CINQUENTA E CINCO

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Meses Depois...

Karol

É a primeira vez em muito tempo que vejo Porto de Pedras em um dia de sol.

Não é um sol extravagante e tal, mas há um calorzinho pairando no ar, raios solares cruzando as nuvens e se derramando sobre todos, permitindo que parem de usar só roupas pesadas de frio.

Parece até outro lugar.

E isso talvez tenha a ver com as loucuras que aconteceram aqui nos últimos meses.

Primeiramente: todo mundo ficou horrorizado com a destruição da igreja velha. Foi um caos total. As pessoas não compreendiam como aquela construção ruiu de uma hora para outra.

Uns culpavam a forte tempestade daquele dia, já outros acreditavam que tinha relação com algo divino ou infernal.
Não chegavam a um consenso.

O fato foi que quatro corpos foram encontrados naquele lugar.

Três rapazes – dois deles nunca vistos – e uma moça.

A cidade inteira entrou em colapso com essas mortes. E para completar, dois garotos haviam chegado feridos no hospital; um com um corte profundo no pescoço, e o outro, na nuca.

Eles não souberam explicar direito, disseram apenas que foram atacados.

O pessoal começou a pensar que um assassino corria solto pelas ruas molhadas da cidade.

Admito que achei bom que cogitassem um assassino ao invés de algo sobrenatural. A última coisa da qual precisávamos era de uma seita de mortais brincando de invocar seres de outro mundo para provar suas teorias.

Chegou até a ser um pouco engraçado aquela baderna toda.

Pois além disso tudo, ainda tinha o escândalo da prisão do grande Oswaldo García. E cada vez que investigavam, mais sujeiras o envolvendo encontravam. Parecia um lamaçal infinito de crimes.

Já sua esposa, determinada a fazer justiça, prosseguia firme contra ele nos tribunais; paralelo a isso, Andrea agora se dedicava a construir um centro para jovens viciados em qualquer tipo de substância nociva. Ela queria ajudar o máximo de garotas e garotos que pudesse, pois via nos olhos deles um pedaço de sua Mabel.

Lá no céu, a minha amiga se orgulhou muito da mãe e logo poderia vir ajudá-la, dando alento espiritual para quem entrasse no centro.

Depois, com o passar dos dias, as coisas foram se ajeitando aos poucos.

Mas Porto de Pedras nunca mais foi a mesma. Em um único dia, praticamente, muitas coisas estranhas haviam acontecido.
Primeiro a escola foi parcialmente destruída, depois Mabel havia se suicidado, em seguida o escândalo envolvendo o pai dela, por fim, a igreja totalmente detonada após uma tempestade avassaladora que cortou a luz da cidade inteira, deixando todos os moradores apavorados diante dos raios e trovões, além de relâmpagos assustadores.

E ainda tinha Pietro e Agustín feridos...

Acredito que isso gerou um trauma tamanho para todos.

Contudo, eles foram solícitos. Fizeram um funeral para mim, Ruggero, para o corpo do Muriel e do Raziel; e, claro, para Mabel.

Foi uma comoção geral. Por um momento até se esqueceram do sumiço tão repentino da psicóloga da escola – que nunca mais fora vista.

Mas deixando tudo isso de lado...

A nossa vida lá em cima também evoluiu muito nos últimos meses.

Para começo de conversa, o meu namorado passou por um treinamento intenso!

A Marca dos AnjosOnde histórias criam vida. Descubra agora