QUARENTA E UM

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O IML levou o corpo de Bruno e a polícia colheu o depoimento de Ruggero. Quer dizer, as poucas coisas que o rapaz conseguiu balbuciar enquanto se negava a deixar levarem o pai.

Todos sabiam que a polícia não faria nada contra Otávio Lombardo. A morte de Bruno seria em vão. Seria só mais uma para a conta de tantos outros que esse agiota já havia assassinado.

E mesmo sabendo que Ruggero não conseguia pensar com clareza, Karol o implorou que buscasse ficar calmo, porque por mais que quisesse mudar as coisas, já não conseguiria. E o garoto até entendia que aquele havia sido o destino que Bruno escolheu, no entanto era difícil não se lembrar das últimas palavras que disse ao pai e como desejou que ele morresse.

Ruggero experimentava uma culpa horrorosa e amarga.

Depois, com muito custo e com a ajuda de Pietro e do motorista, Karol conseguiu convencer Ruggero a sair dali. A perícia ainda queria vistoriar a casa, além do mais, nada do que havia ali serviria para alguma coisa.

Levaram Ruggero para a casa de Karol e lá ela, o namorado e Pietro ficaram com Agustín e Raziel que assim que souberam do ocorrido, mal conseguiram reagir, pois nunca tinham visto Ruggero tão destruído quanto naquele momento.

Pietro deixou os amigos por um momento e ligou para o pai, pedindo que ele cuidasse de tudo para o velório e enterro de Bruno. Diferentes das outras pessoas da cidade que muito se importavam com as aparências, os Hernandez não estavam nem aí para as conveniências, além do mais sabiam da amizade do filho com Ruggero e como isso lhe fazia bem, por isso o pai de Pietro garantiu que cuidaria de tudo e que o garoto ficasse com Ruggero o tempo que ele precisasse.

Por fim, Pietro voltou avisando que tudo seria resolvido.

─ Meu pai vai conseguir que o coloquem no jazigo da nossa família, ? ─ Disse à Ruggero. ─ Quando tudo estiver certo na igreja do centro da cidade, vão me ligar sobre o velório.

─ Não. ─ Ruggero murmurou sentado ao sofá, com os olhos perdidos e vazios. ─ Ninguém irá ao velório e se forem vão ficar comentando coisas feias sobre ele. Então eu prefiro que assim que sair do IML, que o levem diretamente para o cemitério. É melhor deixá-lo descansar...

Todos se entreolharam, mas Karol abanou a cabeça pedindo que Pietro concordasse.

─ Tudo bem, Rugge. ─ O garoto disse. ─ Vou falar com o meu pai para levarem o corpo do Bruno até a funerária e depois para o cemitério. Melhor assim?

Ruggero só maneou a cabeça e esboçou um agradecimento rouco.

─ Eu sinto muito, cara. ─ Agustín falou, sentando-se ao lado do namorado no outro sofá. ─ Sei que a sua relação com o seu pai era turbulenta, mas ainda assim, era o seu velho, né? E talvez nós dois tenhamos alguns impasses, mas eu estou aqui. Se precisar de uma família, você tem.

Karol sorriu para Agustín, orgulhosa dele. Já Pietro o abraço e lhe deu um beijo rápido no canto da boca, aninhando-se nos braços do amado.

Raziel por sua vez se aproximou de Ruggero, buscando seu olhar.

─ Precisa saber que a morte não é o fim. ─ O pequeno disse. ─ Um dos nossos irmãos veio buscá-lo, o acalmou e agora o está levando para um processo muito intenso de despedida daqui para que possa percorrer outro caminho. Portanto, não fique assim. Quem quer que tenha vindo ajudá-lo, é exatamente como a Karol e eu. E sendo assim, tudo ficará bem.

─ O Ziel tem razão, meu amor. ─ Karol endossou, com os braços jogados por sobre os ombros dele, aquecendo-o com o seu carinho. ─ Nossos irmãos são preparados para isso e eles o fazem com muito afeto e cuidado. E sabendo de toda a nossa história, sem dúvida vão cuidar ainda mais do Bruno.

A Marca dos AnjosOnde histórias criam vida. Descubra agora