murmurou assim que Ruggero estacionou em frente a sua casa.
A menina desafivelou o cinto e olhou para o garoto ao seu lado, prestando atenção no modo como ele tencionava o maxilar, sempre com os olhos fixos no caminho adiante, sem olhá-la nos olhos como sempre fazia.
Isso fez seu coração se apertar como nunca antes.
─ Estou pensando.
─ Em quê? É algum problema com o seu pai?
Ruggero limpou a garganta e soltou o volante aos poucos, virando a cabeça sorrateiramente para fitar Mabel, porém, logo desviou o olhar de novo, concentrando-se na chave presa a ignição que balançava para lá e para cá.
─ Fazia muito tempo que as coisas não iam tão bem entre mim e o meu pai. O problema não é com ele.
─ Então isso é bom, não é? Eu nunca entendi muito bem o porquê de vocês terem saído daqui do centro da cidade e do seu pai estar fazendo shows em outros lugares... Porque até onde eu ouvi falar por ai, Bruno Pasquarelli é um astro.
Ruggero riu de canto e abanou a cabeça.
Ainda não havia entrado em detalhes sobre a sua verdadeira condição financeira com Mabel.
No fundo, ele sequer teve vontade de fazer isso.A menina sequer sabia onde ele morava de fato. Ele ainda não tinha tido a oportunidade de levá-la até sua casa.
E nem sabia se queria fazer isso.Mabel vinha de um mundo que ele já fez parte um dia, e sabia que ela poderia demorar a entender, assim como ele mesmo demorou.
Não era fácil engolir certas realidades.─ Eu já disse que o problema não é com o meu pai, e também não quero falar sobre ele.
─ Certo. Tudo bem. Eu sei que a relação de vocês é complicada, mas eu quero que saiba que pode confiar em mim. Eu mais do que ninguém compreendo como é divergir em praticamente tudo com o pai.
─ Obrigado pelo apoio, mas eu me viro bem com isso. Já aprendi a lidar com o Bruno e acho que tudo vai ficar bem. Ao menos é isso que parece. ─ Deu de ombros, batendo com o dedo indicador na chave para que ela continuasse balançando. ─ Só que... Eu estava pensando em outras coisas... Coisas que só eu posso resolver.
Novamente o peito de Mabel se apertou. Um gosto amargo ficou preso em sua garganta e ela quis se esquivar daquilo, fugir da sensação ruim que ia sufocando-a facilmente.
─ Ruggero, do que está falando? Porque está tão diferente? É pelo modo como eu te tratei após a aula de artes? Se for isso, me perdoa. De verdade. Eu não quis ser fria e impessoal contigo. Juro. ─ Nervosa, empurrou uma mecha do cabelo para trás da orelha e se curvou na direção dele buscando seu olhar. ─ É que eu sou insegura e... E a minha cabeça viaja muito às vezes. Mas eu não quero que pense que estou te cobrando algo. Eu só... Eu gosto de você. Gosto de verdade. Gosto mais do que deveria, provavelmente.
Mesmo que lutasse, Ruggero não conseguiria ficar imune àquilo.
Seu coração estremecido o fez se contorcer no banco, girando a cabeça para olhar para a bela garota sentada ali que o fitava com os olhos marejados cheios de expectativas que, no fundo, ele sabia que jamais poderia suprir.
E isso lhe doeu muito.
─ Eu também gosto de você...
─ Ah Ruggero... ─ Ela sorriu e estendeu as mãos para tocar-lhe o rosto, mas o garoto a deteve. ─ O que foi? Porque não me deixa te tocar?
─ Mabel, não me entenda errado...
─ Ruggero, o que você...
─ A gente precisa conversar. De verdade. Acho que eu...
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Marca dos Anjos
Romance*VENCEDOR DO THE WATTYS 2022* As regras são claras: Um ser imortal jamais deve se apaixonar por um humano. E mesmo consciente disto, Karol resolveu lutar bravamente pelo rapaz por quem se apaixonou há muitos anos. E, igualmente encantado, Hugo...