Sob a luz acinzentada que rodeava a cidade a pele de Ruggero quase parecia pálida o suficiente para que Karol pensasse que ele fugiu do hospital, afinal não fazia tanto sentido assim que alguém com uma feição tão abatida pudesse estar fora de um leito; contudo, o que a menina não sabia era que o que atormentava o rapaz não era uma fraqueza ou o ferimento de vários centímetros em sua nuca, mas sim a confusão danada que se formava em sua cabeça.
Ele não queria se sentir maluco, já bastava os desenhos que fazia mesmo sem se dar conta. Odiava que uma parte de sua mente estivesse fora de controle desde o acidente.
E não aceitava que mais uma vez tudo fosse fruto de sua imaginação.
─ Eu não entendi, Ruggero.
O menino bufou, contrariado.
─ Ontem. Ontem você estava lá no hospital, não estava?
Uma risada engasgada escapou de Karol e ela prontamente tratou de tossir para encobri-la.
─ Eu? Em um hospital? Mas como? Isso não seria possível.
─ Qualé, você não vai mentir, vai? Eu escutei a sua voz. Quer dizer... Você estava lá.
─ Eu estava? Você tem certeza disso?
Era justamente essa pergunta que ele vinha se fazendo.
─ Por favor... ─ Suplicou aproximando-se mais ainda dela. ─ Você estava lá. Estava ao lado da minha cama, cantando... Eu ouvi. Eu senti.
Os olhos levemente arregalados do pequeno anjo desceram até a própria mão que ainda estava perfeitamente encaixada a dele, então, num ato de puro impulso, recolheu o braço, afastando-se.
─ Eu sinto muito, mas você está completamente enganado.
Ruggero riu, mas sem humor algum.
─ Porque está fazendo isso? Não tem problema você ter ido lá, afinal você me salvou, não é? E não negue, porque já me contaram.
─ Eu faria isso por qualquer pessoa.
─ Foda-se! ─ Guinchou ele, acabando com a distância que ela havia aberto entre eles. ─ Você fez por mim. Por mim! E é isso o que me importa agora. Então, pela última vez, admite que você foi até aquele quarto, que cantou a música que eu mais amo no mundo e que... E que eu não estou maluco.
Karol puxou todo o ar que conseguiu, mas seus pulmões entraram em choque, debatendo-se furiosamente até que a menina entalou e precisou pigarrear, muito embora não conseguisse de forma alguma tirar os olhos dos olhos dele.
Ruggero não estava maluco, nunca esteve, e ela sabia disso.
Mas tampouco ele estava pronto para entender tudo o que estava por trás das coisas que estavam acontecendo.
E por mais que ela desejasse confortá-lo, afinal esse era seu papel na vida dele, ainda assim, não podia.Nunca poderia.
─ Você provavelmente sonhou. ─ Foi a resposta dela, descendo os olhos até a boca dele que se contorceu levemente. Karol engoliu em seco e prosseguiu, tomando distância de novo: ─ Fui ao shopping com o Pietro ontem e só voltei tarde da noite. E se acha que estou mentindo, pode perguntar a ele. Acho que você sabe de quem estou falando, porque ele é bem famoso aqui na escola, principalmente pela Gucci.
Ruggero abanou a cabeça com afinco.
─ Isso é mentira! Eu só não entendo porque está mentindo. Qual o problema em admitir isso? Não foi só você que foi ao hospital, outras pessoas foram. Eu não vou zoar você ter ido até lá ou coisa do tipo. Eu só...
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A Marca dos Anjos
Romance*VENCEDOR DO THE WATTYS 2022* As regras são claras: Um ser imortal jamais deve se apaixonar por um humano. E mesmo consciente disto, Karol resolveu lutar bravamente pelo rapaz por quem se apaixonou há muitos anos. E, igualmente encantado, Hugo...