VINTE E DOIS

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Uma semana depois...

O inverno parecia quase prestes a dar uma trégua. Não chovia há dias, o vento estava menos gelado e até podia-se ver filetes de sol acariciando a pele dos habitantes de Porto de Pedras que abandonaram os casacos e optaram por roupas menos fechadas, aproveitando um pouco do calor que era tão raro por ali.

Na verdade, muitas coisas raras estavam acontecendo...

A primeira delas era que a famosa Cantina Vietto havia fechado as portas, após o sumiço repentino de Gastón. O rapaz, segundo comentavam, fugiu no meio da madrugada, deixando apenas uma carta misteriosa aos pais onde informava que teria que ir para resolver problemas, e que não almejava retornar tão cedo.

Num primeiro momento os Vietto ficaram abismados e procuraram Gastón, mas o rapaz parecia disposto a não ser encontrado.
Afinal, não havia um momento sequer em que ele não se lembrasse das ameaças de Agustín e de como estaria arruinado caso fuçassem por seus dados na internet.

Aliás, para que não restassem dúvidas, Agustín fez questão de mandar tudo para ele, mostrando que não estava brincando e que a partir daquele momento, Gastón não estava apenas com seu nome cadastrado em sites envolvidos com pedofilia, mas também completamente envolvido em um milhão de golpes online.

Não custaria nada até a polícia descobrir e ele ser preso; por isso obedeceu e fugiu.

Era um covarde de marca maior e não suportaria passar o resto dos dias atrás das grades.

─ Acha mesmo que ele foi embora? ─ Karol havia perguntado a Agustín quando soube da notícia.

O rapaz apenas se espreguiçou, esticando as costas contra o espaldar da cadeira na qual estava sentado.

─ Ele foi. O imbecil é tão burro que levou o celular. Eu consegui rastrear e os cartões de crédito também. O tal Gastón já deve estar chegando à Alemanha por essas horas. Mas pelo o que vi, ele comprou passagens também para a Holanda e depois para a Nigéria. Parece bem disposto a sumir do mapa.

─ Caramba...

─ Mas como eu sou muito desconfiado... ─ Agustín foi até a mesa e pegou o notebook, abriu a tampa e digitou algumas coisas, depois virou a tela na direção de Karol. ─ Dei um jeitinho de espiar através do sistema de segurança do último aeroporto em que ele usou o cartão de crédito. Admito que não foi fácil, mas burlar leis é a minha especialidade.

Karol estreitou os olhos ao aproximar-se da tela.

─ Esse é ele?

─ Exatamente! Viu como ele está se vestindo que nem um fugitivo? Mas é muito tapado mesmo.

A menina apertou os lábios, mas acabou rindo.

─ Que loucura!

Sim, uma tremenda loucura, mas que teve seu capítulo encerrado.

O que ainda viria a incomodar Karol bem no fundo de seu âmago era o que acontecia na escola, bem diante de seus olhos, dia após dia.

Ruggero e Mabel...

O rapaz havia cumprido o que falou sobre se afastar. Ele sequer lhe dirigia a palavra – apesar de que por mais que a menina ignorasse o fato, Ruggero sempre a observava de longe, muito atento; Contudo, não se aproximavam, nem mesmo quando Mabel ia conversar com ela nos intervalos das aulas e o chamava.

Ruggero sempre optava por ir ficar com os amigos até que Mabel voltasse para junto dele.

E Karol achou que isso ajudaria em seus planos, mas aquilo a magoava.

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