Karol quis declinar sutilmente, levantar-se e ir embora sem olhar para trás, sem se importar com a missão que tinha e, mais importante, ignorando fortemente o arrebatamento que a vestiu dos pés a cabeça, traçando linhas sinuosas por sua corrente sanguínea, desembocando como um soco certeiro no coração. Era uma clara sinalização de que, por mais que quisesse, não ficaria imune.
O encostar de lábios foi tão sutil quanto o repousar das penas de suas asas ao cair no chão. O toque da boca dele era delicado, quente e lhe deu a sensação de que o mundo viria a baixo.
Por um segundo Karol apenas cedeu, inerte, sem nem respirar; contudo, uma de suas mãos se firmou no chão, em cima do carpete empoeirado, só para ter a certeza de que universo não estava se desintegrando, pois tamanha era a vibração que a fazia tremer completamente, especialmente quando Ruggero mergulhou as mãos em seus cabelos, trazendo-a para ainda mais perto, abrindo um singelo caminho por entre seus lábios para que suas línguas pudessem se sentir.
O garoto, por sua parte, não esperava que pudesse reagir assim. Não ela. Não. Ele mesmo. O próprio rapaz.
Afinal, sabia intimamente, jamais perdeu as estribeiras por uma mera desconhecida. Nunca quis tanto beijar alguém como queria beijá-la; e em momento algum de sua vida foi tão violentamente atraído por uma boca.Ela falava, segundos antes, e ele quase salivava, atento até a respiração dela.
Ruggero sabia que havia dentro de sua cabeça uma confusão danada e mil e uma perguntas para fazer; porém, não era capaz de racionalizar enquanto os músculos de seu corpo inteiro trabalhavam para uma única função: beijá-la.
Já Karol, recobrando os sentidos entorpecidos pelo contato, empurrou o próprio tronco para trás. Ou melhor, ela quis fazer isso.
De certo modo, por mais que desejasse negar e trazer à tona toda sua indignação por estar fazendo algo muito errado, ela se pegou entregando-se aos poucos, esmorecendo nos braços dele, levando suas próprias mãos até o rosto de Ruggero, acariciando a pele morna dele, raspando a palma na barba por fazer que pinicava sutilmente, causando cócegas.─ O que foi? ─ Ruggero sussurrou com os lábios ainda rentes ao dela. Ele a sentiu estremecer contra seu corpo. ─ Você quer que eu pare?
Karol respirou pausadamente, encontrando por uma fresta entre os cílios o olhar do rapaz.
─ Só estou... Nervosa.
Ruggero riu, dando-lhe um delicado beijo, depois se afastou, mas bem pouquinho.
─ Beijo tão mal assim?
Isso a fez rir, mesmo que parecesse um riso de desespero.
─ Não tive muitos beijos na minha existência.
─ No entanto... ─ Curvando-se, Ruggero a beijou de novo e de novo, por fim, afastando-se, disse: ─ Beija muito bem. Acho que nunca...
Nunca beijou um anjo. Karol pensou, rindo pra si mesma.
─ Talvez seja a hora de voltarmos. ─ Murmurou ela, lutando contra sua própria vontade.
Ruggero, no entanto, segurou-lhe a face cor de marfim, mas que estava completamente corada.
A sorte dela era que ele não conseguia perceber, por causa da baixa iluminação.
─ Obrigado.
─ Obrigado?
─ Por estar aqui. Por ter vindo comigo e, claro, por ter me salvado. Isso eu nunca poderei te pagar.
Karol, atrevendo-se a não ouvir todos os ensinamentos pelos quais já havia passado, ergueu a mão lentamente, passando a ponta dos dedos pela lateral do rosto dele. Ruggero fechou os olhos e sentiu, sem relutância alguma, como o toque dela era frágil, quase imperceptível a menos que pusesse toda a sua atenção ali.
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A Marca dos Anjos
Romance*VENCEDOR DO THE WATTYS 2022* As regras são claras: Um ser imortal jamais deve se apaixonar por um humano. E mesmo consciente disto, Karol resolveu lutar bravamente pelo rapaz por quem se apaixonou há muitos anos. E, igualmente encantado, Hugo...