Já era o começo da noite quando Ruggero saiu do banho. Ele havia perdido a noção do tempo, permanecendo sentado no piso, embaixo do chuveiro, todo vestido ainda, com a água morna escorrendo pelo corpo todo, até desaparecer ralo adentro.
Não soube muito bem como processar os últimos acontecimentos, mas havia decidido com todas as forças que não permitiria que a loucura o alcançasse. Já bastava que toda a sua vida tivesse virado do avesso após a morte da mãe e falência do pai.
Estava exausto de se entregar às desgraças, sempre fingindo e ao mesmo tempo fugindo.
Em uma prece silenciosa ele pediu o auxílio da mãe, rogando com todas as forças que tinha para que lhe guiasse, que continuasse ao seu lado, para que jamais caísse na mesma teia de problemas do pai.
Só queria não se sentir sozinho e perdido, e sabia que Antonella jamais permitiria isso.Voltar a ser o adolescente de antes era sua meta a partir daquele momento.
Empurraria para longe o inferno que vivia dentro de sua cabeça e colocaria fogo no caderno dos desenhos, só assim se livraria da maldição que o perseguia desde o acidente.
Um acidente que era culpa do alcoolismo de Bruno e que o garoto nunca perdoaria.
Antes disso, tudo ia bem. Já depois... O depois Ruggero nem queria pensar mais.
Não se renderia. Não seria o menino perturbado.
Karol teve medo de mim... E assim como ela, os outros logo terão também. Não posso continuar assim. Não posso dar ouvidos a essa escuridão que tenta o tempo todo me persuadir a agir como um esquisito.
Preciso silenciar essa voz assombrosa que ri da minha desgraça, que me faz caminhar pelos lugares mais sombrios da minha mente.
Isso não é normal. E eu tenho que ser mais forte.
Não posso ser taxado de louco. Não posso perder mais ninguém por isso.
─ Ruggero?
O garoto se sobressaltou ao ouvir a voz do pai, sequer tinha percebido que ele havia aberto a porta e que estava apoiado no batente, encarando-o.
─ Oi? O que foi?
Bruno maneou a cabeça.
─ Só queria saber como você estava. Já fiquei sabendo do que aconteceu com o Lionel e sinto muito. Sei como eram amigos.
Ruggero pegou uma camisa cinza e a vestiu, depois esfregou os cabelos úmidos com a toalha, atirando-a em cima da cama em seguida.
A calça que usava pendia da cintura um pouco folgada, por isso ele precisou caçar um cinto em meio a bagunça de lençóis e roupas sujas espalhadas ao redor da cama.Tinha que arrumar aquilo, mas sempre tinha preguiça.
─ Lamentar não o trará de volta. E eu vou ficar bem. ─ Murmurou, agachando-se para revirar os tecidos bagunçados.
Bruno passou as mãos pelos cabelos e assentiu pra si mesmo.
─ E a sua cabeça? Se quiser eu posso refazer o curativo.
─ Eu me viro. Só preciso saber se ainda tem esparadrapo ai.
─ Tem no outro banheiro. Quer que eu busque? Também comprei algodão e os remédios de inflamação que o médico receitou.
Ruggero girou a cabeça, encarando o pai por cima do ombro.
─ Com que dinheiro você comprou?
─ Isso não importa.
─ É claro que importa. Diz logo.
Bruno bufou, agarrando a maçaneta para se distrair, girando-a devagar.
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A Marca dos Anjos
Romansa*VENCEDOR DO THE WATTYS 2022* As regras são claras: Um ser imortal jamais deve se apaixonar por um humano. E mesmo consciente disto, Karol resolveu lutar bravamente pelo rapaz por quem se apaixonou há muitos anos. E, igualmente encantado, Hugo...